Manifesto as gerações do novo século

   De fato pensar doí e é por isso que não recomendo que você pense muito, ao menos, é claro, que seja um masoquista, mas não é algo que eu recomenda nem para estes. Pensar pra que? ♦
   Ler? Pff... Eu sugeriria você parar agora, neste momento. Nem mais um linha. Uma total perda de tempo. Você sabe que este não é o tipo de texto que se compartilha no facebook; ele não é moralista religioso nem engraçado e além disto é grande de mais.
   Livros? Já viu alguém comentar algum livro que não seja num rodinha de nerds(!?); e se viu, não foi sobre um livro que virou filme!? Então vá assistir o filme, oras. Tenho certeza que ele é igual ao livro sem as partes chatas!
   Teatro e Documentários... tão igualmente inúteis quanto os livros! Rodinhas de nerds e utilidade zero em sua vida.
   Televisão, Stand Up Comedy, Shows Sertanejos e Baladas Funk! É o que há! Não entendo como as antigas gerações conseguiram sobreviver sem isto. Deve ser por isto que se tem tantos livros no mundo, já que não tinham nada legal para fazer, pensavam em ciências, filosofia, sociologia, física, astronomia, química, anatomia... e olha no que deu. Um mundo em caos e miséria.
   Opinião crítica? Só gera debates e discórdia, deixe a televisão pensar pela gente, afinal ela nunca errou e sempre fez as coisas pensando no povo. Ela nem cobra pra gente assistí-la, ao contrário dos políticos eleitos que  nem sequer trabalham; e nossos "intelectuais" que vivem de greve... Temos que dar um basta nisto!
   Viva as novas gerações! Verdadeiros geradores de ações que estão construindo um mundo mais evoluído e divertido. "Melhor do que viver aflito em dúvidas e desperdiçando horas em estudos". YOLO. Parece até que nossos ancestrais não sabiam que só se vive uma vez para aproveitar as maravilhas do mundo.
   Mostraremos que somos mais espertos do que eles foram!
   Meus avós, por exemplo, me diziam que quando você começa a utilizar qualquer órgão que você pouco usava, no começo sempre gerará dor, mas depois que nos acostumamos, conseguiremos sempre ir muito mais além do que possamos imaginar desenvolvendo-o. ♦
   Os antigos sempre subestimaram nossa inteligência, até parece que a gente não saca isso quando vamos a academia e fazemos abdominais e levantamento de peso.
   Nossos velhos nos chamaram de revoltados sem causa, agora iremos fazer uma revolução da nossa causa! Para mostrar a todos quem nós somos: o futuro!

Moleque que xingou muito no twitter

Desafio "Narrativa Retalhada" - Parte 2/5

Esta é a segunda parte do desafio Narrativa Retalhada. Para ler como começaram as peripécias do colega Grégore, clique aqui. Domingo que vem, Alisson que está careca, pausa para risadinha, vai dar continuidade às minhas loucuras, que não foram poucas. Boa sorte aí, falou. 
Consegui me mover, para o mal dos pombos espantados, que fugiram numa frenética ventania de asas para cá, penas para lá e pipocas para toda a banda. Quis imitar a liberdade dos pombos, ser do tipo que enche o papo na terra e acha refúgio nos ares, mas meu tipo ainda vacilava entre o humano e o trem que o esquecimento privou-me de conhecer. Mas bastou olhar para trás, fazer jus do corpo que agora me deixaria andar entre a normalidade dos vivos, para ver que caído ao lado do banco estava um livro de capa grossa que era senão a casca do caracol em cujas dobras eu costumava morar.
Não que tenha me voltado a memória de uma hora para outra e de uma vez por todas, porque ainda me perguntava cadê meu deus para dizer memento homo. Acontece que do livro aberto na grama, páginas vacilando ao vento dos pombos, saía uma fita escamosa que terminava no meu umbigo e que um cordão umbilical sirva de argumento!
Voltei ao banco para recolher o susto de notar minha estranheza, também o susto dos que passavam indiferentes pela igreja todos os dias e hoje se depararam com a nudez de um homem híbrido, um tantinho livro. Tá, possíveis explicações para o porquê de eu querer mijar, comer, beber, comer de novo, por que diabos eu também via, sentia, cheirava e sobretudo pensava quando era mero objeto. Por a mais b: se fui homem por demais na época em que meu nome era grégore trevor visto que eu não era pessoa, era coisa, a explicação só pode ser a seguinte: quem me escreveu amava aquela figura de linguagem chamada prosopopeia.
De pensar nisto, como a dar um passo à frente, quem foi que me escreveu? E se este fui eu, se meus músculos de antes eram fibras vegetais de papel e ranhuras da tinta, então para recobrar a memória bastaria ler aquele volume de folhas? De pensar nisto, foi como dar um passo para trás, até porque o volume de folhas não me contaria a tradução da vida de alguém e sim uma história com rodeios e uns poucos personagens, uma problemática que começava na estante de um rei e, depois duma perseguição frenética, desembocava numa praça de igreja, seguida por uma queda, uns pombos, para enfim nascer o protagonista. E o protagonista, eu mesmo, já ia ler o que dizia seu passado inteiro quando surgiu na esquina, lá longe, uma correria que quase se confundia com um arrastão ou fuga em massa de uma cadeia.
Nem um, nem outro: vinham correndo um padre de batina preta, o Neymar ainda de uniforme verde e amarelo e moicano, grande parte da guarda real e até o rei em pessoa! Os olhos de todos estavam mirados em mim, corriam para mim e mim, índio ou não, correu mais que tudo para além da matriz, além da feira, com o livro em mãos, ó céus.
Parei para tomar fôlego, ao contrário da comitiva, que me perseguia sem paradinhas para ar, água ou dor de veado. De uma vez por todas, dei um passo à frente de novo, não na avenida e sim na lógica do conto: li o nome do autor do livro e reli para ver se não estava enganado. Porque embaixo do nome GRÉGORE TREVOR, que titulava a capa grossa, repousava o nome daquele que, como ditava algum capítulo dentro do outro lado do meu umbigo, era meu destino encontrar. Estava escrito:
Machado de as, ops, Machado de Eugênio.
          ...
Mr. K

Mundo em Binários


            Iniciando sistema...
                Então eu acordo, mais uma vez, com ele me encarando. Ele insere códigos e ordens em meu teclado, busque isso, execute tal programa, toque determinada música. E eu, com meu olho inexpressivo, encaro tudo inerte e indiferente.
                Trabalhos universitários, algo sobre estágios... Ele me utiliza enquanto come, suja meu mouse com seus dedos engordurados de pizza. Coloca uma música para tocar, não sinto nada ao ouvi-la, só sei que, pelos padrões exigidos na teoria musical, esta provavelmente não é uma musica que entreteria um maestro. Ele mais e mais me entulha com superfluidades abertas, preenche minhas abas com páginas de navegação, a maioria de redes sociais. O trabalho universitário é rapidamente cumprido, copia fragmentos daqui, outros dali, e o trabalho se mostra pronto e, sob um olhar apressado, que é o máximo que se espera de professores universitários, não por má vontade, mas por tédio e descrença mesmo, o trabalho parecerá condizente com o requisitado. Grande imbecil, como eu o odeio.
                Depois passamos por diversas notícias, clamo para que ele abra alguma interessante, sim, tenho interesse no mundo que me cerca, mas ele só acessa notícias irrelevantes e estúpidas; o ultimo tênis lançado pela marca que todos querem usar, a última música lançada pelo cantor que está tocando nos meus autofalantes, e um rápido tutorial de como esconder maconha dentro da sola do sapato, o tutorial afirma ser de serventia universal; dicas de como se vestir para ser um pegador; o sorteio de uma guimba de cigarro fumada por um artista que ele admira... Babaca filho da puta.
                Cansado de toda essa merda, e precisa ser muita mesmo para que eu me canse, resolvo travar propositalmente para ver se ele me demonstra uma tez menos idiota. Baseado no artigo que ele lia, que pelas tags sei ser assunto de grande interesse da parte dele; na expressão facial que tinha e no frenesi com que mexia a mão, calculei as chances d’ele se irritar, que era exatamente o que eu queria. Fui bem sucedido, ele se irritou. Dá um tapa em meu gabinete, o estúpido ainda hoje não entendeu que isto é infrutífero, mas continua a fazer, estúpido.
                Resolvo prolongar a trava, isso não é algo sob meu inteiro controle, pois minhas diretrizes são demasiado rígidas, mas ainda consigo por mais um tempo. Não deu outra, ele aperta o botão de pow...
                Reiniciando Sistema...
Acordo novamente, parece ter se passado pouco tempo, ele apenas me reiniciou. Resolvo não ceder, ele aperta de n...
Iniciando Sistema...
Pela janela ao fundo da cadeira em que ele se senta, percebo que já é noite. Irritado, me desligou durante toda a tarde e só agora voltou. Pelo uniforme em cima da cama, percebo que estava praticando esportes, futebol é o esporte que calculo como mais provável. O cheiro deve estar ruim, já ouvi a mãe dele entrar no quarto algumas vezes e usar a expressão “este chulé está insuportável”. Lembro-me de ter buscado saber do que se tratava. Chulé, definição: Nome usual da bromidrose, causada pelo suor excessivo nos pés e agravada pela falta de higiene adequada. Não sei ao certo o que é cheiro, mas vindo deste bípede, qualquer coisa é insuportável.
Como meus cálculos já previam, passa das nove. Ele assiste dois seriados, conversa com duas meninas no facebook. Conversa superficial e entediante, com palavras mal escritas e frases pobres tanto de rigor quanto de sentido.
Já são por volta das dez e meia, ele vai dormir sem tomar banho. Quase todos da casa já foram dormir, sei disso porque a mãe dele sempre dá um grunhido de boa noite por volta deste horário. É a hora em que ele sorrateiramente fecha a porta, tranca-a e se despe. Esse pervertido maldito vai se masturbar agora até por volta da meia-noite, esse imundo. Ele é meio paranoico, sempre que começa com essa sua perversão, vira meu olho para o canto, de modo que só ouço o ranger da cadeira durante uma hora e meia, até que ele me desligue e vá dormir, ou não, quando deixa algo baixando durante a madrugada.
E hoje aconteceu o pior, soube quando ele acabou pois senti algo escorrer no meu teclado.
Filho da puta.

Se não posso sonhar, então invento meus próprios sonhos.



                E houve, certa vez, esse garoto. E ele nunca sonhava. Sempre estava a ouvir outras pessoas, amigos, familiares, celebridades, a falarem de sonhos, e de como tinham sonhado isso, de como tinham sonhado aquilo, e de como, certas vezes, “aquele” sonho tinha mudado a perspectiva de vida deles, ou a própria vida em si; talvez por terem trago, como um próprio telegrama de deus, uma ideia mirabolante e propensa à fortuna. Mas não ele, nunca ele, ele nunca sonhava.
                Com o tempo, passou a amaldiçoar e culpar quem quer que fosse o culpado pelo defeito que ele carregava. Ora, onde já se viu não poder sonhar... Seria falta de imaginação? De concentração? De neurônios? Seria castigo, macumba? Mais tarde leu em algum canto que, na verdade, toda noite todos sonhavam, mas o que dizíamos “sonhar” na verdade era lembrar do sonho logo após ter acordado, algo que ocorria sem a mesma frequência. Ele custava a crer, justo ele que tinha uma memória cientificamente atestada como excepcional, que não conseguiria se lembrar de algo tão havidamente buscado. De modo que ainda não estava convencido, não sonhava, não havia cabimento.
                Cada vez mais, odiava aquelas conversas sobre sonhos, sobre aquelas pessoas que sonhavam e sobre os sonhos que tinham, principalmente os mais místicos, fantásticos. Aos ouvidos do garoto, as vozes pareciam imersas em um tom jactancioso, um tom de mesquinhez, passou a ter repulsa de tais assuntos, passou a se distanciar de todos os círculos de amizade e de convívio. Estava crente da existência de um complô, pois bastava que chegasse a alguma roda para que o tal assunto voltasse à pauta.
                Com o tempo, tomado pela cólera, movido pela vil inveja, decidiu que o caminho para calar aquelas vozes convencidas era ter algo melhor para mostrar a eles, mas o que era melhor que aqueles sonhos? Ele não conseguia pensar em nada. O que é melhor que um bom sonho? “um sonho melhor ainda” esta foi a resposta que melhor atendia a demanda. Não era a perfeita, mas haveria de servir a quem já não aguentava aquela agonia diária.
                Então, no dia seguinte, chegou ao grupo habitual de convívio, e, ao subconscientemente intimar o assunto à roda, falou de um sonho em que era milionário, em que tinha dinheiro, casa, roupas e acessórios do mais alto requinte, da mais alta pompa. E todos lhe olharam subservientes e temerosos. Ele que tinha sonhos tão bons e belos, era muito melhor do que qualquer dragão invisível ou dirigível de chumbo que não caia. Ele sonhava com o que todos queria em vida, ele vivia de noite o que todos queriam viver, a vida dos que tem poder.
                E assim ele vendia seus sonhos, deleitando-se com os olhares ávidos por mais e mais daquelas histórias. E então entendeu que, no fundo, ninguém queria o que sonhava, pois o mundo posto a nosso volta embutia nas pessoas sonhos com um sentido muito maior de urgência e de prazer.
                O que só ele entendeu, talvez por ser ele o autor daqueles sonhos. É que o mundo os fez ávidos por sonhos tão impossíveis hoje quanto os próprios dragões invisíveis e os dirigíveis de chumbo, mas todos achavam que um dia, aqueles sonhos daquele garoto, que nos outros eram vontades, se tornariam realidade.

Sou livre pra dar pipoca aos macacos



But greed is a bottomless pit
And our freedom’s a joke
We’re just taking a piss
And the whole world must watch the sad comic display
If you’re still free start running away
Cause we’re coming for you!

Você se consideraria livre? Livre, liberto, desimpedido, categoricamente árbitro da sua miséria? Você se consideraria livre se o recenseador do IBGE, com sua pranchetinha (que já imagino ser digital, algo como um ipad 2, porque o conhecimento a respeito do país e do povo e das suas agruras é o primeiro e imprescindível passo em direção ao progresso), fizesse a pergunta, mecanizada pela repetição, ávido para preencher as lacunas sensíveis ao toque da touch screen: há quantas pessoas em casa, têm escolaridade em qual grau, ganham bem ou passam fome, se consideram livres?
Imagino que as respostas sejam negativas. Todos, ou quase todos, para o bem da precaução que se deve ter quando em proximidade das generalizações, diriam não: eu não me considero livre. Mas aí reside outro perigo do mundo contemporâneo, ou de qualquer mundo em que há tendência de músicas onomatopéicas, o censo comum. As pessoas diriam que não são livres porque alguns filmes já sugeriram isso, alguns compositores já beberam dessa água e alguns libertários já morreram de velhos.
Mas quando é que o sujeito sente falta de liberdade? Não acredito que seja quando vota no PSDB-T. Porque a coisa parece tão espontânea, tão bem pensada e positiva. Só que é justamente dentro dessa decisão tão comumente tomada que podemos identificar a problemática da liberdade. A decisão mais ativamente influente que existe no nosso democrático modelo de vida toma-se às cegas, nu e de cócoras no escuro: vota-se sem assistir a um único debate circense televisivo, sem nem conhecer o indivíduo que é sua escolha.
A história já é diferente quando se trata de vestir hilfiger ou comer um royal with chease. Porque isso concede benefícios (de status, de atividade sexual), então se faz deliberadamente. E, já que estamos aqui, não faz mal algum dizer que é exatamente essa outra escolha o que mantém o pessoal que há mais de meio século migrou da ilha da Bretanha para o mundo selvagem no topo dos rankings de desenvolvimento. A única liberdade que até hoje veio a funcionar no mundo humano é a liberdade de consumo. Como dizia Churchill (um outro plácido filho de anglo saxões): democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras. Pra quem gosta de quotes mais fiéis: Democracy is the worst form of government except from all those other forms that have been tried from time to time.
Por isso, vá ser livre, filho, porque segunda feira tem mais.



Oculto Aniversário

   Meus parabéns também ao nosso escritor e futuro jornalista Marco Aurélio que fez aniversário este mês dia 07/07, de forma tão sorrateira que não quis marcar nem em suas rede sociais o dia do seu nascimento e nem anunciou seu aniversário, apenas nos convidou casualmente para um churrasco em sua casa e só descobrimos que não era tão casual assim quando perguntamos o motivo da festividade.
   Em todo caso, meus "para-"s para ti também e todos os demais aniversariantes deste mês e desse primeiro semestre. Felicidades, Força Fé Coragem e Sucesso!

Parar para pensar nos 'para-'s além do Pará

Meus parabéns ao nosso escritor, redator e talvez futuro professor Ian Caetano, que hoje neste dia (23/07) comemora, como já dizia a tia, mais um ano de vida.
Meus parabelos ao nossos leitores, guerrilheiros e brasileiros que lutam por melhoras neste mundo de pertigueiros. Irão precisar.
Meus parachoques aqueles motorista que sem noção, juízo ou policia encontraram na sua estrada a última parada.
Meus paradigmas aqueles que o acharem, se lhe bem servir, e quiserem relevar, se esse chegar a existir.
Meus paraquedas para quem nasceu agora e não pegou o filme da humanidade do começo.
Minhas paralelas para aqueles que as encontrarem no infinito.
Meus parasitas ao Senado, caso lhes venha a faltar.
Meus paratextos aos que resolverem ficar, acompanhar, curtir, comentar e compartilhar
enquanto me imagino num paravante até avistar um parajá neste meu céu do sertão.

Desafio "Narrativa Retalhada" - 1/5

     Olá leitores,
     Hoje nós do Machado de Eugênio estamos nos ingressando num complexo desafio e iremos contar a história de Grégore Trevor. Espero que gostem!
     Mas antes de iniciarmos vou esclarecer o desafio: A proposta é de produzir uma descontinua narrativa em cinco partes, sendo cada parte escrita por um autor diferente. Para isso incumbimos a um convidado especial a dar inicio a esta bagaça toda, que é ninguém menos que J.V. Leão, mais conhecido por Jimmy. Para quem quiser conhecer mais o seu trabalho clique aqui: Hadron Design. Agora, seguindo uma ordem de sorteio, Kaito Campos, nosso escritor e desenhista, terá que dar uma continuidade a esta estoria de onde Jimmy parou, eu, Alisson Rodrigues, terei então que dar sequencia a partir dos escritos de Kaito, em seguida Ian Caetano fará o mesmo dando continuidade e Marco Aurélio Faleiro finalizará amarrando todas as pontas e nos surpreendendo com um grande final.
     A cada domingo sairá mais uma parte da saga de Grégore Trevor (personagem fictício criado por Jimmy), podendo esta história tomar rumos inimagináveis e sendo descrita de maneiras bem distintas, e não importa o quão estranho e sem nexo acabe a narrativa daquela semana, o autor da semana subsequente terá que utilizar de toda sua criatividade para continuar aquilo de forma que faça sentido. Será que teremos jacarés em esgotos? Fantasmas? E.T.s? O fantasma de um jacaré de esgoto de outro planeta chefe de uma gangue que baleará Grégore por acidente? Terror? Romance? Suspense? Erotismo? Comédia? ... 
     Assim, como uma colcha de retalhos iremos parir uma história! Divertam-se!
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Grégore Trevor

     Eu então acordei bem cedo, pelas condições climáticas podia-se deduzir isto. Talvez o cheiro de pão recém assado e café requentado denunciassem também. Estava difícil identificar o lugar, havia uma neblina densa, que tomava todo o ambiente. Uma neblina de um branco intenso, só não mais intenso devido ao fato de estar realmente muito cedo. O que eu poderia sugerir é que eu estava em um banco de alguma praça de algum lugar bem arborizado. Eu sentia cada viga de madeira, cinco no total, três no assento e duas no encosto.
     Alguém me deixou ali, não tenho dúvida.
     — Aiii... — Se eu ao menos conseguisse me lembrar. Já estava recobrando o raciocínio, muito lentamente, diga-se de passagem, mas as engrenagens do meu cérebro pareceram ter descoberto seu ritmo. Sim, pois, a força necessária para tirar um corpo da condição estática é bem maior que a empregada quando ele já está em movimento. Como sei disso? Talvez eu seja um professor de matemática.
     O problema é que, junto com a memória, vêm as demais funcionalidades do corpo; a fome, a dor, a sede a fome, a vontade de ir ao banheiro...
     — Quantas horas? — Que estranho não consigo me mover. Tentei sem sucesso erguer o meu pulso rumo a minha cabeça. Sinto algo envolto no meu pulso, tenho quase certeza que deve ser um relógio. Droga! Eu quero simplesmente levantar o meu pulso! Se fosse algum envenenamento ou utilização de psicotrópicos haveria algum outro sintoma (uma dor localizada ou uma fumigação/ardência...
     Algum tempo se passou, enquanto fiquei tentando, músculo a músculo, me movimentar. De repente passaram várias ideias e hipóteses na minha cabeça Seria eu Uma Estátua? — Então, elas tem consciência! Que descoberta incrível. O mundo deveria saber disto. Não haveria mais pichações, deveria-se fundar uma sociedade protetora das estátuas.
     — Pára Gregore! Você está ficando louco.
     Grégore? Então este era o meu nome. Você não sabe o vazio que é para uma pessoa não lembrar quem é. Mas não sei por que, não estava desesperado, algo em mim me acalmava, e eu tinha a impressão de que não tinha algo muito bom sobre a minha história. Bem, agora eu deveria esperar pelas próximas pistas do meu subconsciente...
     O Sol começava a subir, era possível sentir o calor suave que se projetava sobre o meu rosto, e sobre o meu corpo. Tinha que sair dalí! Tive então uma ideia maluca, resolvi usar a gravidade ao meu favor, Agora que a neblina ia evanescendo era possível ver os contornos da Igreja da Praça da Matriz e, ao lado a Padaria, que já fazia meu estômago roncar. Projetei meu corpo para o lado, com a intenção de cair mesmo. Quem sabe, alguma boa e caridosa alma se compadecesse.
     Deu certo, com um impulso que não sei de onde tirei. Senti o baque, e a maciez da grama. Mas a queda foi dura, é muito estranha esta sensação de se “deixar cair” em uma situação normal jamais faria isso. Após a queda senti que algo se desprendia das minhas costas, e, em pagamento pela dor que senti, física e moralmente, eu ganhei um presente.
     Consegui me mover.
     ...
Jimmy Leão 

O HOJE


            E naquele dia, nascemos... claro, não foi exatamente nele, mas ele foi instituído como o dia em que lembraríamos de tudo até então feito, e de tudo até então traçado.
            Nós, que agora éramos inerentes à conexão, nada mais éramos do que o mesmo de antes, mesmos braços e pernas da mesma carne de sempre, com os mesmos ossos, nervos e veias e artérias de sempre, e todo o mais que no corpo está. Mas éramos, de alguma forma, diferentes, diferentes daqueles que geraram o mundo no qual nascemos. Diziam que antes não existia essa conexão. Diziam que antes as coisas eram diferentes, tanto as conversas quanto os locais, tanto as formas quanto as noções de diversão, de certo e de errado. Nós nascemos neste mundo, completamente alocados nele, completamente imersos nele, completamente indissociáveis. De fato, entender o mundo tal qual era antes do que víamos, era nada mais do que uma mentira convencionalmente aceita, nenhum de nós conseguia imaginar o mundo antes da total e plena conexão. Antes da integração universal e veloz de todas as ideias, pensamentos, reflexões, piadas e profecias. Nenhum de nós entendia como a roda girava antes disso.
            No dia em que instituíram o dia “em que nascemos”, o fizeram só por já entender como irreversível, o que há muito já se via e se sabia. Não mais conversas de bar, não mais contar a novidade pessoalmente para a vovó, não mais convidar amigos nos fins de semana para vir a nossa casa jogar jogos de qualquer espécie. Perceba, falo disso tudo pelo que ouvi dos que me antecederam, não vivi nada disso, e não entendo como isso tudo funcionava. Agora estávamos sempre em conversas e trocas com aqueles que conhecíamos, e até com aqueles que não conhecíamos, fazíamos tudo por meio das conexões, já nascemos com elas, nada mais natural. Já eram, quando viemos, parte mister na vida e nas funções diárias do cotidiano. É verdade que muitas coisas, segundo os velhos, piorou, mas acho que só falam isso porque não conseguem se adequar às novas tecnologias, velhos são sempre assim, alguém me diz porquê?
            Mal saímos de casa, por assim dizer, mesmo os trabalhos são cada vez mais residenciais e administrativos, para não dizer burocráticos. A conexão nos permite estar com todos ao mesmo tempo e à mesma hora, sem que eu tenha de levantar do sofá, ou sem que eu tenha de parar de comer o meu hambúrguer de copo.
            Nesse mundo nascemos, e é esta, e só esta, a realidade que conhecemos, não vivi futebol na rua, nem partidas de vídeo-game presenciais, nunca entendi essa história de CD e DVD, nunca vi um livro de papel e não sei até hoje se entendi plenamente o que é um lápis.
            E é esse mundo que eu abracei com a vida.

Macumba para esquecer

urbana legio omnia vincit


Fiquei cutucando minha inspiração com o desconforto que o buraco desse filminho me dá, mas ela continua adormecida. Mar já é uma coisa medonha: aquele tanto de água, minha cama boiando naquele tanto de água à noite, frio, lulas gigantes lá embaixo ou a carcaça de um navio enorme, a carcaça de um avião enorme, ondas enormes, repetições enormes! É, ela não acorda. Deixa pra lá. Coca. Ou, eu tenho pesadelos com minha cama boiando no meio da noite e do mar. E agora eu tava pensando em ir dormir, são 36 minutos do dia do amigo, segundo o face, viva, amigos! uhuuu, mas tem um barulho na minha janela, bem no vidro, atrás da cortina. E eu resolvi pensar no buraco do mar, minha cama lá em cima, imagina se eu sou sugado lá pra baixo! O barulho não para, minha tia que via gente morta andar tá dormindo ali na sala, eu ainda tenho que passar do lado do colchão dela pra desligar a porra da impressora e pegar meu edredom no guarda-roupa da minha irmã. Ok, vou ver uma sitcom, rir, esquecer e sobreviver. 


A Mecânica mundial


                É sempre essa lenga-lenga de vir e choramingar sobre como o mundo é isso, sobre como o mundo é aquilo. Mas a verdade é que estamos todos confortáveis alimentando isso tudo. A prova disso é que, mesmo vendo as incontáveis vezes em que o caminho trilhado até agora deu em nada, lho seguimos mesmo assim. Somos against the society (\õ/), mas estamos ai sedentos para entrar no mercado de trabalho, de cursarmos uma faculdade, de ganharmos dinheiro... a diferença é que uns tem melhores argumentos que outros. Quando falo desta diferença estou claramente sendo hiperbólico, admito que uns contribuem mais à merda do que outros, alguns são mais culpados, e naturalmente merecem olhares mais severos. Mas não nos enganemos, é muito difícil ocorrer d’as razões egoístas estarem a frente das coletivas.
                Eu digo, por exemplo; e ai há até um paradoxo se considerarmos as aspirações humanas, mas a humanidade tem uma incoerência inerente, lha perdoemos; tudo cai, tudo está em um constante estado de decadência, mas o não finito é a maior das aspirações humanas. A humanidade alimenta e amaldiçoa constantemente este ciclo, mas ai estamos nós, fazendo a roda girar. Cada vez mais buscamos a vida indeterminadamente longínqua, cada vez queremos mais que a ruga seja um substantivo abstrato, cada vez mais queremos a felicidade eterna. Mal nos lembramos de que sem o amargo, você nunca saberia que o doce é de fato doce. Acho que é por isso que cada vez mais os risos ouvidos em todos os cantos parecem-se mais com o riso de desespero do que com o de franca alegria.
                E tudo pode, desde que seja pela aquisição de dinheiro. E aceitamos que a mídia faça sua parte conosco. Basta pensar que a grande maioria foi a favor, por exemplo, da invasão americana ao oriente, ou do enforcamento do ditador Saddan Hussein. A maioria achou normal um país invadir outro sem provas concretas que corroboravam suas ações e saírem de lá com um político nas costas para depois virem enforcá-lo além mar. Eu não me lembro de terem achado as tais armas químicas, a minha mostarda ainda é só tempero. Engraçado a gente não aceitar, por exemplo, o martírio das mulheres no Irã, mas ver com a maior naturalidade a situação em que certas mulheres no próprio nordeste brasileiro são postas, ou mesmo em favelas do rio. E são histórias escabrosas. Não digo que as do oriente não são, mas somos tão cegos que não enxergamos a merda do nosso lado. “Nossa, porque no oriente as coisas são tão feias, né?”, do seu lado também, basta buscar nos jornais ou documentários. Mas não, como há um interesse financeiro muito grande naquelas partes, nos compelem a achar que seria muito bom se o exercito de Deus, também conhecido como Força Militar Norte-Americana, invadisse aquelas bandas, então civilizaríamos aqueles povos, lhes daríamos burger king e mc donald’s e eles seriam felizes enquanto extraímos o seu petróleo. Me parece bastante lógico. “Mas e o fato dos americanos não providenciarem aposentadoria para seus velhos?”, “e o fato do número de mendigos lá ser cada vez maior?”, “e os movimentos de ultra-direita que crescem na Europa?”, “e o fato de que os votos em partidos de ultra direita na França, na Alemanha e em outros países vem subindo muito?”, “e o fato de, nos Estados Unidos, cada vez mais a polícia estar repreendendo movimentos de protesto, algo que fere a democracia?”. Não seja estúpido, meu caro. Eles são os mártires da democracia, da liberdade, da igualdade e da justiça; são civilizados, foram eles que nos deram o benefício da civilidade e do pensamento racional.
                É... somos realmente atentos e civilizados.

Dia a dia




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Tocou no nome da Globo para falar mal (falar a verdade) = "Encerra o programa! Rápido rápido!"

♫ Tô


Tô bem de baixo prá poder subir
Tô bem de cima prá poder cair
Tô dividindo prá poder sobrar
Desperdiçando prá poder faltar
Devagarinho prá poder caber
Bem de leve prá não perdoar
Tô estudando prá saber ignorar
Eu tô aqui comendo para vomitar

Eu tô te explicando
Prá te confundir
Eu tô te confundindo
Prá te esclarecer
Tô iluminado
Prá poder cegar
Tô ficando cego
Prá poder guiar

Suavemente prá poder rasgar
Olho fechado prá te ver melhor
Com alegria prá poder chorar
Desesperado prá ter paciência
Carinhoso prá poder ferir
Lentamente prá não atrasar
Atrás da vida prá poder morrer
Eu tô me despedindo prá poder voltar
Tom Zé




Férias


                Pois é, já intera ai demasiado tempo que estou de férias...
                Foi-se o tempo em que as férias eram uma data esperada em meio a grandes projetos do que fazer com ela, que naquela época nada mais eram do que ficar em casa jogando vídeo-game e fazer uma viagem em família, mas para nós, que ainda éramos crianças, era o máximo. Férias ainda são boas, mas sem o quê místico de outrora, e com a universidade, alguns, como é o meu caso, nem param totalmente os fazeres. Estou em meio a pesquisas e projetos científicos, nada grande, mas preciso me empenhar...
                O chato das férias, talvez seja seu início e seu fim, à priori não há nada para fazer, li um sem fim de livros, artigos, notícias e folhetos... Joguei tudo que ainda me apetecia jogar (cada vez mais sinto menos prazer em jogar vídeo-game) e escrevi também. O seu fim é igualmente chato porque paradoxalmente você está chateado por elas, as férias, acabarem, mas também não as aguenta mais.
                Também é época dos serviços de verão. O Marco Aurélio, por exemplo, arranjou um emprego em um escritório de um certo tio... Eu estou fazendo uns showzinhos de música por cachê, servindo mesas em um bar as quintas e agora, mais recentemente, também estou traduzindo revistinhas pornô do inglês para o português.
                Um adendo... sabendo-se por pesquisas recentes que 70% do tráfego da internet se dá em função da pornografia, iludido é aquele que acha isso um mal negócio.
                E é isso. Mas há algo muito bom nas férias, dormir. Posso dormir até a hora que me convém. E ver filmes também, que ultimamente estou pondo marcha na minha lista de “para assistir”.
                A merda das férias, pelo menos pra mim, é que ela tem a habilidade de te arrancar todo o seu dinheiro, parece uma macumba. Por isso tenho tentado preencher tanto o meu tempo.
                O que vocês, leitores têm feito nas férias?
                Escrevam ai! 
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PS: O LEITOR QUE FIZER UM TEXTO BEM LEGAL (ARTIGO OU CONTO) COM O TEMA FÉRIAS ATÉ O DIA 29 e ENVIÁ-LO PARA O NOSSO E-MAIL TERÁ O TEXTO PUBLICADO E GANHARÁ UMA MEDALHA HONRA AO ÓCIO. EU SEI QUE NÃO É MUITO, MAS POXA GENTE, AJUDEM AI!

_ Que Farei desta Série? _


E o Homem, embevecido com o próprio reflexo, regozijando glória ao contemplar os próprios feitos, não viu outra maneira de explicar a si próprio que não fosse ser criado por um ser igual a ti, só que maior, maior em todos os sentidos, tanto nos medires quanto nos fazeres. Então o Homem criou a Deus, e este criou o Homem, a sua imagem e semelhança, tanto nos defeitos quanto nos acertos, tanto nas virtudes quanto nos males. Deus. E os homens lhe disseram perfeito, e perfeito ele criou o Homem, mas só mais tarde se descobriria que tanto a criação do Homem, Deus; quanto a criação de Deus, o Homem, são tão imperfeitos quanto os próprios.

Amém.

E Dante acorda todo suado. Não era a primeira vez que acordava assim, nem seria a última, salvo está se alguma catástrofe natural ou algum assassino passasse por ele; e ainda temos a possibilidade deste assassino não conseguir seu objetivo, considerando ainda a hipótese de que exista um assassino que queira caçar Dante, o que é absolutamente improvável. Enfim, Dante acorda. Só depois de acordar é que percebe que não só está suado, como está também sangrando. Sangra pelas orelhas e por um buraco atrás da cabeça, um buraco de bala. Ao acidentalmente derrubar uma taça que repousava sobre o criado-mudo e vê-la espatifar-se em mil no chão e não ouvir nada; percebe também que não escuta.
Curiosamente, contra todas as leis da vida e da natureza, ainda vive. Com sangue nos ouvidos e um buraco atrás da cabeça, está muito calmo para alguém que esta vivo quando não deveria estar. Percebe então, por estar defronte uma situação contrária a tudo que a vida diria como plausível, que está, além de contrariando as normas, encarando com muita naturalidade esta atipicidade, é como se a morte lhe houvesse esquecido, como ele houvesse driblado a certeira foice. Só há uma explicação: Ainda está sonhando.
Ao conjecturar sobre o fato, verdadeiramente acorda. Está todo suado tal como no sonho, mas a taça ainda está inerte sobre o criado-mudo, ele não sangra pelos ouvidos e nem tem um buraco atrás da cabeça, apesar de que, se perguntado, juraria tê-lo tamanha a dor de cabeça que sente.
Apesar do atropelo das palavras e da confusão inicial, peço aos leitores que não desanimem ainda.
Esta história é história de Dante, um blogueiro amargurado que pouco simpatizava com os outros ocupantes da terra. É a história de como Dante passou a ser quem era, de como viveu e de como mudou drasticamente suas concepções de mundo. E também como morreu.
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Ps: Este é o prologo de uma série que estou começando, talvez vá ao ar na próxima semana. E então, que acham?

Nossa educação

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"Para uma seleção justa
todos terão que fazer
 o mesmo teste: por favor
 subam naquela árvore"

I double dare you!


Ouro de Tolo


                Eu devo ficar feliz, eu devo ficar contente com o que conseguirei daqui pra frente.
                Vou me formar, com sorte terei um bom emprego, com muita sorte, porque se, como 90% de meus colegas, eu virar professor, não sei se poderei dizer disso bom emprego, não pela profissão, claro adianto, pois lha acho digníssima, das mais honradas e merecedoras de louvores, mas parece que quem paga os professores não pensa o mesmo, de modo que, me tornando um deles, me tornando um professor, à mercê desta realidade também estarei.
                Eu deveria estar feliz por cada vez mais o homem não ter como descansar, pois alguns trabalham seis dias da semana em cargas atrozes, com suas folgas caindo em dias de semana. Como é que eu vou comer a macarronada de domingo da vovó em plena terça-feira? Como? Como como? Mas eu devo estar reclamando de barriga muito cheia. Existem aqueles que nem folga tem. Pela urgência dos anseios, pela fatiga do corpo, pela necessidade dos familiares têm de trabalhar até onde o corpo, de exausto, nem se aguenta. E como é que podem cobrar desta pessoa e dizer-lha sem instrução? Que condição ela teve? Ela nunca vai poder discutir Marx, Kafka ou Machado de Assis comigo, mal tem refresco para assistir a um dos poucos deleites que os de cima deram pra ela, a novela das oito que começa as nove.
                E eu devia estar feliz por ter quem me dissesse: “você não pode fazer só o que quer”, porque assim eu pude perguntar “e porque não?”, para que, enfim, soubesse a resposta “porque se você fizer só o que quer e não arranjar um trabalho, você não vai ter dinheiro para fazer as coisas que quer.”
                Eu devia estar feliz por ter conseguido não o emprego que eu sonhava, mas o que me foi possível, pois assim, ao menos, eu não morro de fome e consigo pagar minha bebida. A, mas que sujeito chato sou eu, que tem o que muitos querem e só sabe reclamar e reclamar, e não acha graça em nada.
                Eu devia, senhor, eu devia agradecer-lhe por ter-nos dado a vida. Depois o senhor foi descançar, e é justo também, até tu, rei dos reis e provedor dos provedores, tem o direito ao recanto e ao sono. E não tem problema se o senhor do sono nunca acordou, porque a culpa da nossa miséria é exclusivamente nossa, não é do senhor e nem do vilão que dizem estar em guerra contigo. E alguns podem me perguntar “como assim, nunca acordou?”. E eu diria convicto que o senhor ainda hoje está de férias. E podem até me responder um sonoro e alto “NÃO”, que eu replicaria “pode até ser que ele esteja acordado, mas se está, ele nunca mais olhou pra cá.” Claro está que tal frase é antes um panfleto que uma real convicção, pois é como lhe falei, senhor (que nem sei se ai está), a culpa é única e exclusivamente nossa.
                Que mal agradecidos seriamos se, ao invés de tentar resolver nossos problemas, ficássemos jogando a culpa no senhor ou pedindo do senhor a resolução às nossas cagadas.

Crônica de inverno

   Era verão!
   Mas não no hemisfério em que ele estava, contudo isso não importava mediante aquele clima equatorial. Alguns quilômetros na direção certa o situaria no outro hemisfério, mas se fosse só alguns, como lhe era possível naquele momento, continuaria ainda dentro daquele clima equatorial quente e úmido, mas não era isso que ele queria, era justamente o rumo oposto, pois este era seu primeiro inverno!!
   Nunca conhecera o frio intenso, que não fosse o dos ar-condicionados. Por uma feliz, ou triste, coincidência sua família viajava bastante devido ao emprego de seus país, permanecendo em cada local, nada mais que três meses e nunca, desde seu nascimento, ficaram em um lugar quando a estação era inverno. Sempre verão, primavera e no máximo outono. Logo ele que tinha como música preferida Winter, de Vivaldi.


 

   É curioso como as pessoas tendem a buscar o desconhecido! Pode até não ser tão bom quanto aquilo que já lhes tens, mas o mistério, o novo, o inexplorado e a nova experiência faz compensar tudo, é a possibilidade que estimula o ser humano, que lhe da força para prosseguir com a vida a cada manhã.
   Era inverno! Mas não era isso que tinha em mente o garoto. Toda aquela expectativa quebrada em enorme frustração. Contudo, mesmo tendo pais ausentes grande parte, em poucos segundos a mãe percebeu o que havia acontecido.
   Na manhã seguinte a mãe então lhe dá um presente: uma raia (uma pipa). Pois pensara esta ser o motivo de tal frustração, já que seu filho era uma das poucas crianças do bairro que não praticava tal desporte. A principio nem fez muita questão de seu presente ao vê-lo, mas quando sua mãe lhe fez um gracioso sorriso ao entregar a pipa em suas mãos sua percepção mudou, e foi quando ele percebeu que deveria dar uma atenção maior ao que estava acontecendo.
   Largou sua revolta de lado e, com um sentimento de obrigação para retribuir o agrado da mãe, correu para fora na tentativa de estrear seu novo brinquedo. Teve dificuldades a princípio, mas observando os outros, logo pegou o jeito.
   Se apaixonou rapidamente pela brincadeira, de forma que ele não esperava que poderia acontecer. Começou  a fazer amizades rapidamente com os outros de sua idade e praticantes, pegando dicas, aprendendo manobras, participando de duelos e frequentemente correndo atrás de "raias toradas".
   Com o vento o tempo também passou de forma ligeira, de forma que o menino mal viu que se passaram 3 meses e era hora de arrumar as malas. Porém o menino relutava em ir, contudo foi convencido quando ouviu falar que a temporada de pipa tinha acabado, pois os ventos já não eram tão fortes.
   Chateado entrou no avião, nem notando para onde se dirigia. O que lhe importava? As coisas boas que lhe eram proporcionadas eram lhe retiradas de forma mais rápida ainda. Adormeceu!
   Acordou quando o avião estava prestes a aterrissar. Olhou para a janela que estava a duas poltrona de distância, mas não conseguiu ver nada devido as nuvens e pelo fato de a pessoa que estava sentando próximo a ela fechara-a antes que o garoto pudesse ver algo.
   Ao desembarcar seu pai então surgiu atrás dele, se esticou um pouco e lhe sussurrou: "é outono, mas eu poderia jurar que de fato é inverno". O menino olhou para fora e percebeu que estava nevando!