Valentim, te valha de mim!


                Hei, não vás embora. Fica aqui. Porque uma hora o sinal vai bater lá de cima e não quero estar sem ti até lá; as horas passam tão gordas e arrastadas depois que ele bate. E isso acontece todos os dias, não esquece, e a cada dia bate mais cedo do que no anterior. Por que tens que ir embora? Se cada pedaço de mim grita FICA e se nenhum deles consegue entender por que vais.
                Não sei se foi ontem ou um mês atrás, mas quando parei pra escrever sobre as mazelas do mundo, só consegui pensar em ti. Não fiques aí pensando que te considero mazela, não. Olha o resto da frase e ao redor de ti: te considero mundo. Considero-te um mundo bem maior do que o meu. Que nem os conjuntos dos números: o meu conjunto fica cá dentro do teu. O que quer dizer que te pertenço.
                E já sabes de tudo isso, talvez até estejas cansada de ouvir. Mas não acho que preciso te contar, é que preciso dizer, mesmo que por dizer apenas. Dizer que não fico bem quando vais embora. Meu mundo torna a ser pequeno, meu olho fica grande e desencontrado, a boca sem nada pra denunciar, os ombros pesados e um vazio crescendo exponencialmente. A cama tão grande que nem traz bom sono, o livro tão pesado que meus braços não conseguem suportar na frente da minha cara, o calor que não esquenta, o frio lá fora que parece sempre mais quente do que aqui dentro: azul, azul de verdade.
                O sinal bateu. Uma badalada metálica. Uma badalada congela.
                Cadê a minha princesinha? (Títulos de realeza não enchem os meus olhos, que isso fique bem claro, eu espero. Mas tu enches meus olhos, ouvidos, coração e perturbas as ligações entre os neurônios do meu cérebro e pelo ralo vão todas minhas convicções e meu repúdio pelas imorais relações sociais do milênio passado.)
                Cadê o conforto de ouvir teu coração bater e sentir as vibrações que emanam da tua pele à minha? Não vás. Fica aqui. Assim posso ouvir teu coração, chamar-te princesinha do jeito mais besta que houver, ver sorriso e boquinha torta, ganhar mordida bem funda na carne que deixa marca gostosa de ver depois. Só fica. Deixa o resto comigo. Porque o sinal vai bater e bater e bater e bater. Nunca quero estar sozinho da próxima vez.


Ps. Happy Valentine’s Day, Raíssa!

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