É um menino muito levado, meio anjo, meio alado, que não voa pelo mesmo motivo daquele sapo que não lava o pé: porque não quer.
Luci, a menina com olhos de caleidoscópio
É um menino muito levado, meio anjo, meio alado, que não voa pelo mesmo motivo daquele sapo que não lava o pé: porque não quer.
Manifesto primário ao pensamento do transporte público
Estou, enfim, com dezoito anos de idade;
recém-completos e muito bem vividos, como diria meu pai. E como de praxe, em
tal idade, empenhei-me na formação como condutor para adquirir minha CNH
(Carteira Nacional de Habilitação). Enquanto ainda novo, pensava em tal momento
como algo mister, glorioso até, da dita e famigerada maioridade. Ocorre que a
reflexão muda consoante o cerne envelhece, e devo dizer que, hoje, minha ânsia por
dirigir se restringe a pouquíssimas e pontuais ocasiões, como viagens de
estrada ou sinônimos muito próximos. Fora isso, hoje, clamo desesperado por um
serviço público de transporte que atenda com dignidade, por deus!
Devem alguns mais imediatistas e individualistas
estarem me lendo atravessado neste momento. “mas como assim, eu quero é meu
carro com som e ar condicionado...”. Não é que eu também não o queira, óbvio
que quero, estou em acordo com vocês neste ponto; o que se me ocorre nesta
reflexão é a real necessidade do carro às atividades cotidianas, como
dirigir-se ao trabalho ou à faculdade.
Para margem apreciativa do argumento, valho-me de mim
mesmo para exemplificar: Hoje, tenho aproximadamente duas horas de ônibus no
trajeto de volta à minha casa. Suponhamos que de carro este tempo fosse de uma
hora e vinte minutos, por exemplo. São quarenta minutos a menos de percurso, o
que reflete, naturalmente, no seu horário de chegada em casa e, por
consequência, no seu descanso, que, eventualmente, seria maior. Mas a base argumentativa
está no aproveitamento deste tempo. Enquanto estou no ônibus, volto, quase
unanimemente, lendo algum livro ou conteúdo de curso. Ou seja, são duas horas
que aproveito na aquisição de algum conhecimento ou na apreciação de algum
entretenimento. Duas horas que acho deveras mais vantajosas que as uma hora e
vinte minutos que teria de me dispor a encarar em um trânsito infernal que se
mostra este da minha cidade. Uma hora e vinte de constante tensão e estresse,
de semáforos e congestionamentos, de buzinas e saturação visual; uma hora e
vinte que só me acrescentariam no que se refere à precoce aquisição de fios
brancos na cabeça.
Uns dirão “mas Ian, no horário que eu pego o ônibus
ele está tão cheio que nem daria para eu vir lendo”. Concordo contigo, leitor;
contudo, é por isso que proponho tal texto:
Estou com ideia de, ao início deste ano que entra,
conceber um grupo de estudos e formulações acerca do transporte público na
nossa cidade, de modo a maximizar os benefícios e erradicar, ou, se não possível
tal, minimizar os problemas que acometem
o nosso serviço público de transporte; de modo que o carro torne-se cada
vez mais dispensável.
Mas a retórica não para ai:
Pensa consigo, leitor. A lei seca ai está, mas o
grande atrativo das baladas, bares e shows, também permanece; já conjecturou
sobre o quão bom seria um serviço público de transporte atrativo, para que você
não incorresse no risco de uma blitz policial, ou no absurdo que é o tributo ao
taxi? E quanto há taxi. Pois é, as vantagens são incontáveis.
Há ainda outros inúmeros fatores, como o custo atrativo
do transporte público vis-à-vis uma condução particular, a mínima participação
em acidentes de trânsito, e até mesmo uma diminuta caminhada do ponto de ônibus
ao destino absoluto; vantagem esta que pode fazer torcer os narizes de alguns,
mas pensa consigo nas vantagens salutares de tal proposição ao corpo.
Das considerações a este ano que finda
Mais um ano termina dentro de poucos dias.
Passou, como neste momento tendemos a achar quase unanimemente, como um fiat. Nos já habituais, e monótonos,
raiares e pores do Sol se sucederam diversos eventos significantes ou o
antônimo direto, memoráveis e também não, dispares no que se refere à nossa
vida, ou também tão pequenos que não foram lembrados nem mesmo na meia hora que
os sucedeu de fato.
Continuamos aqui; cegos em grande
medida, consumidores convictos, cheios de razão e de certezas, cheios de
razões. Ainda aqui resistimos, cheios de vontades e anseios, alguns mais homéricos,
outros dantescos, maquiavélicos, dionisíacos, quixotescos... mas a grande
maioria, podemos dizer, não passa de um meio balde de quereres tão absurdos ou
fúteis que “estúpidos” seria um adjetivo deveras eufêmico para caracterizá-los.
Mas que somos nós, senão estúpidos em parte quase absoluta da existência?
Não há muito que dizer; resignados
permanecemos; damos sequência a esta tragicômica sucessão de atropelos,
desventuras, eventos. O mundo ainda enfrenta crises financeiras, todos sonham
ter dinheiro suficiente para comprar e comprar e comprar e Comprar; o mundo
ainda sofre com a fome, ainda temos tanto e sabemos fazer tão pouco disso;
ainda impera o egoísmo e os desejos singulares; ainda se morre e se mata pelos
motivos mais banais dos quais se pode obter relato. Ouso dizer que escrevo,
neste texto, sentenças que você, leitor, pode ler em qualquer um dos dez anos
que precederam e nos dez que virão depois deste, e certamente lho acharão atualíssimo.
Mas que mais há para se dizer,
muito pouco, se é que há, mas deste pouco não falo mais, não me apetece, e
estou também certo da capacidade do leitor de discernir o epílogo.
Dedico as linhas restantes ao “Eu”.
Este ano, posso dizer, foi bom
para mim.
Entrei na Universidade, curso o
curso que me apetece, estou desenvolvendo uma pesquisa científica, e melhor:
remunerada.
Engajei-me em namoro com uma
mulher que amo, respeito e que fez de mim uma pessoa melhor e, certamente, mais
feliz.
Passei a usar chapéus, comecei a
beber cerveja e estou em vias de tirar minha habilitação de condutor.
Permaneço de opinião política de
esquerda, e entenda isso da maneira que quiser, dada a abstração do termo nas
atuais discussões políticas.
Permaneço inquieto, necessitado
de resultados que não sei se virão, mas que fique o caminho andado, vejamos o
que se há de suceder.
Permaneço escritor deste blog,
que sobrevive ainda, muito mais e ainda além do que pensei que sobreviveria.
Enquanto pudermos; falo, ao menos, por mim; estaremos aqui.
Tira uma foto de mim
Tudo
que sobrou de você foi uma foto entre as coisas perdidas na escuridão da gaveta
do criado. A gaveta geme a noite inteira, fica fosforescente, treme, chama
minha atenção. Não vou, resisto, respiro e acendo um incenso pra brincar com a
fumaça. A gaveta grita, contrai, cospe a foto em mim. Sinto o alívio do criado,
essa foto ficou mal digerida lá dentro assim como tinha ficado em mim. E eu
pergunto pro meu estômago se é ele que digere saudade, porque o paradoxo de
quem sai da minha vida sem sair da minha vida é um bolo que ocupa o lugar das
pessoas que eu já deveria amar, mas não dá porque estou lotado. Isto me entope
sem transbordar. Só vaza o choro, mas os buracos dos olhos são muito pequenos,
represo um mar. Vou ao morro onde enterrei as coisas do tempo em que
coincidimos um pedaço de espaço, jogo a foto numa vala de erosão e recolho de
volta, não aguento. Te vejo ali no papel, o olhar não é recíproco, mas tenho a
ilusão. Viro a foto ao contrário e afinal é tudo plano, não dá pra ver suas
costas do outro lado, mas imagino e te desenho. Daí eu vou fazer um chá, vou no
mercado, entro no ônibus e te vejo sobreposto na figura do bule, da moça do
caixa e da poltrona vermelha para idosos e grávidas. Você ficou gravado, se é
eterno eu não sei, mas aproveito, te invoco. Hoje encaro a noite e percebo que
as estrelas do céu são as sardas do seu rosto em negativo. Faço meu mapa astral,
me descubro, transcendo. Chego a foto mais perto, mas não é o bastante. Pego a
lupa, conto os pelos das sobrancelhas e desmistifico a teoria da simetria. Sobreponho
lentes, fico míope, me estrago e me abasteço ao mesmo tempo. São simultâneas
minha saudade e minha dor e o tanto que eu fico feliz de aumentar sua proporção
pra te deixar do tamanho que é a falta que me faz.
Por
fim, caminhei entre os pixels da sua bochecha e de quadrado em quadrado foi
passando um degradê de cores que de repente terminou no preto da minha
cegueira.
Solitude
Ele era solitário, não gostava de
humanos por perto, não que não se considerasse humano, mas achava que suportar
um humano, ele mesmo, já era o bastante.
Os humanos eram problemáticos, estavam sempre
competindo por coisas sem a mínima importância, tipo, quem tem o carro maior e
outras tolices. Quanto às fêmeas humanas, era sempre sobre o tamanho do salto,
e as que não eram fúteis a esse ponto também tinham inúmeros defeitos, ou eram
feministas demais, revolucionárias demais, “do contra” demais; será que não
havia ninguém equilibrado?
Ele imaginava que não, por isso queria ir pra
longe. Decidira trabalhar muito e economizar cada centavo para comprar uma
pequena propriedade próxima a qualquer vilarejo do Wyoming, com aquelas vastas
planícies em que ele poderia andar sozinho, sossegado; contanto que ficasse
longe dos parques não veria nenhum dos turistas imbecis que cada vez mais
enchiam o estado.
Era uma pena ter que morar perto
de uma cidade para comprar seus alimentos e demais artigos de que precisava
para se manter vivo, agora era muito tarde para aprender a plantar e fabricar
as próprias roupas...ele também não queria viver como um selvagem, queria
apenas um pouco de paz, nada de chefe perguntando quando o relatório estará
pronto, nem de colegas de trabalho querendo competir pelas graças do chefe
babaca.
Ele não era um velho ranzinza com
filhos e uma ex-mulher brigando pela pensão. Nada disso, era jovem e recém
formado, e tampouco um jovem indeciso e com medo do futuro, sabia exatamente o
que queria, queria poder ficar calado, refletir, se quisesse falar com alguém,
teria um gato, coelho, ou outro bichinho qualquer, ele falaria e ainda não teria
que ouvir respostas estúpidas... ahhh, como sonhava com aquela paz.
E durante toda a vida foi assim,
pouca tolerância, fazia todo o seu trabalho sem curtir a profissão que
escolheu, pensando no seu objetivo, conversava com os colegas no bar depois do
trabalho superficialmente, olhando pra eles e antevendo uma felicidade futura
longe daquelas conversas, nem sabia o que acabara de dizer...ele passava pela
vida apenas sonhando com o futuro que planejara.
Aos cinquenta anos já acumulara o
suficiente para o tão sonhado descanso, arrumou as malas e foi...a primeira
semana foi maravilhosa, ele havia comprado o gato, chamava-se Jack, a companhia
perfeita, só dormia e ronronava. Conversava com Jack a respeito do que seus
colegas estariam fazendo neste momento e como o que quer que fosse, deveria ser
chato e maçante ou falso e cheio de risadas exageradas, não partilhavam de sua
tranquilidade.
Ele não precisava falar nada, e
se falasse, Jack lhe responderia com um ronronar e nada mais, ele não faria
piada, não riria... enquanto seus amigos receberiam ligações das esposas no
bar, lhes controlando, ele estaria bem, ninguém se lembraria dele, nem esposa,
nem mesmo uma ex para reclamar que educava o filho sozinha...os poucos amigos
receberam instruções para não entrarem em contato...
Ele ficava mais desgostoso a cada
dia que passava, queria uma companhia mais animada que Jack, alguém que
falasse, reclamasse de alguma coisa, tomasse uma cerveja com ele, e maldissesse
a vida, alguém que comentasse que ele deveria trocar de carro porque o seu já
estava muito velho. Alguém que fizesse uma crítica construtiva ao seu trabalho,
para que pudesse melhorar, agora nem trabalho ele tinha mais. As caminhadas na
planície pareciam tão sem propósito, e refletir, ele só refletia sobre como
estava entediado. Ele sentia falta de humanos à sua volta.
Ainda não aprendemos que o Brasil é laico ou democrático ou brasileiro
E ainda tem
gente que quer defender a permanência do “Deus seja louvado” nas cédulas de
real. Tenha a tal da “santa” paciência!
Vocês cristãos
não podem mais se impor sobre nós; vocês não têm mais espadas e homens loucos
pra morrer e matar por vocês. Hoje temos algo que se chama constituição e esta
foi redigida sob o princípio da igualdade e da isonomia.
Você que crê
no deus bíblico não tem mais direito de propagar suas ideias em coisa pública
do que aquele que crê em Buda ou o outro que crê em Shiva. Por mais que vocês
sejam maioria, isso não deixa de ser horrendo, isso não deixa de ser opressão
das minorias.
O estado é
laico e, se alguém tem dúvidas a respeito do significado da palavra, consulte
um dicionário.
http://www.laicidade.org/documentacao/textos-criticos-tematicos-e-de-reflexao/aspl/
I Pet Goat
Recomendado por meu amigo Gustavo Brito:
Deixem suas observações e interpretações nos comentários por favor... Adoraria debatê-las!
Aos que apreciam a ideia da Redução da Maioridade penal
O que se vê em abundância no Facebook,
além das frivolidades habituais, é uma espécie de clamor público por justiça.
Escândalos de corrupção são toscamente abordados em pequenas fotos e textos mau
escritos; algumas “denúncias” a favor de minorias, pobres em conteúdo e em
efetividade prática... além de um inominável de outras coisas.
E têm também aqueles que apoiam
a redução da Maioridade Penal... E são das mais atrozes e escabrosas as fotos e
textinhos postados. “Quando é que veremos isso no Brasil”, “Menor vagabundo
também é culpado”, “Até quando serão impunes?”... e mais um sem fim de frases.
E me parece sensato dizer que
esta postura é, nada mais nada menos, que IMBECILIDADE das maiores. Por uma
diversidade de fatores. Em primeiro lugar porque, se analisarmos o quadro
social, veremos que a maioria de menores infratores vêm de realidades precárias
e conturbadas; vêm de colégios onde impera a violência e o descaso público, de
famílias por vezes problemáticas e desestruturadas. É claro que existem as exceções,
mas onde é que, alguma vez, em uma democracia, basear legislados punitivos em
casos excepcionais pareceu ser uma saída justa? Gostaria de me ver respondido.
E alguns dirão que, não sendo os
argumentos acima citados culpa deles, não são eles que devem arcar com o risco
de um menor “bandido”. E digo, a culpa também é de vocês (nossa) sim. É muito
fácil isentar-se da culpa de colocar, ano após ano, no poder, representantes
imorais e desinteressados com a melhoria social, é muito fácil fechar-se na
redoma da própria vida esperando que deus resolva os problemas da sociedade da
qual você também faz parte. E alguns virão dizer, “mas também estudei em escola
pública e nem por isso sou bandido”, e concordo que sim, existem esses casos;
mas exigir de todos a mesma força de vontade e o mesmo empenho é descabido e
não ocorre em outros casos. Ninguém é severamente repreendido por não ser
um primor na escola, ou por não gostar de ler, ou por não ser tão bom no
futebol, ou por não se interessar tanto assim pelos políticos que elege, pelo
contrário, muitas vezes as pessoas fazem é humor tosco disso tudo; mas todos
podem acusar uma criança que sucumbiu às dificuldades do dia-a-dia, para isso
todos são muito competentes.
E há ainda a imbecilidade da
ideia. As pessoas parecem não entender o funcionamento penitenciário no Brasil.
As cadeias estão lotadas, são mal estruturadas e não reformam e reintegram o
detento à sociedade. O que fazem é amontoar infratores; e nesse amontoar, uma
certa gama deles não cumpre nem 1/3 da pena originalmente instituída. Ou seja, você
pega um menor que roubou uma bolsa na esquina às dez da noite, ele, como um
criminoso, é preso por roubo; Ninguém entende que este indivíduo – que ainda
está em formação – que pode ter feito o que fez apenas por nada mais que
burrice, é um ladrão inexperiente e despreparado, grosseiro. Mas ao ser preso,
será, primeiro, privado de qualquer forma de ensino formal, e, ainda por cima,
ficará em contato com bandidos da pior ordem, bandidos estes que o influenciarão
e que o colocarão a par de todas as formas de refinar as ações criminosas que
ele possa tencionar ter.
Você, pessoa desinformada, que
acha muito interessante a redução da maioridade penal, deveria antes se
preocupar com a qualidade das cadeias, pois querendo se livrar do problema de
maneira impensada, você acaba por gerar é a criação de um delinquente melhor formado.
Mas ninguém pensa nisso, nem na
origem do problema, nem no agravamento que decisões impensadas podem vir a causar;
o que querem é o martelo batendo pesado, como se isso fosse resolver alguma
coisa.
Aos que cobram redução da
maioridade penal, um conselho: Cobrem melhoria no sistema de ensino, cobrem
igualdade social, votem melhor; isso já lhes resolverá o problema egoísta e
mais uma série de outros.
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Ps: Já viram o vídeo gravado por mim e pelo Marco? - Foot Massage Scene
Pps: Estou (IAN) vendendo a coleção completa d'O Mochileiro das Galáxias, edição econômica. A série é nova e está lacrada, vendo-a por R$ 50,oo. Interessados deixem um comentário
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