A Globo não é a vilã da novela


            Andam querendo que o elefante toque cítara.

Essa é a analogia que me vem à cabeça quando vejo gente dizendo “ridículo, jornal nacional faz reportagem sobre Luísa, que tá no Canadá, em vez de falar da greve das universidades!”.

Calma lá, pessoal. A verdade é que esse jornalismo de televisão, ou qualquer outro que seja de massa, segue estritamente as leis de Adam Smith: onde há procura faremos oferta. Não que os outros meios sejam independentes e publiquem o que lhes atinar. Mas estes nacionais, estes que antecedem a novela falam aquilo que pode gerar algum interesse no espectador e ponto. A Sra. X, que assiste à novela das oito, quer saber que Dilma foi à China e que Dilma foi eleita a terceira mais poderosa mulher do planeta, e não que Dilma trata com mão de ferro e como madrasta má os sindicatos (filhotes de Lula).


A Globo - eu reitero, contendo minha vontade de escrever em letras capitais – não é a vilã da novela. A Globo não é a culpada, não é a responsável, não é a causa última de todos os problemas da tua vida. A Globo não te obrigou a reeleger Sarney, Collor e Maluf. A Globo não te obrigou a ver mais novelas do que ler livros. A Globo não tem poder de absolver réu do mensalão – por enquanto. A Globo é um império podre construído sobre a capacidade que as pessoas têm de aceitar de bom grado quando lhe passam migalhas de merda pelo vão da porta.

Tudo bem, há aí toda a questão de ser mídia formadora de concepções e mentalidades. Mas eu embarcaria isso tudo em algo chamado ‘influência’, e não ‘determinação’, como alguns querem. A programação enlatada e cheia de repetidas cagadas e atrocidades está lá para ser assistida (ou não, pois, acredite, há quem não assista/viva Globo), interpretada, processada e utilizada como convir para cada um. E que cada um conclua por si próprio o que quiser.

A porra do seu televisor tem a opção de mudar o canal, tem um botão de mudo e outro para desligamento; a porra do seu televisor pode ser desligado da tomada.

Esse é o mundo da televisão. E deixe-me dar uma dica, jovem padawan, não dê audiência àquilo que não concorda. É assim que funciona. Simples, não?

Um comentário:

  1. A globo não é a vilã, concordo. Mas pera lá, sobre o jornalismo: Dizer que ele te vende um produto é verdade, mas temos de lembrar da premissa básica do jornalismo, que é a de levar a informação pertinente ao telespectador/leitor/ouvinte. E quanto a Globo não ser culpada, bem, ninguém te obriga a, como ocorre na maioria dos casos, seguir a religião que seus pais seguiam... mas, algumas vezes, parece até absurdo se não for assim... você nasce em um mundo com determinadas influências já petrificadas... a alienação existe, é um fato... achar que o homem ABSOLUTAMENTE, por conta própria, capaz de quebrar todas estas "lógicas" já quase institucionalizadas, não sei... Baudrilard concordaria com você, em seu texto "a sombra das maiorias silenciosas" ele fala algo semelhante... mas não sei, ignorar a alienação assim, você até a cita, mas trata dela no texto de maneira muito minimalista, me pareceu que você ignorou todo o caráter coercitivo que ela tem...

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