Pós-zumbis 4ª Temporada (8)


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            E como água os dias vão. “Como água” é um modo impreciso de definição. Como uma cascata. Os dias passam, a campanha prossegue. Após aquele descuido relacionado à tevê, na qual Fronrel teve uma leve brecha para acompanhar fatos do mundo exterior, só ocorreu semelhante caso uma única vez. Foi por volta do mês quarto da campanha, no rádio, desta vez. No qual teve um ligeiro trecho de uma notícia sobre uma revolta que estourara no centro da cidade; não soube o que reivindicavam ou contra o que lutavam, mas ficou satisfeito. As pessoas pareciam estar despertando.
                E sim, o leitor não leu errado. Passaram-se exatos quatro meses desde o início da campanha. E agora pularemos mais dois. E alguns podem dizer “nossa, mas o narrador está omitindo muito, está cortando muitos trechos da história”. E sim, talvez eu esteja, mas digo-lhes, faço unicamente pensado em vocês, leitores. O que se deu nestes seis meses foi uma sucessão de mais do mesmo em todos os aspectos. Nada além da já conhecida rotina de Fronrel: Estúdio, cela, revisão dos discursos, expectativas e, vez ou outra, algum chamado para um ligeiro interrogatório com o Juiz... nada além, nada que valha prestação de contas minuciosa.
                Enfim, basta dizer que ainda voltaremos no passado uma única vez, afinal, creio que todos querem saber o que sucedeu ao outro núcleo da história: R., Camaleão, Albinati e Linda. Mas não o faremos agora

Smoke underwater - 1


     Sente o vento da tarde batendo em suas costas enquanto fica debruçado sobre o poço observando seus pensamentos refletidos naquela água estática e de profundidade infinita ao seus olhos quando de repente avista o sol refletido naquela superfície fluida. Mas está nublado. Fumaça surge do sol. Sua pele agora queimada, devido ter subestimado o poder da estrela num dia de muitas nuvens agora clama por refresco. Fumaça sob a água. Resolve verificar, descendo o poço, como Alice adentrando a toca do coelho, mas desastrosamente escorrega e chega ao seu destino através de uma queda.
     Splash!
     A água de forma vívida se afasta do epicentro dando forma a um circulo perfeito e depois se volta inteiramente contra esse mesmo ponto fazendo saltar uma única gota de ressalva para cima. Essa gota então mergulha atrás de quem causou tamanha pertubação inicial, mas subitamente entra nas guelras de um peixe-espada.
     !hsalpS
     Uma forte luz se emana do fundo, entretanto quanto mais perto se chega mais fraca se torna. Apenas um cavalo marinho ao lado de uma fogueira; mas não um cavalo-marinho de barbatanas e com aparência de um mini-dragão e sim um grande equino com guelras...

     — O que faz aqui? — questiona o quadrupede aparentando espanto.
     — Conheço você? — disse o pobre humano que se assustara ao ouvir o animal falar e posteriormente ao ouvir sua própria voz embaixo d`água, mas que resolve se preocupar com isso mais tarde.
     — E importa? Você já está grandinho demais para voltar ao fabuloso mundo das fábulas. Você não é mais um fabulista! Se retire imediatamente daqui. Seu tempo já passou. Se não aproveitou sua infância direito a culpa não é minha se preferiu ficar de frente a uma televisão. Saia e nunca mais volte! Os portões estão selados para você.
     — Oi? Mas... mas... O que está acontecendo aqui? Estou sonhando? Devo de fato estar. Como seria possível fogo debaixo da água ou um cavalo falando ou mesmo eu respirando submerso?
     — É exatamente por isso que você não é mais bem vindo aqui. Por que não posso acender minha própria fogueira? Não é por falta de oxigênio, pois se não os peixes não respirariam; Combustível temos de sobra, pois muitos navios já naufragaram por aqui, sem falar do petróleo; E como pode ver, há muitas pedras que possamos atritar , mas tudo agora é motivo para questionamentos e contestações e regras e... já basta. Não deveria sequer trocar uma palavra com você. Você já foi corrompido e cada pessoa só ganha uma bola dourada na vid-.

     Sentiu apenas um beliscão no braço e um forte impacto na nuca e desmaiou, só acordando depois sabe-se lá quando numa praia, como um naufrago e desmaiou novamente. Acordou novamente em cima de uma árvore, mas desta vez era um local conhecido, era a árvore que fazia sombra no poço ao começo de cada manhã, e ao acordar quase que despenca, mas se segurou firmemente no galho.
     Seu pescoço ainda doí, mas muito mais que confuso, está cansado e resolve ir dormir, afinal tem uma festa para ir a noite. Caminha lentamente até sua casa ignorando tudo, futuro, passado e presente. Apaga. Luz acesa. Sem sonhos. Um despertador. Nenhuma pilha.15.16.17.18.19.19:30. Alô?
     O celular tocara mas era engano. Que sorte! Queria acordar exatamente as sete e meia para começar a se arrumar. Levanta. Alonga. Toalha. Banheiro. Chuveiro. Toalha. Escova de dentes. Barbeador. Guarda-roupa. Aslan? Roupa. Perfume. Chaves. Vamos nessa.
     Adoro churrasco.


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    Bem gente, hoje tem reunião na biblioteca, mas não poderei ir por causa do vestibular da federal e como o tema é/era contos brasileiros, acho que acabei empolgando.
    Meu conto já é pequeno, mas vou ter que dividí-lo em duas partes, porque estou cansado demais para finalizá-lo, devido a primeira parte do vestibular que tive que fazer ontem (domingo). Minhas desculpas.
    Gostei de reviver a experiência de trabalhar elementos simbólicos. A muito não mexia com isso... :)
    Bem, me desejem sorte com minha redação amanhã e com as provas de física e matemática (estarei batalhando das 13h ~ 18h).
    Abraço a todos e até semana que vem.

Holofotes. Parcialidade


                 Nossa querida Xuxa se mostrou diferente do habitual em sua última entrevista. Sem crianças ao redor e com uma voz menos melosa (mas ainda sim chatinha). Falou de abusos que sofreu durante a infância, em vários momentos e com diferentes pessoas. Falou também de seus relacionamentos e de sua dificuldade em arranjar um parceiro. Well, vamos chafurdar um pouco mais fundo nesta matéria que o Leviatã da televisão (a Globo) nos serviu.
                É curioso, em primeiro lugar, que estes diversos assédios nunca tenham vindo à tona. É também ligeiramente curioso, e agora meu lado conspiratório emerge, que tenham vindo em uma matéria “ultraespecial” e “ultradivulgada” na Globo em um período com complicações políticas tão grandes, como o novo código florestal, escândalos da operação Monte Carlo e algumas novas descobertas relacionadas ao “Mensalão” de 2005. Vale lembrar: uma EXCLUSIVA cedida pela apresentadora. Parece-me conveniente esta repentina guinada nos holofotes. Mas como eu disse, são apenas devaneios conspiratórios.
                Também não é curioso que ela, tendo sido abusada enquanto criança e dizendo-se perturbada por tal ocorrido, tenha gravado um filme erótico (não pornô, faço a ressalva em prol da confusão de muitos) em que aparece em cenas libidinosas, para não dizer sexuais, com uma criança? Algo que, naturalmente, não foi citado em momento algum na entrevista. Também é curioso que ela dê tamanho alarde para o fato de ter sido abusada e depois diga: “mas não me lembro muito bem”. Ela pode até não se lembrar tanto, isso ocorre com alguns tipos de trauma, mas então qual a razão para tal alarde? Justiça ela não clama, e muito provavelmente a sua declaração não vai interferir nos números de ocorrências deste tipo de crime. Portanto, porque querer os holofotes voltados para si?
                Outra ponto no mínimo controverso da entrevista foi a declaração do pedido de casamento do Michael Jackson. Não duvido que o fato tenha ocorrido, pode até ser verdade. Já correram declarações de que o Michael, em certa época, procurava uma mulher branca, loura e de olhos claros para ter filhos; mas novamente é a declaração da Xuxa que trás à superfície a parcialidade da entrevista: “Obviamente minha resposta foi não. Eu fico com a pessoa que eu me apaixono, né”. E, tendo citado os relacionamentos que teve com Pelé e Senna, porque então não citou seu relacionamento com Luciano Szafir? Que é, inclusive, o pai da filha dela? Vai saber.
                Enfim, só queria expor determinados pontos que são, no mínimo, estranhos. O alarde que o “show da vida” aprontou para a divulgação da entrevista mostra pelo menos dois posicionamentos: Ou estão querendo desviar a atenção de algo trazendo os holofotes para uma entrevista apelativa, ou estão desesperados por audiência (que de fato vem caído muito, o Fantástico, neste mês, em alguns Domingos chegou a ficar em quarto lugar na audiência, o que para um programa tão tradicional é um pouco desconfortável).
                Devemos tomar cuidado com bombas soltas assim.
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Ps: A "pornoxanchada" que tem a cena sexual entre a xuxa e uma criança chama-se "Amor, estranho amor". A apresentadora conseguiu que a distribuição do filme fosse proibida, de modo que hoje só é possível encontrá-lo na internet (ou algúm beco muito obscuro).
PPs: Semana que vem tem dobradinha de Pós-zumbis (quarta e quinta), sendo na Quinta o texto final da série.

Enfim


Isso! Ela me encanta, não tem volta.
Ela me lança os olhos da verdade;
Atira as mãos do infinito cuidado,
Os lábios do repouso que conforta.
Colo quente e macio pra dormir,
Sua pele toda que lembra a aurora,
Dá-me os sossegos e a extrema unção:
Posso morrer sem que me lembrem.

Não! Ela é bem mais que essas pós-históricas
Letras forjadas que calham de ser.
Mais do que o papel até, ou a árvore,
Ou as florestas tropicais e mortas.
Mais do que os continentes à deriva
Ou os oceanos fundos e escuros.
É mais do que a mente pode entender
É um mundo que orbita aqui em mim.

Hoje! Meu dia de querê-la é hoje.
Mas nem o contorno da opaca sombra
É do meu mais-que-querer de amanhã.
É algo que cresce, e arrebenta e cresce.
Porque não cansa e só enche de ânsias,
Que nem aquela que grita aqui dentro:
Quero cuidar, repousar no conforto
Do colo e dos lábios do meu amor.

*postado por Marco

Anulando os corruptos

Udgrade: 08/10/2012

     Após uma pesquisa mais aprofundada, após achar uma informação divergente daquela que aqui apresentei, preferi suspender o texto que aqui situava, por hora.
     Antigamente aqui dizia praticamente o seguinte: Em eleições cujos índices de votos nulos alcança 50%, ou superior, as eleições são suspensas e adiadas até organizar novos candidatos para substituir os anteriores, para então fazer uma nova eleição.
     Acreditei fortemente nessa afirmação, pois nunca tinha visto informação oposta e tanto porque ví essa várias vezes por diversas fontes diferentes.
     De todos os lugares que pesquisei e que é mais direto e claro em relação a divergência é: http://gambiarte.blogspot.com.br/2008/10/diferenca-voto-branco-nulo.html
     Mas não me contentarei somente com isto! Estou procurando na Legislação algo que sustente mais concretamente algumas das duas. Por enquanto fico com a do link que postei acima.


A irmã mais ruiva de Conrado também era a mais triste



Certa vez a tristeza fez toc toc na porta do quarto da irmã mais ruiva de Conrado e entrou sem esperar que fosse aberta, sem tirar o chapéu ou erguer a barra da saia também, já que os mais íntimos nunca tiveram a formalidade da saudação.
Entrou, precisou de um momento pros seus olhos se adequarem às trevas do quarto, que existia não só porque carecia de luz, mas também porque aquela era a cor do ar que saía da respiração da irmã mais ruiva de Conrado. Ela, miúda, com um monte de dor dentro de seu corpo de panela de pressão prestes a estourar, deitava no chão. E esperava. E esperava. Quando o toc toc veio, baixou-lhe um peso nas pálpebras e, ora, se não eram duas folhas por onde escorria o pingo orvalhado de uma lágrima solitária! Nem era uma manhã de noite com sereno, nem era campo. Era uma cidade sem espaço pra capim, tiririca e fedegosos; tão quente que nas estantes dos eruditos derramavam-se cascatas da tinta derretida das páginas dos livros.     
Conrado já não existia, e por isso convidava a tristeza, quando ouviu o mar pela primeira vez. Ouviu o rebentar das ondas como se usasse conchas invisíveis ao invés de fones de ouvido. O paradoxo era senão o fato de estarmos todos no meio do cerrado, cercados de sol e privados de mar. Mas ouvia. Vinha de além das janelas, além daquele labirinto de prédios.
No dia seguinte, na horinha da noite em que até os grilos dormem e o silêncio se cheira, se vê e se toca, ela enganou a tristeza sem dó: trancou o quarto, pôs a chave no fundo da barriga, logo atrás do umbigo, e zarpou para o parapeito da janela. O parapeito da janela era um quadriculado que ficava bem longe do chão, no sétimo andar de um prédio vermelho. O que é o que é: um pontinho preto num prédio vermelho? Ah, é apenas o sinal da respiração preta da irmã mais ruiva de Conrado. O negrume, um tom acima do petróleo, um tom acima do cu do universo, estava na parede externa do edifício, expandindo em veias negras para os quatro lados do quadriculado que era a janela por onde você e eu vemos agora a irmã mais ruiva de Conrado saltar.
Saltou não para a morte: mesmo desejando-a absurdamente ainda queria ver o mar. Saltou para o galho da sete-copas cheio de morcegos. O galho rangeu sob os pés descalços da menina que vestia nada além da calcinha, pronta para um banho de mar noturno. De passo em passo, sobre os musgos do galho, o sangue sendo chupado de seu pé pelos morcegos que ali trocavam o dia pela noite, cruzou a sete-copas, que terminava no telhado da casa de ópera, e lá foi parar.
Passava-se uma ópera na casa de ópera. Uma colombina com voz aguda prolongava um “o” e o pianista teclava uma canção linda, daquelas que evocam a peça nostálgica de nosso inventário de sentimentos. A colombina só acabou de prolongar este “o” quando a menina já estava pisando sobre o teto de um ônibus parado; o ônibus andou. E o som da casa de ópera se distanciava para tornar a dar lugar ao som do mar.
No prédio vermelho, sétimo andar, chegava a tristeza e percebeu que dentre todas as tranças ruivas que inundavam de vermelho o prédio inteiro, a mais ruiva irmã de Conrado não estava ali. Seu quarto trancado, porém, revelava um rastro de ar preto que não se diluía como fazem as fumaças, ficava dobrando-se em grotescos arabescos na atmosfera como só faz uma coisa no mundo inteiro e nós sabemos quem é. E a tristeza sabia também.
Pois abriu seu guarda-chuva de bolso e pulou da varanda, meio embaraçada nos fios de cabelo vermelhos que também pendiam dali. Seguiu o vestígio negro e achou-a brincando de corda-bamba num fio de alta tensão, o caminho do mar.
Quando viu a tristeza com movimento de pluma caindo do céu, um guarda-chuva aberto numa mão e uma flor na outra, também viu o lumiar do mar projetado nas colunas dos prédios que estavam em sua frente. O barulho fazia vibrar seus cabelos e o fio por onde se equilibrava, mas ninguém mais o ouvia, ninguém jamais poderia. De repente, num tranco, a tristeza se achegou no meio de seu caminho e ofereceu-lhe a fedida flor da morte, prometendo que nunca mais voltaria a lhe visitar.
A irmã mais ruiva de Conrado olhou a flor, olhou os reflexos do mar. Sim, estava quase no mar! Uma brisa salgada saía do vão daqueles prédios, onde bem atrás toda a extensão de um mundo completamente azul e completamente molhado a receberia para um banho. As ondas rebentavam-se com mais força agora, o barulho era insuportável; o cheiro da areia fritada de sol, ainda que noite, era enjoativo, agradável, bom, ruim. E entre o mar e si mesma, no fio que os ligava, havia uma flor como ingresso. Simples.
Simples como chegou até ali, decidiu e deu um passo. A que direção? À flor ou a casa? Rodou seu senso de direção na rosa dos ventos que guardava na barriga junto com a chave do quarto, bem atrás do umbigo, e apontou a seta do vetor para o prédio vermelho e preto, sua casa.
Com a tristeza ao lado, voltou todo o caminho de ré porque de dó era uma nota que não saía.

Dilema do raciocínio dual

    A nossa tendência ao extrapolamento racional nos faz querer alocar tudo em uma perspectiva sistemática. Algo como uma equação algébrica. Talvez, e falo sem nenhum embasamento científico, desta perspectiva tenha surgido a nossa tendência a classificar o todo na perspectiva dual, principalmente se a divergência sobre algum assunto se concentre em duas opiniões antagônicas. As opiniões minoritárias não são sequer marginalizadas, antes fossem e que ficassem em paz, mas daí vem o terrível erro de enquadrá-las em uma das duas posições majoritárias. Fui claro? Não sei.
    Bem, por exemplo: É capitalista? Defende a propriedade privada? É a favor da exploração do trabalho? Não? Então é comunista. Talvez esta anedota tenha servido bem ao propósito. Entenderam meu ponto? Existem diversas outras correntes de pensamento econômico/político, naturalmente que estas são as majoritárias, mas mesmo dentro destas a infinitas ramificações e correntes. E ai podemos, por exemplo, ver a diferença enorme entre stalinistas, trotskistas, marxistas ocidentais, marxistas ortodoxos e várias outras correntes. Todos se valem do comunismo, mas são correntes bastante diferentes.
    Claro, se formos nos ater a todas as mínimas peculiaridades, a todos os ínfimos pormenores, não chegamos a lugar algum em uma discussão. Mas temos de ser um pouco mais cuidadosos ao colocar determinados grupos como “todos farinha do mesmo saco”.
    Se você é cristão, é do bem. Se não o é, é ruim. Chamo este exemplo mais como um desespero amador, porém consciente. É óbvio que tenho conhecimento das peculiaridades de quando vamos tratar de conceitos religiosos; sei que há certas considerações a se fazer, como a crença verídica e forte na fé que um determinado indivíduo profere. Mas é como eu disse na minha análise do texto “À sombra das maiorias silenciosas” de Jean Baudrillard: Devemos lembrar que a fé também é um aspecto cultural, é passada de forma hereditária e é assimilada por você, muito normalmente na sua fase de formação individual; ela tem, sim, influências do local onde é proferida e sim, muda consoante as mudanças do mundo e das sociedades. Então antes de uma questão de certa ou errada, a religião é cultural. A partir do momento em que as pessoas perceberem isso, talvez acabem estes atos repugnantes que se manifestam nos diversos campos da sociedade. Imposições religiosas à minorias, intervenções de grupos religiosos na esfera política e diversos outros eventos atrozes de toda sorte.
    É verdade que a perspectiva dual encerra muita coisa na nossa sociedade e a deixa bastante prática em alguns sentidos, mas também nos restringe em diversas possibilidades. Certo e errado, bem e mal, erudito e popular, hegemonia e subalternidade... são conceitos que, a priori, parecem extremamente antagônicos, e talvez sejam de fato, mas que, no mundo contemporâneo, se mesclam e dialogam o tempo inteiro. Me explique, se defendes o dualismo, como pode uma música como One, do Metálica, uma música de Rock, ou seja, popular; sendo tocada em uma versão orquestrada, ou seja, erudita, pela banda Apocalyptica?
    O dualismo é um restritor, nos compele à escolha pronta e devidamente formatada, mas há muito mais entre o céu e a terra. Certo, não creio em Deus, mas nem por isso sou um herege que segue o demônio; não sou capitalista, mas nem por isso prego a ditadura do proletariado; não é por ser homossexual que sou heterossexual... e mais um sem fim de exemplos possíveis.
    Enfim, não é um tema que me faz querer segurá-los nas suas cadeiras por muito tempo. Só queira deixar este pequeno ensaio acerca do mesmo. Não é por não sermos água que somos óleo. Volto a dizer, não dá para especificarmos tudo, naturalmente que alguns pressupostos têm de existir para nos polpar o tempo e facilitar o diálogo corriqueiro, mas devemos estar atentos a alguns temas um pouco mais sérios.

Pós-zumbis 4ª Temporada (7)


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Jogos de gato e rato

                E Fronrel começou a se armar. Tinha fé. Sabia que o mundo era como era por injustiça, por um desequilíbrio entre o saber dos que ordenam e dos ordenados, por uma patifaria, uma trapaça, uma descortesia que há muito se perpetuava e que, se dele dependesse, teria fim.
                Se conseguisse, poderia ajudar seus amigos, poderia fazer as coisas direito.
                Foi ao ar o seu primeiro discurso televisionado. Ele estava no estúdio, dois polícias, longe do foco das câmeras, mostravam-lhe os pulsos firmes nos coldres das pistolas, dando a entender que ele fizesse o que tinha de fazer e não tentasse nada de engraçado. “1...2...3... NO AR!”. Por um instante o silêncio, Fronrel olha fixamente para o olho de vidro à sua frente, dá um leve pigarreio e profere:
                _ Como todos devem saber, sou Fronrel. – uma ligeira pausa para deixar o anúncio um tanto solene - Um de vocês que foi acusado por um único crime, tentar descobrir a verdade. Fui acusado por tentar entender porque tão poucos têm tanto enquanto os que realmente produzem a riqueza não têm nada. Fui acusado por tentar entender esta indústria que é a informação, essa manipulação que nos fazem, esse teatro do qual somos fantoches. Sei que sentem o mesmo, por isso venho aqui não para pedir que se matem por mim, nem que invadam as ruas, mas que enxerguem o que lhes é imputado, que enxerguem o que lhes é posto à força. Venho aqui para dizer que nesse momento, talvez um dos piores que já vivenciamos, onde não podemos nem nos dar ao luxo de sorrir às nossas famílias, pois temos de estar a todo tempo produzindo para estes que não nos dão nada em troca, senão migalhas. Peço-lhes que atentem para esta realidade, peço-lhes que olhem ao poço em que chegamos, ao fundo dele. Somos nós, nós é que permitimos que tudo isto chegasse até aqui, é hora de voltarmos a poder sorrir, é hora de voltarmos a ter tempo para chorar uma dor que aflora no peito ou uma alegria que aquece nosso âmago. É hora de voltarmos a ser Homens, é hora de voltarmos a ser humanos.
                E assim foi.
                Nas ruas, nos telões onde a transmissão ocorreu, via-se que alguns zumbis contemplavam o indivíduo que vos falava de forma ligeiramente curiosa; os policiais que faziam a ronda, logo após o final do discurso, começaram a constringir os zumbis para que estes voltassem ao trabalho ou a suas casas. Assim o fizeram, ligeiramente contrafeitos, ligeiramente conformados, como usualmente o é

Futebol

Brasil, a terra samba e do futebol
    Apesar de as duas afirmações serem erradas e esteriótipos, não são ideias totalmente erradas, e como o título da postagem sugere, falarei sobre essa última. Brasil, a terrado futebol!

    Previamente já vou falando que não torço para time nenhum e acho que são vários os motivos para isto. Para começa meus pais não são fanáticos por nenhum time — para falar a verdade eu nem sei se eles realmente torcem para algum time — e acho que isto teve uma grande influência sobre mim. Devido a esse último fator eu tive que buscar algum motivo que me ajudasse a escolher o time para o qual eu pudesse torcer. "Bem, escolher o que está na liderança, o time mais forte, o que tem mais títulos seria fácil demais, não teria nem graça torcer". "No país tem muitos times para eu escolher, vou me ater ao time regional então. Mas há vários times regionais! Voltei ao mesmo problema. O que faz o atlético ser melhor que o vila ou o goiás e vice-versa, se estes dependem diretamente dos jogadores que vivem mudando de clube?" Vão a merda!!!
    Esse foi o motivo número 1! Motivo dois: qual é a graça de eu perder quase 2h do meu dia para assistir um bando de homens feios correndo atrás de uma bola? Só pra ter assunto para falar com os outros no dia seguinte? Vou mudar de canal e ver se acho algo mais interessante... e que de preferencia tenha mulheres bonitas.
    Ahh, só pra esclarecer, quando falo nenhum time, é nenhum time mesmo! Nem pra seleção brasileira torço mais (sim, já torci)! Isso, porque além dos fatores anteriores eu percebi que no futebol você não pode apenas torcer para um time, você tem que defendê-lo e isso inclui ofender o outro também (para que este outro possa defender) e talvez até agredir (verbalmente, moralmente ou até fisicamente). Fazendo as palavras "Para qual time você torce?" se tornarem quase mortais, nessa ordem. No mínimo estes dizeres trazem sequencialmente algum comentário de vangloria e superioridade do time do enunciador ou uma leve discussão sobre futebol. E não ouso dizer que o máximo teria como resultado a morte após uma briga, irracional.
    Por falar nisso, o que seria mais irracional do que brigar por um grupo de pessoas que nem te conhece, chegam a ganhar milhões a suas custas e que não estão nem aí para você? Matar, morrer, ser preso, ofender, ser ofendido, se irritar, levar hematomas para casa... o bom motivo para fazer isto é ganhar... respeito? Quem respeita vândalos? Um grupo de 10 pessoas que se dizem serem fãs número 1 do time mas que denigrem a imagem do mesmo? Enfim, você torcedor que vai para o estágio para xingar e descarregar o estresse e às vezes acaba empolgando, nunca parou pra pensar que muita das vezes você pode sair perdendo em vários aspectos?
    Por fim decidi torcer só pro time que eu estiver jogando! E já que sou terrível, não sou de jogar muito. Quase nunca para falar a verdade. E gosto de assistir as olimpíadas, porque quase nunca você vê alguém brigando na rua por causa da performance no trampolim, ou na ginástica artística, arremesso de objetos etc.
    Bem, mas eu não ia falar muito sobre mim... Lastima!
    Para vocês não ficarem no prejuízo então, vou finalizar com um trecho do que seria a pretensão do texto "original".

    A origem do futebol é meio incerta, mas aparentemente tanto o ocidente quanto o oriente chegaram, na antiguidade, a desenvolverem esportes semelhantes, mesmo não havendo um contato entre si. A única certeza é que o futebol como conhecemos hoje foi espalhado pelos europeus e eu acho que é essa a origem que nos interessa.
    Como eu disse, ninguém sabe exatamente como se desenvolveu este esporte, mas especulam que tenha um origem oriunda do império romano, em que devido a política do pão-e-circo muitas arenas (como o coliseu) foram construídas ao longo de toda a Europa, e cada uma delas continham suas particularidades (como por exemplo os leões famintos contra os gladiadores, era muito mais comuns na Península Ibérica do que na própria Roma).
    Numa destas particularidades, após o show sanguinário que levava o povo ao delírio, as pessoas sempre ficavam com o gostinho de "quero mais" e devido a isto o "rei local" (subordinado do senado e imperador de Roma) liberava a arena para os espectadores os quais terminavam de destroçar o corpo do ladrão/gladiador/escravo/bárbaro/etc. descontando toda a sua raiva no presunto, e já que muita das vezes o golpe final, e o mais esperado e pedido pelo povo, era a decapitação, quando liberavam a arena, era comum fazer uma rodinha para chutar a cabeça do coitado.
    Enfim, o resto vocês podem deduzir. Mas lembrando que é só especulação. Apesar de os estádios de hoje lembrarem o formato das arenas e o futebol lembrar muito a prática do pão-e-circo (diversão e bebida comida).
    Se aceitam isso como verdade, já é com vocês!
    Boa semana a todos!
    Lembrando que tem futebol aos domingos e quartas-feira.

Bons Dias - Machado de Assis

            Dia treze de maio de mil oitocentos e oitenta e oito foi o dia em que sua alteza Isabel assinou a tal lei áurea. Cento e vinte e quatro anos de liberdade... e?
            Leia abaixo uma crônico do negro autor fundador da academia.


            Eu pertenço a uma família de profetas après coup, post factum, depois do gato morto, ou como melhor nome tenha em holandês. Por isso digo, e juro se necessário fôr, que tôda a história desta lei de 13 de maio estava por mim prevista, tanto que na segunda-feira, antes mesmo dos debates, tratei de alforriar um molecote que tinha, pessoa de seus dezoito anos, mais ou menos. Alforriá-lo era nada; entendi que, perdido por mil, perdido por mil e quinhentos, e dei um jantar. Neste jantar, a que meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor, reuni umas cinco pessoas, conquanto as notícias dissessem trinta e três (anos de Cristo), no intuito de lhe dar um aspecto simbólico. No golpe do meio (coup du milieu, mas eu prefiro falar a minha língua), levantei-me eu com a taça de champanha e declarei que acompanhando as idéias pregadas por Cristo, há dezoito séculos, restituía a liberdade ao meu escravo Pancrácio; que entendia que a nação inteira devia acompanhar as mesmas idéias e imitar o meu exemplo; finalmente, que a liberdade era um dom de Deus, que os homens não podiam roubar sem pecado. Pancrácio, que estava à espreita, entrou na sala, como um furacão, e veio abraçar-me os pés. Um dos meus amigos (creio que é ainda meu sobrinho) pegou de outra taça, e pediu à ilustre assembléia que correspondesse ao ato que acabava de publicar, brindando ao primeiro dos cariocas. Ouvi cabisbaixo; fiz outro discurso agradecendo, e entreguei a carta ao molecote. Todos os lenços comovidos apanharam as lágrimas de admiração. Caí na cadeira e não vi mais nada. De noite, recebi muitos cartões. Creio que estão pintando o meu retrato, e suponho que a óleo. No dia seguinte, chamei o Pancrácio e disse-lhe com rara franqueza: - Tu és livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa amiga, já conhecida e tens mais um ordenado, um ordenado que... - Oh! meu senhô! fico. - ...Um ordenado pequeno, mas que há de crescer. Tudo cresce neste mundo; tu cresceste imensamente. Quando nasceste, eras um pirralho dêste tamanho; hoje estás mais alto que eu. Deixa ver; olha, és mais alto quatro dedos... - Artura não qué dizê nada, não, senhô... - Pequeno ordenado, repito, uns seis mil-réis; mas é de grão em grão que a galinha enche o seu papo. Tu vales muito mais que uma galinha. - Justamente. Pois seis mil-réis. No fim de um ano, se andares bem, conta com oito. Oito ou sete. Pancrácio aceitou tudo; aceitou até um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por me não escovar bem as botas; efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco, sendo um impulso natural, não podia anular o direito civil adquirido por um título que lhe dei. Êle continuava livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos. Tudo compreendeu o meu bom Pancrácio; daí pra cá, tenho-lhe despedido alguns pontapés, um ou outro puxão de orelhas, e chamo-lhe bêsta quando lhe não chamo filho do diabo; cousas tôdas que êle recebe humildemente, e (Deus me perdoe!) creio que até alegre. O meu plano está feito; quero ser deputado,e, na circular que mandarei aos meus eleitores, direi que, antes, muito antes da abolição legal, já eu, em casa, na modéstia da família, libertava um escravo, ato que comoveu a tôda a gente que dêle teve notícia; que êsse escravo tendo aprendido a ler, escrever e contar, (simples suposições) é então professor de filosofia no Rio das Cobras; que os homens puros, grandes e verdadeiramente políticos, não são os que obedecem à lei, mas os que se antecipam a ela, dizendo ao escravo: és livre, antes que o digam os poderes públicos, sempre retardatários, trôpegos e incapazes de restaurar a justiça na terra, para satisfação do céu. Boas noites.



Texto extraído do livro Obra Completa, Vol III. Machado de Assis. 3ª edição. José Aguilar, Rio de Janeiro. 1973. p. 489 - 491. Na crônica acima, Machado de Assis aborda com ironia a questão da abolição da escravatura, que havia ocorrido no dia 13 de maio de 1888. Crônica publicada no jornal Gazeta de Notícias, em 19 de maio de 1888.

Presidenta, atenta para isso


                Está nas mãos dela, a câmara dos deputados e o senado já aprovaram o novo código florestal.
                Todo mundo deve ter ouvido sobre o novo código e coisas assim, mas a mídia não fez muita força para expô-lo, prefere ficar mostrando helicópteros que caem e dando plantão sobre filho de cantor sertanejo que se acidenta. Não estou falando que são notícias “desnecessárias”, porém, sendo verdadeiramente franco, não creio que mudem um fio de cabelo que cai ou deixa de cair nas nossas vidas. É um absurdo darem PLANTÃO DE NOTÍCIAS para uma pessoa hospitalizada que nem tem peso político ou referencial às pessoas enquanto outras tantas não conseguem nem vaga em um leito médico e enquanto o NOVO CÓDIGO FLORESTAL é aprovado sem o menor problema.

                Aos que não têm muito os detalhes técnicos, aqui vai uma rápida síntese. Dentre outras coisas:
                Antigo código florestal: 30 m de App* em rios de até dez metros de largura.
Novo código: 15 m.
               
Antigo código: Proteção para árvores com mais de 30 cm de diâmetro (madeira de lei)
Novo código: Proteção é extinta.

Antigo código: Proteção de 30 a 500 metros para rios com mais de dez metros de largura.
Novo código: Não abarca estes rios de maior largura, ou seja, nada define acerca de como proceder com eles.
Novo código prevê anistia àqueles que desmataram no período anterior a 2008. Não terão de pagar multa de nenhuma espécie, terão apenas de reflorestar a área desmatada, mas não lhes é estipulado um prazo para que tal seja feito.

Todo produtor agrícola tem de respeitar uma área de preservação dentro de suas terras, na Amazônia esta área é de 80%, no cerrado 35% e em outros biomas é de 20%. O novo código florestal permite que as apps sejam utilizadas para que o calculo seja feito.

Além de dar a anistia aos que descumpriram a lei anterior, ela é irretroativa, ou seja: Se um produtor tinha na sua terra uma reserva amazônica de apenas 50%, pois uma lei muito anterior permitia isso, ele não será obrigado a seguir os 80% que a lei atual e esta que está sendo aprovada cobram.

A lei também permite a Cota Reserva, ou seja: Se você tem uma área superior ao que é preciso ter de reserva, este excedente pode ser transformado em crédito e pode ser vendido para produtores que ainda não tenham a quantia obrigatória de reserva em suas terras.

Lagoas naturais ou artificiais com menos de um hectare ficam isentas da obrigação de terem Apps.

*APP: Áreas de preservação permanente são margens e nascentes dos rios, topos de morros, veredas e mangues.

                Em suma, abriram as porteiras. Agora é só pegar o seu machado e sair cortando árvores, pena que poucos o queiram pegar para rachar cabeças.
                Infelizmente, se pegarmos exemplos como o caso de Belo Monte e alguns outros similares polêmicos, veremos que nossa Excelentíssima Presidenta Dilma provavelmente não barrará a lei. Há também um fator de alianças: Este novo código foi aprovado tanto pela oposição quanto pela situação. Se a Dilma chegar a vetar o projeto, pode ser que instaure entre si e sua base parlamentar uma crise.
                A mídia fez pouco ou nada para tratar do caso, só lhe interessa a transmissão do espetáculo, do absurdo, e nós estamos consumindo isso sem a menor reflexão. Creio que devemos rever alguns conceitos.
                Se tivéssemos real dimensão do impacto que tal reforma vai causar, estaríamos nos mijando e tremendo. Creio que poucos têm feito algo pelo meio ambiente do nosso país; no qual todos os países da elite estão de olho; mas não podemos deixar que ele seja entregue assim de mão beijada àqueles sedentos. Ora, vocês acham que estas medidas visam o que? O mercado interno? Eu provavelmente nunca vi uma carne de primeira produzida no meu próprio país. Não, senhores, tudo de bom que é produzido, e estão querendo desmatar LEGALMENTE para produzir mais, é exportado, sai daqui para encher as bocas dos Europeus e dos Americanos. E eles vêm, fazem carnaval e tripudiam em cima de nós, e nós retribuímos cortando nossas árvores e destruindo nossos rios para eles.

Para mais detalhes: Código Florestal
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Ps: Olá, leitores! Queria só deixar um extra.
Não sei se interessa a todos, mas no meu curso de Ciências Sociais eu estou a desenvolver uma pesquisa; por hora, teórica; sobre a "apatia das massas no campo político e social".
Deixo aqui a etapa inicial do meu projeto, que é uma análise do texto de um teórico francês chamado Jean Baudrillard. (Está em PDF)
Resultado: " 'À sombra das Maiorias Silenciosas', de Jean Baudrillard. Por Ian Caetano de Oliveira."
 PPs: A obra "À sombra das Maiorias Silenciosas" é de domínio público.

Óculos em algum lugar ermo



O celular era programado pra despertar ao som de qualquer coisa calma todos os dias às cinco horas. O sol ainda não tinha aparecido, como é de se esperar do astro que vem do leste e nasce trezentas e tantas vezes por ano. Ele atirou a coberta para o pé da sua cama de solteiro e colchão afundado ‘anatomicamente’ e saiu descalço e apalpando a parede para encontrar o interruptor.

Os inseparáveis óculos de aros quase descascados estavam ali, em algum lugar ermo, um criado ou uma estante, mas esquecidos pelo homem que acorda para a vida. Este vai para o banheiro, que é exatamente onde ele pode atender aos chamados da natureza, o que quer dizer mijar – sentado, diga-se de passagem, porque ainda guardava alguma tontura dos mundos subterrâneos dos sonhos de agora a pouco.

Ele podia sentir o cheiro de suor na sua pele e um cansaço dorido pelos membros todos, como se não tivesse passado a noite deitado na cama, ou sim, mas com companhia insaciável nesse caso. Cheiro que se misturava com o do ar quente da urina e do hálito amanhecido. O corpo se decompunha mais rápido do que nunca. Precisava de um banho para se livrar das partes mortas.

A água quente caía em fluxo constante nos seus cabelos oleosos, batendo sem piedade na parte onde logo se faria visível uma clareira, um presságio da melhor idade, um sinal de sabedoria: uma careca. Quando se esfrega a pele com força, é difícil imaginar que aquele ato elimina milhares de células mortas. Ele pensa, enquanto arranca a gordura do corpo, que todos morrem diariamente e nascem também, que nem o sol, mas nós nascemos cada vez menos intensamente com o tempo e enrugamos e encolhemos até que morramos uma derradeira vez. O pé e o sovaco, a cara e o saco. Observando que a ordem não é relevante. E pronto.

A toalha pendurada num gancho da parede do banheiro é a relação mais íntima que esse homem tem: ela fica lá, impassível, imóvel, imperturbável, esperando a hora em que possa abraçar a carne úmida e limpa e os pelos também. Alguns diriam que a ordem para se enxugar é, sim, relevante; mas não para esse homem. A toalha não tem pudores. Nem ele.

Deu passos curtos, ainda respingados em direção à porta. Passou despercebido pelo espelho embaçado pelo vapor do chuveiro. Ao menos passaria, se não tivesse se lembrado da barba rala, espaçada que nem sujeira, que se projetava em lugares específicos do seu rosto e pescoço. Com a mesma toalha que abraçava, esfregou o vidro banhado de prata para afastar a névoa cegante. E, por um instante, seus músculos cardíacos se congelaram e prenderam a respiração.

O rosto gravado no espelho não era o seu.

Outra vez e outra ainda



Quem não tem medo de acordar um dia e perceber que o sol não chegou ainda e que não parece dar sinais de chegar, nem que só pra se pôr em seguida? Calor é uma coisa que faz falta, mas calor sozinho é falta por si só, porque o bom calor é aquele por condução, quando a mão indecisa finalmente toca a pele do outro, que aceita e abraça e quer mais. E ainda assim o universo corre atrás do equilíbrio térmico...

Porque, na verdade, é ela que abarca todas as caras bonitas do mundo numa só, enquanto eu abarco todas as feias. É ela que se entrega, fecha os olhos, e eu tenho medo. É ela que vem de noite dizer que ama porque eu sou muito distraído. É ela que dá colo e ouvidos a qualquer instante pros meus desencontros, enquanto eu divago e divago. É ela que não vai embora e eu não sei como estar mais contente por isso.

Vamos nos persuadir imensamente ¹, como diria Vinicius, persuadir teu corpo do meu e o meu do teu, convencer as estrelas a nos dar a noite, o sol a nos conceder calor que o nosso fluido guarde e os animais todos a olhar pra outro lado. Enquanto isso, carinho não acaba, eu me acabo em carinho.

Dorme o teu sono de menininha, minha vida é a tua, tua morte é a minha ². Dorme, que eu prometo, nada de ruim pode chegar perto dos teus cabelos que eu enrolo nos dedos, nem do teu lábio de baixo que eu dedilho (antes que durma, veja bem, porque te irrita, eu sei) até fazer barulhinhos.

Olha aqui: eu te conto todos os meus segredos se disser: não vou embora.

2-2102 GFU ralubitsev

"Aqui vai uma verdade dura: nós nos preocupamos demais sobre o que as outras pessoas pensam de nós. Nós nos preocupamos exageradamente em cumprir expectativas alheias, seja de amigos, parentes ou grupos sociais. É um erro, um erro comum, que afeta toda a humanidade, por isso não se sinta tão especial por agir assim. Essa vaidade abstrata e constante nos leva a nos preocupar diariamente em conquistar a admiração alheia. Um esforço interminável e inútil, pois ninguém é (nem é obrigado a ser) capaz de cumprir todas as expectativas do mundo. Uma maneira de corrigir esse vício é aumentar a sua assertividade, aumentando sua confiança e independência em relação a opinião dos outros."


     O coração bate mais rápido, suas mãos começam a suar, sua respiração fica desritmada e às vezes você começa a tremer. Não consegue pensar direito, se desespera e começa a sentir um intenso calor. Acha que não vai dar conta e que tudo o que você fez está errado e você quer desistir. Começa a errar coisas simples, lê as coisas erradas, precisa se esforçar demasiadamente para conseguir entender alguma coisa e começa a ter dor de cabeça.
     Todos já tiveram alguma ansiedade ou nervosismo diante de algum(-ns) fato(s) da vida e sei que alguns sentem mais do que outros esse sentimento, e de formas diferentes. O que descrevi no parágrafo anterior é o jeito que eu sinto isso e posso dizer que é terrível. Mas o lado bom é que não tenho complicações gastrointestinais, como vomitar, ou ter diarreia ou dores na barriga, apesar de a sudorese atrapalha um pouco durante o vestibular, que aliais é o motivo por estar escrevendo este texto (dia 05/05/2012).
     Devido ao vestibular que estará acontece ontem estou revivendo tal sofrimento dentro de mim. Feliz fosse eu se ficasse ansioso somente antes ou depois da prova, mas para minha infelicidade acontece justamente o contrário. Quanto mais próximo da prova eu vou me acalmando, só que quando eu fico cara a cara com aqueles papeis mal grampeados todo meu nervosismo vai aumentando gradualmente até eu entrar em desespero.
     Talvez fosse melhor sofrer antes da hora do que na hora... talvez. Só sei que desta vez vou respirar fundo e seja que Deus quiser e vou chegar lá olhando pra cara de todo mundo achando que são todos idiotas, não sabem de nada e só tão fazendo pose. Dizem que funciona! Conto depois se deu certo a estratégia.
     Agora sobre falar em ou para um público maior que 4 pessoas... bem, isso é um trauma para uma outra hora! Semana que vem eu chego com algo mais interessante.
     Boa sorte a todos que estão concorrendo vestibulares a fora — menos para meus concorrentes, claro!
     õ/
Abraços

E hoje... 400 POSTS!



E hoje se faz uma sublime marca: 400 POSTS!

Como em toda intermitente data que marca a adição de mais uma centena, digo:
"Quem Diria"

É verdade que nestas duas últimas semanas tivemos alguns problemas para cumprir à risca a agenda de postagens, mas são pormenores pontuais e que já se mostram praticamente sanados.

Nesta nova fase do blog, presumo que alguns leitores possam já ter notado - ao menos eu penso desta forma - que as postagens estão com fôlego novo. O Ingresso na Universidade nos tem propiciado algumas experiências e discuções novas, de modo que vejo este ano como promissor. Muita coisa boa ainda será mostrada, continuem acessando.

Creio ser isso. Agradeço a todos os leitores que estão aqui desde o início, agradeço àqueles que vieram depois, agradeço os que ainda hoje dispõem um tempo para vir aqui ler as asneiras que escrevemos. Obrigado, só há quem escreva pois existem os que leem.

Roda a mandala


Se clicar na imagem, ela cresce. Sério. 


Estátuas e cofres e paredes.
Tem gente que precisa de gente de que precisem delas. De pedaços e símbolos indecifráveis, constrói-se a tatuagem. As maçãs-do-amor vão apodrecendo. A menina assovia, sozinha, na sonolência de um bosque. Eles vão andando de mãos dadas. Ninguém chora neste funeral. Ela usa um vestido de três séculos atrás sob o broquel da chuva. No meio de muita gente, seu balão foge e voa. As luzes se acendem de repente num casarão abandonado. O elefante indiano é pintado de cores vivas. Na tristeza de seu apartamento, um homem escreve e ri. Diante do espelho, a velha observa seu corpo enrijecido e tem vergonha. À noite o telefone toca e você acorda assustada. Ela disse eu te amo; meu mundo petrificou-se. Na plateia do teatro, somente a senhora cega assiste ao príncipe perguntando-se se é ou não é. Todos os dias, corremos pelos campos amarelos de trigo. Voltava para casa a pé, quando vi a sombra de um avião na nuvem. As borboletas voavam rumo ao sul, não mais, não mais. Sentou-se na cadeira e esperou pela morte; foram seis dias.
A mãe abraça a filha depois de muitos anos. Vamos fazer um filme. Come up to meet you, tell you I’m sorry, you don’t know how lovely you are. Meus olhos se encheram de água salgada, eu nunca havia visto o mar.


O vídeo abaixo é muito interessante. São bolinhas coloridas voadoras à la kaito:

Pós-zumbis 4ª Temporada (6)


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Confiar. Duvidar.

                Já faz algum tempo, e um tempo considerável, que R. não vê a luz do dia. Mas aquela tristeza que nela insurgiu, como uma represa que estoura a barragem, nunca mais se foi. Fato é que agora ela convive com o peso em medida mais tranquila, mas este não diminuiu, apenas ela se adaptou. Vêm buscá-la.
                _ Por favor, levante-se, vire-se de costas para que possamos algemá-la e venha conosco. – diz o sujeito.
                _ Não quero. – Diz ela, apática e sem forças.
                _ Não é uma opção.
                _ Então venham e me arrastem.
                _ Faremos disso uma experiência não muito agradável. – Ameaçam.
                Ela pondera, mas está fria; não sente, não se importa. Desde que dessa tristeza ela foi acometida, quase que patologicamente, não lhe vêm forças para protestar ou requisitar ou argumentar. Eles não esperam a resposta. Vão, viram-na, algemam-na, e levam-na.
                Idem para Camaleão, mas ele não relutou, foi quando chamaram.
                Albinati também foi pega.
                Linda, ela também foi chamada. Tiveram de levar três pessoas para algemá-la. Ela quebrou o nariz de um deles com uma cabeçada, por isso pagou o preço de alguns cassetetes nas costas, mas a essa altura do jogo, a ela pouco importava o cassetete nas costelas ou a flor na altura do nariz

Excuse the vanity



Porque todas as grandes insurreições foram ganhas às custas de corpos inconscientes. Claro, existem líderes, estrategistas, intelectuais e idealistas, mas são as massas de manobra que trazem resultado. Vide revolução russa e caras pintadas: um revolucionário é só mais um revolucionário; até que seus ideais se espalhem como memes.

Isso é, sim, o que acontece. As pessoas se apropriam de movimentos sem saber suas origens, seus meios e - bestifiquem-se – nem seus fins.

Pense bem antes de “compartilhar”. É melhor ser apático do que alienado.