Das considerações sobre o tempo


                E o que te falta? Uns respondem dinheiro, outros força, a outros falta um braço ou perna; a mim falta tempo. As infinitas possibilidades, como até disse um tal de Bauman, talvez o maior infortúnio humano é justamente tê-las, pois delas nunca poderemos desfrutar em plenitude. Somos menos do que os nossos antepassados nos deixaram, tão menos que não mais aquilo que foi deixado nos serve, mas nós vivemos em prol daquilo que foi deixado, aquilo que estava já aqui muito antes de você, muito antes de mim.
                Este texto tem como estopim sintetizador uma recente atividade que tive de abandonar: a tentativa de algum espólio musical relevante. Tive de abdicar das rotinas fixas de ensaios, dos compromissos de pequenos shows em bares e até mesmo do estudo mais acurado da música, isto tudo em prol da faculdade. Ainda musico por hobbie, de alguma maneira haveria de continuar, mas sabe-se que a cicatriz aqui fica. Não estou aqui a choramingar, fiz a escolha em plena ciência de minhas prioridades, e não falo aqui de estabilidade financeira ou do quê virá a ser mais facilmente realizável, até porque, se eu fosse por essa linha de raciocínio, minha escolha seria tudo, menos teleológica. Fiz a escolha que fiz, em síntese, porque sempre quis respostas, e a música não me forneceria elas. Tive de escolher entre me dedicar plenamente aos afazeres acadêmicos ou a continuar dividido entre os vários quereres.
                E meu amor, a Lília, até questionou “mas Ian, você não é demasiado novo para abdicar tão firmemente assim de algumas aspirações?” e ela até pode estar certa, mas algumas escolhas na vida a gente tem de fazer, e a música, por mais que se fale de sua efervescência na juventude, pode ser retomada adiante, diferentemente do período acadêmico, este tenho de agarrar, pois não volta.
                A vontade, a urgência, a necessidade de tentar entender; já escrevi sobre isso aqui mesmo, esta comichão que se nos põe a roer dentro e não para até que nos sujeitemos a suas vontades. E pior ainda talvez seja saber que, mesmo tendo todo tempo do mundo, não poderei tentar entender nem um décimo daquilo tudo que tenho vontade. O que me conforta é tentar, mas plenamente notificado da finitude de minhas capacidades.
                O que me consola, e só consola, é a concepção de que, se existe impressão que se deixa na terra, certamente não são filhos, tão pouco bens, mas descobertas, feitos do cerne, trabalhos do intelecto... estes perduram as gerações e os ciclos, e os dias, e os anos.
                E então temos a certeza de que deixamos o caminho andado.

CONSIDERAÇÕES DE ÚLTIMA HORA


Estar à beira do abismo, mas não cair, nem ter coragem para pular de uma vez. Ficar à espera de um vento inexistente, uma brisa que seja para te empurrar pra dentro e acabar de vez com essa indecisão... Algo que tome as rédeas da situação e cuide do seu fim, para te eximir um pouco a culpa.
Culpa essa que lhe foi incutida logo na infância, quando lhe tiraram até mesmo o direito de controlar sua própria vida , afinal acabar assim, colocar um ponto final na droga da existência que Ele te deu com tanto amor não passa de uma covardia, um ato que o levará direto para as masmorras flamejantes do inferno, caindo diretinho no colo do nosso amiguinho lá de baixo.
Então você fica nessa, se achando ao mesmo tempo corajoso; corajoso porque resiste, um verdadeiro sobrevivente. Sobrevivente, era para ser uma bela palavra, mas indica nesse contexto a condição lamentável em que você se encontra. Você honrosamente escolheu, em vez de morrer e dar sossego a quem o cerca, SOBREVIVER. Apenas aguentar enquanto tiver forças. Você não terá assim que arcar com uma possível punição pelo único ato digno que poderia vir a ter em toda essa sua maldita vida, e anula assim, pelo preço da escolha, ou melhor, de não escolher, de deixar que escolham para você, qualquer chance de redenção perante a si mesmo, e seu próprio julgamento de caráter, na esperança de uma redenção maior. Essa redenção, o perdão, o suposto reconhecimento por ter feito tudo que pode, quando na verdade, você não fez exatamente nada, apenas se sentou, parou no tempo e esperou, e isso irá te atormentar para sempre. Se o sempre existir...
Mas o sempre não existe, não existe para você; ou pelo menos é disso que você tenta se convencer. Afinal, se passar por tudo isso agora para ter que viver eternamente insistindo mais um pouco, batendo sem parar na mesma droga de tecla seria muito castigo, literalmente alguém muito sádico estaria controlando tudo isso, e você não consegue acreditar que o ser superior que te ensinaram a amar e respeitar fosse capaz de tamanha brincadeira de mau gosto. Mas ao mesmo tempo, para ter alguma confiança nesse ser e em sua capacidade de querer o bem você teria de acreditar nele, o que o levaria diretamente a acreditar nas propostas de vida eterna e perfeita ao lado d’ Ele. E se é esse exatamente o ponto em que nada faz sentido e você espera sinceramente que nada disso exista realmente, não há, então, o que temer. Pode pular sossegado e acabar com tudo. Supondo sempre que seus desejos estejam certos e você não vá pra porra de lugar nenhum e tudo acabe mesmo no exato instante que seu corpo tocar o fundo do abismo. Nesse momento você para e começa a reconsiderar as possibilidades todas novamente.

Gaia, lixo, cheiro do ralo e extinção da raça humana



O que faremos com todo esse lixo que produzimos? São toneladas geradas por dia em pequenas cidades. O montante mundial (diário, diga-se) é praticamente incomensurável.

Consideremos o argumento de que o homem só é capaz de alterar o que existe na natureza, e não criar. Há verdade nisso, claro que há. Mas, em volumes astronômicos, os produtos finais de toda essa epopeia (gases, plásticos quase indecomponíveis) são coisas com as quais o nosso atual ambiente não está habituado; ou melhor, as formas de vida modernas não são habituadas a tudo isso.

Em suma, estamos transformando o ambiente em que vivemos. Ambiente esse que, até o presente momento, é o único reconhecidamente (por nós mesmos, grande coisa) capaz de permitir a existência de qualquer tipo de vida.

A natureza segue em frente. Nós é que poderemos não estar aqui pra ver isso acontecer.

(Clique na imagem para vê-la em tamanho maior).

Vamos fazer um filme

Eu tava vendo esse filme, Beleza Americana, e o Ricky me fez chorar só com o que falava enquanto o vídeo da sacola voando ia passando na televisão dele. Ele disse:

“Foi num desses dias quando está quase nevando e tem essa eletricidade no ar, você quase pode ouvi-la, sabe? E esta sacola estava dançando para mim, como uma criancinha implorando para brincar comigo. Por quinze minutos. Foi neste dia que percebi que existia toda essa vida por trás das coisas, e essa incrível força benevolente que queria que eu soubesse que não existe razão para ter medo, nunca. O vídeo é uma desculpa pobre, eu sei. Mas me ajuda a lembrar... Eu preciso me lembrar... que, às vezes, tem tanta beleza no mundo que eu acho que não consigo aguentar, e meu coração parece que vai desmoronar."


"Vamos fazer um filme. E hoje em dia, como é que se diz eu te amo?"
Urbana Legio

Tolerância... ou não.


          A cada vez que saio na rua começo imediatamente a olhar a minha volta e enumerar os defeitos da humanidade. Falta de bom senso, em qualquer aspecto da vida, me deixa enfurecida.
            É a garota que ri alto dentro do ônibus, o casal que se beija como se fossem devorar um ao outro, o guri sem os fones de ouvido que insiste em compartilhar sua musica com todos.
        São as garotas vestidas como se fossem para um baile funk, o carro cujo dono deve ter descoberto  caixas de som recentemente e quer mostrar pra todos essa maravilha tecnológica.
          Pessoas que citam as bênçãos de Deus na sua vida no meio de uma conversa descontraída, enfim, há na verdade algumas poucas  coisas nas pessoas que não me fazem querer mata-las.
           Ranzinza, ouço muito esse adjetivo, e até concordo com ele, acho que pessoas como eu devem sim, maneirar um pouco nas criticas para não acabarem perdendo o senso crítico com relação a si mesmas, preocupadas  apenas em analisar os demais. Sim, porque não vamos confundir uma observação do comportamento das pessoas com um julgamento. Nisso reside a diferença.
       Acho que crucificar as pessoas mentalmente pelos seus atos e defeitos já demonstra certa prepotência, querer consertar o mundo (embora eu queira). Mas parar para observar, analisar para ter certeza de que não anda fazendo as mesmas coisas por ai, acho que é extremamente saudável, respeitar as atitudes e opiniões das pessoas é diferente de achar que tudo é normal e válido, todo mundo fazer oque quer sem pensar no que isso pode afetar quem o cerca parece muito confortável, ate o momento em que isso afete você.
         Não acho que as pessoas devem ficar o tempo todo se comedindo com medo de ofender alguém, de estressar alguém seja o ideal, mas pensar mais em conjunto, ou simplesmente pensar, que é o que muita gente por ai não faz antes de agir ou falar, simplesmente existem mergulhadas na sua própria vidinha sem se ater ao fato de que vivemos todos em conjunto e temos que fazer o melhor possível para que essa convivência, não seja tão desagradável.

Jean Charles não seria notícia no Brasil



(Assista a partir dos cinquenta segundos e perceba como o PM desce o cacetete no sujeito que já estava no chão).

Algum tempo atrás, vinha eu num ônibus bem cheio no início da noite quando, aparentemente, um rapaz foi assaltado no ponto e o perpetrador do crime entrou neste mesmo ônibus. Instantes depois, uma viatura se aproximou e pediu que o motorista encostasse. Pela rapidez, elogio o policial que foi tão solícito, prontamente atendendo ao pedido do garoto vitimado. Mas o que repudio foi o que aconteceu em seguida: o homem fardado da polícia militar sacou sua arma e apontou para o interior do ônibus que, diga-se de passagem, estava lotado de pessoas “alheias” ao ocorrido. Ele entrou e convidou a vítima a tentar reconhecer o suspeito no meio daquela multidão de pernas. Para a infelicidade do rapaz, o suspeito não estava ali.
A pergunta é: um moleque que tomou uma mochila e saiu correndo precisa ser contido com uma arma de fogo? E, mais ainda, como pode o sujeito apontar o instrumento mortífero na direção de qualquer um?
A verdade é que a polícia brasileira como um todo é despreparada. Mal treinada e mal remunerada, muitas vezes corrupta e até criminosa. Pagam salários miseráveis, treinam-nos com a mesma eficiência com que ensinam nas escolas públicas e, ainda assim, colocam calibres grossos na mão desses homens. Não só isso, colocam nas suas mãos, na maioria das vezes, a responsabilidade de decidir se alguém morre ou não. Esses mesmo que ganham pouco e são despreparados podem declarar sentenças de morte com uma leve pressão no gatilho.
Sem falar que grande parte do armamento que vemos em posse dos “bandidos” pode ter sua procedência rastreada até um policial. Ou estes vendem para aqueles ou aqueles tomam destes.
Vivemos num estado de guerra literal. O aparato bélico, tanto de um lado quanto de outro, é de guerra. E a respeito dessa série de assassinatos que aconteceram ao longo desse ano em Goiânia, o que dizer? Os dois lados matam e matam e matam. Não foi no mínimo suspeito o que aconteceu com aquele advogado, o Davi Sebba?
A polícia não serve para oprimir, como muitos pensam por aí.

Se você já sofreu algum abuso de um policial que se julga capitão Nascimento, compartilhe nos comentários.

O demoníaco calor das geleiras do inferno me fazem transpirar

    Para se refrescar do calor, os persas tomavam um sumo de frutas bem doce e gelado.
    Os egípcios também fabricavam os seus gelados há 4 mil anos, enquanto os árabes misturavam sumo de fruta com gelo.
    Na China, o leite era uma mercadoria cara. Por isso, a sobremesa predileta da nobreza era uma pasta, feita de leite e arroz, que era colocada na neve para solidificar.O principal problema era armazenar neve para o verão em rudimentares câmaras frigoríficas subterrâneas, com grossas paredes de pedra.
    Na Idade Média, quando os chineses já faziam gelados, adicionando a neve ao leite, Marco Polo (1254-1324), o explorador veneziano, levou o gelado para a Itália. Dali, os famosos sumos de fruta congelados alcançaram a França e logo depois o resto do mundo.
    No século XVI, o italiano Bernardo Buontalenti inventou o gelado à base de leite, mais macio e nutritivo. Na primeira metade do século seguinte, um outro italiano, Procópio Coltelli, criou a máquina de fazer gelados.
    Atualmente um terço de todos os gelados vendidos no mundo são de baunilha (não creme).

    No Brasil, em 2002, a ABIS instituiu o Dia Nacional do Sorvete. A data é comemorada todo dia 23 de setembro e foi criada com o objetivo de celebrar o início das temperaturas mais altas do ano, já que é nesta época que o consumo de sorvete no país aumenta.
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    Subira no alto de um prédio sem permissão. Colocou sua cadeira no terraço e ficou embaixo do seu guarda sol, apenas para ver o mundo queimar. Por causa da ausência do vento estava tão quente lá quanto vinte andares abaixo. Não tardou para que aquilo tudo lhe parecesse uma péssima ideia. Naquele momento então pareceu lhe sensato pular do edifício para sentir uma suave brisa no rosto. Pulou!
    Não foi tão agradável quanto ele esperava, a brisa fresca parecia mais como o vapor que saí de uma chaleira quando o chá está pronto. Sentiu-se sendo assado ao bafo(-do-capeta).Ocorreu-lhe a ideia que ele seria um bom cozido. Se tivesse canibais em sua cidade... Já estaria até temperado — salgadinho — devido ao sua transpiração excessiva.
    "É! Foi uma má ideia ter me jogado!" Agora precisava de um plano para se salvar antes que o chão encontrasse com ele tão intimamente. Pensou por três andares, mas nada lhe veio a cabeça. Tentou então agir instintivamente, mas por mais que se movimentava e se contorcia parecia não chegar nenhum milimetro mais próximo da parede. A platéia — se é que existia alguma — estaria achando muito ridícula sua performasse.
    Já estava em uma velocidade incrível, e ele supos que se quisesse viajar no tempo, aquela seria uma boa velocidade, mas ainda não resolvia seu problema. Olhou para o lado e viu alguém voando enquanto o observava. Se não fosse pelas roupas ele diria que era o superman. Estava salvo! Mas parece que aquele sujeito não estava se importando muito com aquele fato e foi embora.
    Restava apenas dois andares quando lembrou que não precisaria se estressar com o trabalho que seu professor pedira antes da greve e que em breve cobraria devido ao repentino termino desta. Porém uma luz surgiu a sua volta. Quem sabe não estaria realmente viajando no tempo, afinal aquela era uma velocidade melhor ainda do que aquela que ele pensara ser uma boa velocidade para tal ato.
    Ahhh era apenas uma nave espacial querendo abduzí-lo. Por um palmo de distancia! Foi por pouco! Começou uma repentina subida rumo a misteriosa nave, mas quando estava a um andar de altura foi abandonado. Perceberam que tinham pegado a pessoa errada. Caiu!
    Não teve nenhum osso quebrado, só uma torçam no pé. O porteiro parece nem perceber o barulho da queda, estava atento de mais assistindo a uma novela pela terceira vez (e com motivos, pois realmente valia apena ver de novo aquela) em sua pequena televisão.
    Ficou de pé (com um só pé apoiado ao chão) e foi pulado. Atravessou a rua onde estava sua carro e percebeu que seu pé que estava bom já estava doendo tanto quanto o outro por causa do esforço. Não estava em condições de dirigir.
    Entrou em uma lanchonete que estava perto. Sentou-se, para descansar o pé, e pediu um sanduíche natural com muita maionese. Sentiu um vento gelado passar pelo seu corpo, era o fantasma de sua avó tentando lhe avisar para não comer aquele sanduíche se não quisesse ter uma intoxicação alimentar, mas ele decidiu simplesmente aproveitar aquele raro vento naquele calor invernal sem dar muita importância.
    Enquanto comia pediu para a garçonete chamar um táxi para ele (já que não estava em condições de dirigir). Naquele momento só queria colocar gelo em seu tornozelo. Mas seu pensamentos foram interrompidos por pessoas gritando na rua: Zumbiiiiiiiiiiiiiiiisssssssss !!!!!
    Não deu nenhum pingo de moral pois viu um cara de óculos gritar "Vamos lá Fromhell" para outro que corria em direção contrária, pensou ser algum tipo de apresentação idiota de rua, e porque seu táxi havia chegado. Pagou e foi pulando até o carro.
    A entrar no táxi o motorista perguntou se ele se importaria de colocar um pouco de funk para tocar. Consentiu positivamente, dizendo que seria uma boa distração para aquele momento. Pelo DvD portátil do carro ia assistindo e cantando, os dois junto, os clips mal-feitos. Passaram por eles vários atores bem fantasiados e maquiados de zumbis — uma maquiagem incrível para falar a verdade, de tão realística! —. Cogitou até sentir um medo desesperador por aquilo tudo poder ser real, mas ao passavam direto por eles sem fazerem nada, pensou que era por causa de que não faziam parte da peça, e continuou a cantar o funk sem preocupação.
    Morava ali perto e em menos de cinco minutos já estava em casa. Era hora de fazer o trabalho! Estava decido a fazer o trabalho! Mas estava tão quente... se estomago começou a revirar e ele achou melhor esperar os fatores se amenizarem enquanto testava o novo jogo que comprara para seu videogame.
    Quando percebeu já era noite. Seus olhos ardiam e seus dedos doíam. O jogo era muito legal! Mas não tinha feito nada desde que chegara. Percebeu que estava com um pouco de febre. Foi correndo para o banheiro. Uma emergência gástrica estava ocorrendo. Uma terrível diarreia, isso sim! A campainha tocou. "Justo agora?" Ignorou.
    Terminou o que tinha de fazer. Foi beber água, procurar algo para comer e um remédio para se auto-medicar. Contudo resolveu ir ao portão primeiro. Vai que a pessoa pacientemente esperava por ele lá ainda? E se deixara algum bilhete no portão ou na caixa de correio? Ou um pacote...
    Bebeu a água e foi. Sua barriga ainda reclama daquele maldito sanduíche. Abriu o portão. Não viu nada. Viu uma certa calmaria na rua. Tirando um alarme ou outro ao longe que tocava sem cessar. Foi mancando até o meio da rua olhou para um lado e viu um cachorro. Deu um passo; uma brisa leve e fresca bateu em seu rosto naquele momento. Sentiu um... sentiu... alívio...? não! sentiu... dor! Era uma dor aguda em seu peito. Tinha sido baleado.
    Caiu de joelhos. Leu na coleira do cachorro "Meu nome é gato", antes que ele fugisse correndo. Se rosto foi de encontro ao chão. Ainda estava quente. Acabara de salvar, mesmo que não soubesse, a vida do Cachorro, ou melhor, do Gato.
    Ironicamente foi por uma bala banhada em prata, o único tipo de bala que poderia matá-lo, já que seu pai era um lobisomem, mesmo que também não soubesse disto e de nunca ter se transformado. E o Gato na verdade um animago, mas isso é outra história! Por hora irei tomar um sorvete.

Todos os kamikazes rezam no final


O nascimento de Vênus

Então você fica sem falar comigo esse tempo todo como se quisesse ajustar os anéis dentados da manivela quebrada, no que os motores destravam e as roldanas funcionam: fabrico saudade. Vim aqui para contar uma história para você. Sorria para mim no final. Obrigado.
Conheci um cara meio homem, meio lagartixa. Ele não escalava paredes, não me dava pavor, não comia inseto, mas herdou do avô a magia que uma lagartixa usa para fazer crescer outro rabo no lugar deste que cai.
A magia não é qualquer vodu de benzedeira velha que põe chá em sangue de galo e vende em vidro vazio de perfume caro. Esta magia veio do céu, era o pó de uma nebulosa que saiu dançando pelo universo e pairou sobre a cabeça do antepassado do homem-lagartixa. Mudou a configuração genética dele ao dar mais um nó num lacinho do núcleo celular. Sua natureza astrológica dizia que só estaria ativo diante da solidão massiva que somente as estrelas, tão longe no meio do escuro, estão destinadas a sofrer.
Não somente as estrelas, como provara o cara que conheci. Ele tocava seu piano de cauda que nunca teve, nunca terá, e nada mais o tocava. Tinha braços virgens de abraços, mas não podia pagar uma puta para pôr seu rosto no regaço enquanto os braços inocentes se gozassem no primeiro enlaço. Não que faltasse dinheiro, faltava a coragem da mulher da vida diante da gelidez daquele corpo ainda inexplorado.
Assim, num dia febril em meados de abril, o sol torrando aqui em casa e no resto do mundo, nevando dentro dele, aconteceu que o gene se ativou, o cromossomo remexeu, a célula se deformou e também sua vizinha, a vizinha desta, todas as outras! Ele gritou, disse pro doutor que não havia órgão nem fio de sobrancelha que não estivesse doendo, por isso levou para casa umas pílulas que anestesiavam o organismo inteiro, exceto a cólica do coração. Ficou inválido no sofá, me ligou no meio da noite para ir ajudá-lo a se levantar. Eu fui, mas não consegui ficar, porque chegar aos arredores dele doía na gente, doía nas coisas mortas: as paredes da casa racharam, a mobília murchou, os retratos embrulharam.
Tinha alguma coisa na magreza daquele corpo que pesava para cacete. Quem sabe essa coisa fosse o céu porque o cara também era Atlas. De repente, num grito que até então só se ouvia das mães ao parir, o peito dele se abriu e, das costelas arreganhadas feito portas, saltou um gêmeo sem umbigo que mal se achegou ao mundo e já foi bocejando, enquanto as portas do peito do outro se voltavam, intactas.
Nunca mais o Atlas ficou sozinho. Seu clone era o rabo da lagartixa que germinou para ocupar aquele lugar vazio que não era o fim da sua coluna, era seu lado. Existiu para conversar. Ora, para ficar calado também! Mas nunca deixar de ficar perto. Porque o Atlas já tinha aprendido algo que eu só fui aprender hoje, quando vi um filme aqui. Aprendeu que ficar perto não é físico.
E toda noite o homem sem umbigo sentava-se ao lado da cama do gêmeo. A mão dormente esticada para cima não caía, porque estava presa nos dedos da mão que pendia do sono do outro.
De uma forma ou de outra, eu sabia, eles sabiam, até mesmo as lagartixas sabiam que um dia ia acontecer o que acontece com seus rabinhos e com todos os amigos que sentem saudade: eles se separam. Amigos se vão simplesmente porque metade do mundo sempre vai estar na escuridão. Mas desta vez o amigo se foi num mundo completamente escuro.
Era um nascer de dia rubro em meados de outubro, o Atlas pulou de seu ninho de cobertas, atravessou a casa com pressa, puxou a porta da rua e só agora percebia que levava o gêmeo como apêndice de seu braço. Mas não havia tempo para se soltarem, porque sentiam que daqui a pouco ficariam soltos pelo resto do tempo e porque já corriam ladeira abaixo, entre os carros parados no sinaleiro, ainda que estivessem de pijamas e descalços e com aquele penteado punk que o travesseiro faz na gente.
Eles enfim alcançaram a avenida onde o destino havia marcado um xis e puderam avistar do outro lado da calçada a aparição que era senão o recorte da beleza renascentista de Vênus. Ela, que tinha nascido para desmistificar a natureza reptiliana do corpo de um Atlas que se perguntava onde estaria o par de anjos que soprava aqueles cabelos ruivos. Antes que o sinal parasse os vultos de lata, uns carros, uns ônibus, que embaçavam seus contornos, ainda houve um segundo em que ela ergueu seu rosto daquela expressão sonhadora que vemos na pintura para abri-lo num sorriso.
– Ela tá rindo para mim! Ouvi o cara cochichando pro irmão que sua solidão havia parido, quase como se falasse para si mesmo. Mas nesse instante o outro já havia se soltado e ia embora, pois seu caminho não tinha um xis nesta avenida, ia além.
O sinal fechou, o riso dela foi se achegando e o romantismo deu lugar à sensação de morte. O Atlas ia se rasgar sob a pressão de sua ânsia pelo beijo. Ah, deixa eu sorrir na sua boca, ele pensava, ao passo que ia provando a possibilidade de um encontro nas paralelas da faixa de pedestre. Faixa de pedestre? Não, ali era a rua deserta em cujas extremidades dois bandidos se preparavam para o tiroteio final de um filme de faroeste. E sua arma já estava apontada. Não, tudo errado, aquela rua não estava deserta: tinha gente olhando, eu olhava! Merda, ia morrer se provasse daquilo e tinha umas mãos que o tocavam por paixão já percorrendo seu rosto! Não, não ia morrer, mas rezou e enquanto punha os dedos no pescoço dela só conseguia pensar se todos os kamikazes também rezavam no final.
Então aconteceu aquilo que minha inocência disse ser mero eclipse total: o caminho do clone que ia além tinha virado de ponta-cabeça, depois cruzado a membrana da percepção humana e parado. Ele apertara o interruptor na parede da Terra e, de fiação em fiação, o sol desligou-se lá em cima só para dar privacidade ao beijo do outro.
Toda vez que eu penso na magia do rabo de lagartixa, me pergunto se ela também vai para as estrelas-do-mar caso o pó da nebulosa caia no oceano. E sempre me lembro da última vez que olhei para cópia do cara que conheci. Foi na avenida, no momento da despedida que não aconteceu. Ele foi seguindo o restinho de seu caminho balançando os braços para frente, para trás, no mesmo movimento que fazem as mãos do pai que ensina às suas meninas o jeitinho certo de se trançar as mãos e deixar na parede a sombra de uma pomba que voa.
Voou. 

Das considerações sobre a tristeza e a mudança



Dê o play e siga as linhas!

                Essa vida, esse esforço de estar o tempo inteiro pronto e operante, servil; como se fosse fácil, pelo simples estalo fazermos das tripas não só coração, mas também cérebro, corpo, vontade, garra e ânimo. E o esforço de parecer feliz o tempo inteiro, de parecer adequado. E é triste ver alguém que, ocasionalmente, e são cada vez mais frequêntes os casos, perde a maquiagem, a máscara... um simples floco de neve que fez dobrar a folha do bambu, como disse o provérbio do Oriente...
                Uma pessoa inconsolável, convulsa pelas lágrimas, chateada, enfezada, desiludida; desnorteada, em casos mais severos... e dói mais quando esta pessoa, que tentou desesperadamente se mostrar espelho da figura rija de um Hercules, mas que, em um infeliz momento em que todos debruçavam-se sobre ela, pareceu mais Pátroclo,  aquele que mentiu ser Aquiles e que por isso pagou o preço de, na hora necessária, não ter a singular habilidade de seu primo (ou amante, essas epopeias gregas são ambíguas em demasia...), dói mais quando se ama esta pessoa, quando lha queremos bem. E nem é que a pessoa lho tenha feito, parecer Aquiles, por vaidade ou por jactâncias... não, é simplesmente porque nos cobram isso, nos cobram o poder de Hercules, mas a verdade é que mal teríamos a obstinação de um Dom Quixote.
                Se deus fez o que fez com Jó apenas para provar ao demônio que era respeitado, que esperança podemos ter em suas intervenções para com esta pessoa que tão bem queremos? Ou para conosco, uma vez que não estamos imunes aos infortúnios? Que força temos nós contra o esquecimento divino?? Não sei, não creio que tenhamos... mas também sou da opinião de que: Se Deus existiu, nos deu mais do que condições de lançarmos os próprios dados... Então façamos aquilo que pudermos...
                Minhas opiniões são públicas e, para quem quis ouvir eu já disse, não sou dos que creem, mas se tem uma figura que respeito, esta chamou-se Jesus... mitificado ou não, fato é que admiro a história daquele que tentou por diversas vezes por na cabeça animal do homem a sofisticada ideia de que podíamos ser um pouco mais gentis uns com os outros... e devíamos tentar mesmo.
Abracemos mais, amemos mais, nos importemos menos com a aparência e com as frasezinhas hipócritas... Não conjecture chorar se te apetece, vá e deixe escorrer a água salgada do mar pacífico dos teus olhos; isso não é sinal de fraqueza. Ouça mais também aqueles que querem te ajudar de verdade, ouvir um conselho e dele tirar proveito é muito mais maduro do que acreditar que já se viveu bastante para saber sozinho os segredos do mundo. Se importe menos com aqueles que só te oferecem escapes baratos, passagens rápidas de tempo com ligeiros devaneios que em nada lhe engrandecem. Deixe-se ajudar, mas também ajude sempre que puder. E não façamos tais coisas, sei que é difícil, mas tentemos, não façamos para depois ostentarmos a medalha no peito... façamos para melhorar, façamos pelo simples benefício mútuo... façamos, pois talvez assim, no futuro, passaremos a poder chorar mais pelo riso desmedido e pelas alegrias do que pela infelicidade inerente aos tempos de hoje. E citando mais uma vez o ilustríssimo Gandhi: “seja a mudança que você quer no Mundo”. Temos só este, e somos todos vizinhos, com problemas e dias longos, com raras alegrias genuínas e uma grande variedade de frívolos deleites para tentar atenuar a miséria das nossas vidas, e muitas vezes prostramos o próximo para isso.
Na maior parte do tempo nada acontece, estamos sempre esperando... mas talvez as coisas melhorem... basta que tentemos, e se fizermos juntos, não precisaremos ser como cristo; não precisamos esperar pela ajuda de deus, comecemos o trabalho, ele pode vir a ajudar mais tarde, não somos a “imagem e semelhança” dele? Mas não esperemos que o próximo tome a dianteira, que mal há em ser o primeiro? Ajude aqueles com quem você se importa, e se pode ajudar ainda mais, se importe mais com outras pessoas... é justo que esperemos alguma congratulação ou retorno, quem não gosta? Mas não faça pelos aplausos, faça por saber que assim você poderá dormir e acordar como nunca antes, e são coisas tão simples...
Vote menos por interesses privados, dê mais “bons-dias e belas-noites” aos que te rodeiam, e lho faça sem distinção financeira, racial ou social, carregue uma lixeirinha no seu carro, buzine menos; se for presentear alguém, dê mais livros; se está insatisfeito com o que faz da vida, mude de profissão; se não pode por razões monetárias, organize-se para poder; não se case para depois sair a por cornos na mulher, e se não estiver mais feliz, separe-se; não deixe de pagar uma cerveja não anotada achando que está ganhando alguma coisa; devolva o troco que vier errado; participe mais dos problemas do mundo, eles são seus também, nem imaginamos o quanto; pode parecer que eu digo tudo isso com muita facilidade, que não são coisas tão simples; eu sei que não são, mas também não são tão difíceis assim, basta vislumbrarmos os benefícios...
Não vou me estender mais, se com tudo que eu disse não lhe fez entender o que eu gostaria de dizer, peço desculpas por minha deficiência textual. Despeço-me

Seriam eles os novos Datenas???


                Os ilustríssimos vlogers... estes que são as novas celebridades, as bolas da vez, os formadores de opinião honestos, estes que, por não serem da Globo ou da Record, você vê como francos e imparciais, mas calma lá...
                Um fato recorrente – e o Marco Aurélio e o Kaito Campos, que estão estudando Jornalismo, podem falar bastante sobre isso – é que o fato pouco interessa às pessoas. O fato puro e cru, este muito raramente é tido como interessante na contemporaneidade da massa. Baudrillard já disse eu seus escritos: “só lhes interessa o espetáculo”, e desconfio cada vez mais, apesar de não concordar com tudo que ele pensou, que ele realmente estava certo. Apontar a gênese deste problema ainda é demais para meu parco intelecto, tentar aqui dizer se isto é inerente ao homem ou se é fruto de uma alienação social ou se é culpa de um deus louco só serviria para me embaraçar os dizeres e os respaldos; de modo que me limito a evidenciar o fato, e faço-o como se verá adiante, apenas para corroborar a minha humilde opinião fecal de que estes vlogers de hoje nada mais são do que Datenas e Batistas Pereiras da nova geração.
                Eu te pergunto, para apreciação do fato e sua consequente corroboração: O que dá mais audiência? Expor um caso de pedofilia e citá-lo, com os já desbotados respaldos médicos, como um problema mental de uma pessoa que não teve a doença reconhecida e tratada, ou esbravejar no microfone do colarinho “que isto é FALTA de vergonha, é um verme que deveria estar no paredão, que deveria ser fuzilado; o senhor, pai de família, proteja sua prole, pois os demônios da nossa sociedade estão soltos!!!”. O que dá maiores índices de audiência claramente nem sempre retrata fielmente a verdade; a hipérbole perversa serve ao deleite público nesse prazer masoquista de se viciar em ver a desgraça sendo escalpelada.
                Dizer que um dos maiores problemas quanto ao crime é a desigualdade social não tem o impacto que os anunciantes querem... é mais fácil você dizer que “CADA VEZ MAIS! A FAMÍLIA BRASILEIRA CORRE O RISCO DE NÃO PODER MAIS LEVAR SEUS FILHOS AO PARQUE NOS DOMINGOS DA NOSSA CIDADE! O BRASIL NÃO VIRA UM PAÍS DESCENTE PORQUE FALTA PENA DE MORTE!” Claro que isto tem muito mais impacto.
                O leitor percebeu que retratei nos exemplos supracitados típicas e defasadas equações dos jornais policiais sensacionalistas, como Datena e Batista Pereira, por exemplo. Mas agora vamos então aos vlogs...
                A classe média brasileira, esta que absorve a cultura pop, os clichês estereotipados do “estilo” e coisas afins... esta é a grande consumidora do conteúdo produzido pelos vlogers. Esta que quase tem um orgasmo ao ouvir o Cauê Moura ou o Felipe Neto ou qualquer um destes falando que: “A TELEVISÃO BRASILEIRA É UMA DESGRAÇA! QUE NADA PRESTA!” Ou que “ESSE FUNK DE BOSTA! ESSE SERTANEJO CU!”... enfim, vemos o engodo nos olhos da massa adolescente ao ouvir tais frases histéricas.
                É como o Marco Aurélio disse eu seu texto de ontem, a moda agora é criticar a cultura de massa, quando a verdade é que esta cultura pop, neohipster, neonerd e neotelefóbica é a nova cultura de massa. Agora a moda é raspar a lateral da cabeça, usar visual pseudo-nerd, xingar muito tudo que é de massa, ser bi, não ver TV e coisas assim. Quando o fato é que, tanto o jornalista da TV que diz que o usuário de drogas tem que morrer, quanto o vloger que diz que na TV nada presta estão errados. Sabe porque, porque na Tv têm coisas boas, acha que não? Pegue o controle e troque de canal, vá ver a TV cultura: Provocações, Metrópolis, Roda Viva, o Jornal da Cultura, os Filmes cults que passam por lá. Mas não, tudo isso é muito chato... e porque é chato? Porque talvez estes se interessem menos em fazer arruaça televisiva para ganhar audiência e tenham mais empenho em tratar dos fatos com maior imparcialidade e criticidade. Não é xingando o Funkeiro de ignorante idiota que você vai mudar as coisas, primeiro porque muitas vezes nem se sabe do que está falando, nem se sabe como o funk é visto por eles, o que ele representa e coisas assim. Ou você realmente acha que virando para um ouvinte de Luan Santana e dizendo para ele “você é um débil mental, um idiota acéfalo sem tamanho!” ele realmente vai por a mão no queixo, vai parar, refletir e depois dirá “putz, é verdade, como é que eu sou tão estúpido?” Isso não resolve o problema, só serve para uma coisa, espetáculo.
                Mas é sempre isso, o que interessa nunca é o fato, mas o espetáculo, a única diferença entre o Datena e o Cauê Moura, por exemplo, é que um fala para o público Jovem e o outro para a geração passada. Dê uma olhada no estilo: Ambos se “estressam” nos programas, falam mal do mundo e do homem e da civilização como se a terra estivesse a arder no espeto do inferno, gostam de pagar sapo para o telespectador... enfim, gostaria que me dissessem a diferença, por favor, a diferença... Pois eu nunca vi, NENHUMA VEZ, algum deles tratar com propriedade empírica ou científica qualquer fato que fosse, ou mesmo com algum gesto que não fosse intencionalmente afetado para gerar impressão naqueles que assistem. São sempre os palavrões usuais, as frases hiperbólicas de efeito mediano, e uma pseudo-opinião supostamente embasada e sofisticada, alguns olhares de cólera, a voz alta e a necessidade de fazer o circo continuar, e nenhum deles tem interesse em mudar porra nenhuma, ou se têm, não é com os programas que fazem que manifestam esta intenção.
                A única diferença que vejo neles está no ponto de vista da relação com a plateia, talvez pelo pedestal em que a TV se encontra em nossa cultura e pela face democrática da Internet; me parece que as pessoas veem os vlogers como pessoas amigas, como irmãos do churrasco de sábado, como pessoas que são iguais a “nós” e que não fazem os vídeos com um engravatado atrás dizendo o que eles podem ou não dizer, o que inclui, por exemplo, poder falar palavrão na Internet a qualquer hora do dia. Mas enfim, este parágrafo em nada contribui para minha explanação, é apenas uma constatação.
E é isso.
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O Facebook me emburrece ou sou burro por conta própria?



“Como no Big Brother, existe uma maneira muito simples de a gente parecer mais interessante do que de fato é diante de uma multidão. Basta criar uma conta no Facebook e manifestar desprezo por qualquer coisa que seja popular. Como o Big Brother ou o Orkut.”

(O trecho acima é de Matheus Pichonelli, cronista da Carta Capital. O autor elabora muito bem um texto cru e exatíssimo. )


Nunca foi tão fácil manufaturar um perfil bacana e aceitável para si quanto na ‘era da sociabilização digital’. E só dizer que odeia algumas coisas que têm apelo de massa e xingar uma ou outra figura popular. E o sujeito nem precisa criar nada, nem um período de meia oração que seja: clique em compartilhar.

Na internet, todo mundo odeia a corrupção, todo mundo tem aversão ao atual governo do Brasil. Ninguém precisa agir, é só compartilhar. Na internet, todo mundo sabe fazer citações literárias refinadas e interessantes. Clarice Lispector é, provavelmente, a escritora com maior criação literária póstuma (escreva quaisquer três palavras aleatórias e ponha na conta da Clarice!).

As pessoas sempre querem parecer intelectualizadas e extremamente críticas. Cidadão nem lembra em quem votou no primeiro turno da última eleição presidencial e tem a indecência de reclamar dos políticos que não estão nem aí pro povo.

Todos odeiam o Justin Bieber, o Luan Santana, o Michel Teló e o Restart. Todos querem agredi-los, querem vê-los mortos precocemente. Tudo isso enquanto ouvem Catra e as Empreguetes.

A globo, pobre coitada, é o bode expiatório da vez (ou de sempre, sei lá). Ela é massificadora, alienadora, manipuladora, aliada aos bandidos da política e escrota mesmo. Mas todo mundo vê Avenida Brasil e compartilha o diabo a quatro sobre Carminha e Cia.

As pessoas querem parecer profundas e críticas, mas pra isso se uniformizam outra vez ainda. Querem se tornar contra-corrente compartilhando as malditas correntes. Querem ser únicas e revoltadas criando um perfil eletrônico de aparências.

Que eles façam o que lhes vier à cabeça. Mas que façam por querer de verdade, para que as coisas tenham fim em si mesmas. Que não vivam uma vida que é mero teatro para olhos alheios. Não serei o poeta de um mundo caduco...

e tem outra coisa...

      Dedico esta primeira parte do post para xingar muito, não só no twitter, mas de forma a amaldiçoar veementemente as próximas três gerações de quem classificou os livros de Douglas Adams como simples livros infantis, dando-lhes capas ridículas que desonram a alma desse grande escritor, por não reconhecerem sua genialidade, não conseguirem abstrair metade de suas sugestões e nem captarem seu humor refinado.
      Que queimem todos no inferno de suas religiões!!!

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      Esta segunda parte, é para meu irmão, que acaba de perder a metade do quarto dele, para mim, durante pelo menos um ano (contando a partir de ontem - hahaha). Através do projeto Ciências Sem Fronteiras, consegui finalmente despachar ele.
      Da: UFG, de Goiânia-Goiás-Brasil; Para: Universidade do Minho, Guimarães-Portugal. \õ/
      Para quem quiser acompanhar os trajetos deste, o qual me referirei como Praga (apelido carinhoso), acessem seu novo blog Diário de Bordo, o qual assim que ele tiver um tempinho livre, e ele lembrar, ele vai postar alguma coisa sobre seu intercâmbio, suas viagens pela Europa, curiosidades etc.
      Boa sorte Praga!!!

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      Terceira parte reservada, mais uma vez, para falarmos sobre nossas canecas! \õ/
      Como já temos dois (¹ e ²) vídeos bem explicativos e um banner bem claro, vim só para informar, ou relembrar, à todos. Lembre-se de repassar esta mensagem para os amigos dos amigos de seus amigos, caso  não queira sofrer a ira de Pan Ku!

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      E quando as duas metades da laranja se encontram... percebem que alguém já comeu a tampinha!
      Quem já teve a simples experiência de cortar uma laranja sabe que uma vez partida, por mais que a outra metade seja a compatível, é necessário forças externas para manté-las juntas — mas nada que a primeira avistada não resolva! ;)

Para que ela se lembre na minha ausência


Se por hora estou longe, espero que no seu peito minha figura seja ainda maior,
Pois a sua quase me fatiga o respirar de tanto espaço que ocupa,
E não pense que lho digo por não gostar do fato, pelo contrário, amo.
Amo, preciso, desejo...

Se estou longe agora, que você, ao se deitar nos nossos lençóis e travesseiros
Sinta o meu cheiro, pois eu, de onde estou, ao pegar meu telefone para inocentemente consultar as horas,
Vejo seu rosto bem pertinho do meu em uma fotografia, e a vontade era a de poder vencer a distância que por hora nos separa em um simples fiat* para poder te abraçar, e por tanto tempo, e tão forte, que talvez nossos corpos se colassem um no outro.

E se você se consternar pelo “lembre” do título, não o faça, saiba que só o digo por falta de melhor expressão para titular este pobre texto, quem me dera ter o que é preciso para expressar em simples palavras escritas o que sinto por você, o vocábulo simplesmente não me chega, não é o bastante, não serve com a exatidão que eu gostaria.

E se o ilustríssimo deus, este que você diz ter criado tudo e todos, me concedesse um pedido, tal qual fez com Salomão, não pediria riqueza, não pediria vida eterna, pediria a capacidade de te fazer sorrir para sempre, pois no seu sorriso está minha felicidade.

E você, toda sistemática que é, talvez torça o nariz, dizendo que talvez eu esteja exagerando, e que eu sou novo e coisas assim, mas não ligo, não me importo, o que eu quero é que você leia, que saiba o que eu tenho para dizer, e que saiba que pode não ser real, mas eu acredito veementemente que seja.

Este texto é DE todo leitor que está ai do outro lado agora, se gostam do que eu escrevo, mas perdoem-me o egoísmo de dizer que hoje este texto é só PARA ela.
Esta garota que me fez sorrir de coisas pelas quais eu nunca tinha sequer arqueado os lábios, esta que tem a voz mais doce que já conheci, o sorriso mais delicado, a risada mais boba e os jeitinhos mimados e o corpo quentinho...

Este texto é para você, meu amor, deste singelo escritor a quem faltam criatividade e palavras. E agora, ao tocar com o polegar a aliança que com ti partilho, lembro-me de como foi uma decisão tão sábia...
Beijos distantes, mas não menos carinhosos... espera-me que amanhã estou de volta.

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*fiat: "faça-se" em latim. Optei por colocar a nota para que ninguém ache que estou fazendo propaganda de uma certa montadora de carros...

Amor... estranho amor...

 “Ah... o amor... o amor é... falta-me vocabulário para definir... o amor...” são reações químicas, cara.
               
                Amor, leitmotiv para infinitas músicas, poemas, dilemas, imagens, gravuras, pinturas, fotografias, filmes, postagens em blog (acredito até já ter escrito sobre isso aqui mesmo) e diversos outros veículos da expressão. E seria impressionante se não o fosse; quem já amou, ou acha que amou, ou ama, ou acha que ama, ou tem uma imaginação muito fértil sabe do que falo. É avassalador, nos tira a concentração, nos dá asas, nos tira juízo e até prejudica, em alguns casos, destes mais sensíveis, a flora intestinal. E mesmo que te mutilassem as vísceras em mil, todas espalhadas pelo chão, ainda sim você, ciente do êxtase que este sentimento traz, diria que não se enfezaria pelo escambo, que valeria a pena. Mesmo em sua capacidade de fazer sofrer, de tirar o sossego, de gerar a fatiga... ainda sim gostaríamos de tê-lo, este é o amor. Claro, existem aqueles que dele não sentem falta, ainda não sei dizer se são assim por de fato não precisarem, ou por nunca dele terem tomado conhecimento – claro deixo que falo do amor entre duas pessoas, pois existem outras formas de amor – mas fato é que existem pessoas que nunca se envolveram emocionalmente com outras e não morreram por causa disso, enfim.
                Amor... é sustentado um poético discurso de que este é predestinado e único... fico imaginando então, de um ponto de vista puramente ignorante da minha parte, pois alguns podem acusar-me de não ser suficientemente subjetivo para avaliar o amor em termos metafísicos; mas ou deus é deveras bondoso com a humanidade, pois a grande maioria de nós encontra o amor sem ter de sair do estado em que vive ou coisas assim, ou estamos, a grande parte, mentindo, pois estamos a “tantos” anos com alguém a quem dizemos eu te amo diversas vezes ao dia e isso não é verdade ou, e sou convencido por esta última, isso tudo é balela das maiores; afinal, contra-argumentando a primeira alternativa, é absolutamente improvável, do ponto de vista da probabilidade, que dentre tantos lugares e com sete bilhões de habitantes neste planeta, justo o seu vizinho seja o amor da sua vida...
                Amor não se encontra, não se prospecta, não se rastreia; amor se faz, se constrói, se edifica, modela. E não é muito mais bonito assim? Você pensar que, ao invés de um ultimato inerente a você desde o nascimento, ao invés de algo que não lhe era passível de escolher, você poder encontrar uma pessoa com quem se identificava em certos pontos, por quem sentia uma grande empatia, com quem sorria, com quem tinha amizade (e não, isso não é amor, se você crê que amor seja isso e só... tenho certa pena de ti), e juntos puderam edificar tal sentimento, me parece mais belo.
Amor vem com os anos. Não é que você não deva dizer para sua namorada recente que não tem certeza se a ama, mas apenas, e simples assim, saiba que, se amanhã tal coisa acabar, sofrer é natural, mas não é o fim do mundo, primeiro porque muito provavelmente não era Amor, este com maiúscula, mas segundo, e principal, porque mesmo que fosse, acha-se alguém novo, diferente, ou mesmo similar, alguém com quem se pode, perfeitamente e sem déficits, construir o mesmo sentimento, reproduzi-lo da mesma maneira. Senão como ficariam aqueles que precocemente enfrentam a viuvez? Não me diga que alguém que perde o(a) companheiro(a) na altura dos 35, 40 anos não é capaz de amar de novo, desafio-o veementemente.
Amor, preocupemo-no menos com achá-lo, ocupemo-nos mais em fazê-lo. A esta altura alguns já fecharam o texto, ou pularam para outro; alguns podem até estar balançando virulentamente a cabeça em total negação de meus argumentos, mas no fim quero que a experiência de nossos pais, de nossos avós, diga algo de diferente. E se você olha para eles, e alguns deles corroborarão minha ladainha – e alguns negarão não por descordarem, mas por crerem que à juventude é saudável este tipo de fantasia – e crê que não viram tudo, que com você é diferente, que são coisas novas, que você estudou mais, que você pode mais, que tem mais faro para discernir estas coisas; só dê tempo ao tempo, este dirá; eles não sabem tudo, eu mesmo sustento esta opinião muitas vezes do meu dia, mas se tem algo em que tenho grande confiança, é no viver sentimental daqueles que há mais tempo enfrentam o leão diário que é viver.
E sim, pode até haver um certo “impulso” para se ficar com alguém, mas garanto, se não fosse esta, seria outra; não há exclusividade, não existem almas gêmeas, a inerente vontade da vida de se reproduzir e lançar seus códigos um tanto adiante no tempo é grande demais para ficar a cargo de tais devaneios humanos. O que há é a constante vontade corpórea de se reproduzir; o que há são complexas reações químicas, estas que abrem ou fecham certos filtros do nosso pensar, o composto “paixão”, “amor”, como queira, está ai, mas nem de longe é o amor de fato – este que supraelucidei, este que se constrói – e nem de longe acontece por que dois querubins estão ai a lançar flechas nas bundas dos transeuntes, tão pouco porque, ao nascer, uma alma foi cortada ao meio por uma faca celestial para depois, nesta saturada Terra, virem a se unir novamente. E torno a repetir, fanático pelos debates que sou: Se percebe minha visão como demasiado cientificista, demasiado moldada pelos parâmetros exatos, carente de metafísica ou pouco ciente dos assuntos das almas e dos corações, que façamos da ala de comentários a nossa mesa redonda. Só não me venham dizer que libido e algumas conversas bobas juntas são amor.

Veneno para os olhos



Você diz que tem medo de morrer, que a vida vai por aí e um dia não vai mais: um dia está e no outro não mais. E pode até ter razão, porque quando as horas escorrem ácidas pela porta da sala e ninguém aparece pra dizer ‘ao resgate’, sua perspectiva muda.
 Eu, que nunca acreditei no natal, agora quero as renas pra mim, quero um trenó e um plano de vida; isso mesmo, presentear as crianças que dormem. Enquanto dormem, veja bem, porque o homem atrás do bigode é sério e estragaria o natal.
Você diz que isso cansa, essa cara amassada que é a primeira a te cumprimentar pela manhã – no espelho – cansa. Mas quem mais te cumprimentaria, criança? Escuta quando digo que essa cara amassada é um alento pra você e um castigo para os transeuntes. Passa com ferro quente, vê se ela sara e segue com as suas coisas.
Ontem abandonaram um bebê na rua e você se perguntou ‘quem faria isso?’. As mesmas pessoas que abandonaram Cristo e Joana d’Arc e as mesmas que te queimarão na cruz se perder o juízo. Ninguém gosta de um desajustado, passa essa cara.
E de manhã, quando o despertador tocar e as cobertas esparramadas pelo chão denunciarem uma noite inquieta, não esqueça os óculos no criado mudo. Pra ser mais exato, limpe-os na barra da camiseta e confira sua precisão. De óculos limpos, a cara amassada não vai mentir pra você. Sorri pra ela, passa com ferro quente e segue com as suas coisas.

Precisamos de pedágio, não de cidadania

    Ultimamente não tenho estado na internet, nem assistindo Tv, nem saindo muito e, como devem perceber, não muito animado para escrever, mas algo me chamou a atenção além das greves, do vírus do rato, da tempestade solar, mensalão, corrupção, eleições e paraolimpíadas: As porras dos pedágios em Goiânia (e pelo jeito pelo o resto do país).
    Por que diabos a gente gasta NOSSO dinheiro (impostos) para construir as estradas para depois entregar para uma companhia particular sem recebermos NADA em troca, termos que pagar obrigatoriamente cada vez que passarmos pela estrada, que era nossa por direito (algo público), para deixar uma pessoa rica ficar mais rica e tendo que continuar a pagar a mesma quantidade de impostos, se não maiores, avacalhando nosso direito constitucional de ir e vir?
     E ninguém faz nada!
    "Mas deixa as estradas melhor..." isso é obrigação do governo deixar as estradas boas! Somos o país que mais paga impostos e que mais investiu no transporte rodoviário! Se as estradas tava só o remendo e em péssimas qualidades devemos cobrar é do Governo, pois já pagamos, e caro, por este serviço!
     Se uma empresa construísse com o dinheiro dela uma estrada, onde não tem, e passasse a cuidar dela, talvez eu concordaria com o pedágio, mas eles sempre pegam estradas prontas que a gente construiu!! E os impostos não abaixo nem 0,0000000000000000...01% para que possamos circular bem com o justo preço, um preço equivalente ao serviço prestado (já que o serviço do governo diminui, pois tem uma estrada a menos para cuidar, o que a gente paga deveria diminuir também).
     O direito de ir e vir está quase virando uma piada, pois praticamente você tem que pagar para fazer valer a constituição. Já não basta altíssimos preços na gasolina e inúmeros impostas, agora temos pedágios.
     "Se o governo se mostra incompetente para tal serviço, deixe outro fazer" Mas não venha nos cobrar por um serviço que vocês não fazem.
     Mas será que podemos somente nos frustar em palavras pois os pedágios são inevitáveis?
    Não! Em Florianópolis, por exemplo, tentaram privatizar todas as rodovias estaduais. O que aconteceu que o povo foi pra rua! Não deu certo integralmente e mesmo assim construíram as estruturas para cobrar o pedágio, as cabinas, as catracas e tudo mais. E então o povo voltou para casa para chorar? Lamentar por ter que agora pagar mais para andarem nas estradas deles? Não caros leitores, eles foram as ruas de novo! Com mais gente! Onde tinha as cabinas de pedágio eles bloquearam dos dois lados impedindo que elas funcionassem e protestando arduamente. E hoje em Florianópolis não tem nenhum pedágio e se houver um buraquinho na estrada, a Prefeitura recebe avalanches de reclamações.
     Se você for em Florianópolis hoje, vai ver estradas impecáveis e apenas estruturas de onde deveria ser o pedágio, o qual hoje simboliza o poder do povo daquela cidade e de posto de vigia para a polícia rodoviária , para atender qualquer ocorrência de acidentes e afins (entenda: não é uma blitz).
    Não sei as demais cidades do Brasil, mas atualmente dizem que querem melhorar as estradas para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas (sendo que Goiânia não vai sediar nenhuma das duas), mas na verdade só querem nosso dinheiro! Já viram que o goiano se mostra relaxado e engole calado o que nos empurra para pagarmos. Resmungos baixos, de boca semi-cerrada não ofende e nem impede ninguém!
     Filhos-da-puta não são quem propôs tal projeto, nem a empresa que vai se apossar daquilo que é nosso e cobrar de nós para usufruir, nem mesmo o governo, somos nós! Nós que vamos deixar que ponham pedágio. Nós é que engolimos e aceitamos a desculpa que é para termos estradas melhores. Nós é que elegemos quem ta no governo. Nós que pagaremos por nossas escolhas! Somos nós quem as futuras gerações xingaram!

     "Mas sair de casa, neste calor, para que? Sempre haverá outro caminho três vezes mais longe e cinco vezes mais demorado, em que não tenha que pagar imposto para chegar-se a onde quer..." O que na verdade é pagar 6 por meia-dúzia já que de todo jeito você pagará: ou vai ser para a empresa particular ou vai ser pro governo através do imposto da gasolina que você usará a mais, além de mais aborrecimentos. 

Brasil, um país de impostos!

Total perspective vortex (quase)



- O que é que isso faz com as pessoas?
- O Universo, toda a infinidade do Universo reunida. Infinitos sóis, infinitas distâncias entre eles e você, um pontinho invisível sobre outro pontinho invisível, infinitamente pequeno.
O homem que inventou o Vórtice da Perspectiva Total o fez basicamente para irritar sua mulher. Trin Tragula – esse era seu nome – era um sonhador, um pensador, um filósofo ou, como sua mulher o definiria, um idiota.
E ela o enchia sem cessar por conta do tempo absurdamente longo que ele dedicava a observar o espaço, ou a meditar sobre o mecanismo dos alfinetes de segurança, ou a fazer análises espectográficas de pedaços de pão-de-ló.
- Você precisa entender a dimensão das coisas! – dizia ela, umas 38 vezes em um só dia.
E então ele construiu o Vórtice da Perspectiva Total – só para mostrar a ela. Em uma ponta ele conectou a totalidade da realidade, extrapolada a partir de um pedaço de pão-de-ló, e na outra conectou sua esposa, de modo que, quando ele colocou a máquina para funcionar, ela viu em um único instante toda a infinidade da criação e viu a si mesma em relação a tudo.
Trin Tragula ficou horrorizado ao descobrir que o choque havia destruído completamente o cérebro de sua mulher. Contudo, para sua satisfação, ele compreendeu que tinha provado de uma vez por todas que, se a vida deve existir em um Universo desse tamanho, uma coisa básica que não se pode entender é a dimensão das coisas.

(Trecho de O Restaurante no Fim do Universo, de Douglas Adams)


                   Acesse aqui o quase vórtice - mas esteja avisado: VÓRTICE DE PERSPECTIVA TOTAL