Aff, esse off ou: o problema do off à nação brasileira...


                Não ouso dizer que sou grande entendedor da língua portuguesa, mas acho que este, o entendimento acerca da nossa língua, deveria ser, além de mister, valorizado. É fato, a grande maioria não valoriza o português bem escrito e falado; e não falo dos que não têm condições de aprendê-lo, por fatores como carência financeira ou ensino deficiente; mesmo aqueles que estudam na mais refinada das instituições de ensino negligenciam o saber concernente à língua, para não falar do conhecimento em geral. Mas enfim, nos raros momentos em que se requisita um  português correto, a grande maioria trata isso como apenas mais um ponto curricular, sem importâncias maiores, sem o sabor de um saber que é tão importante: A habilidade de se expressar com palavras precisas, e não meio-sinônimos que meio-dizem aquilo que você gostaria de dizer. Não, ninguém liga.
                Claro que é um caso enfadonho de citar, uma vez que se trata de um ambiente onde a linguagem tem de ser rápida e diminuta, mas as redes sociais são uma amostra atroz do sacrilégio diário sofrido por nossa língua, e não falo de abreviações esdruxulas ou aumentos inexplicáveis (acho válida a troca do “não” pelo “ñ”, mas por “naum” é, além de sem sentido, sofrido), pois estes pode-se alegar como uma nova codificação ou coisa similar, falo da pontuação mesmo: O Facebook nos mostra que a grande parte de seus usuários nunca aprendeu o uso da vírgula, ou do ponto final, e nunca viu um ponto e vírgula na vida...
               Mas estes parágrafos iniciais são só o que considero um dos leitmotivs para o fenômeno que pretendo abordar neste texto. Falo do já tão comentado estrangeirismo, que me aparece cada vez mais forte, e coloco aparece por não saber ao certo se foi ele que aumentou ou se fui eu que passei a olhar mais para isso. Mas sigamos, o problema existe e está ai. E sim, trato como problema, não como simples fenômeno. Problema por contribuir com a cada vez mais abstrata identidade nacional, que, como todos sabem, começa na língua, basta buscar os antropólogos que estes explicarão. Tudo que você entende como cultura começa pela língua e se transmite por ela, então já temos ai um mal irreparável, o de termos como língua pátria a língua dos colonizadores, mas a partir dela fundamos nos traços culturais, estes que mixam tantos outros, e através dela conseguimos fundamentar e transmitir a hoje tão vaga noção do “Ser Brasileiro”. E cada vez menos sabemos o que é isso, não sabemos o que é uma identidade com a terra ou com o povo que nos cerca enquanto comuns de uma mesma nação.
                Pense, a perda da identidade nacional não é apenas a perda de particularidades culturais, fato que já acontece em certa medida pela mundialização de mercadorias, entretenimento e demais artefatos. É também a perda de um sentimento de comunidade, que, para mim, justifica EM CERTA MEDIDA, a nossa apatia com relação a qualquer posicionamento frente a crises políticas e mesmo em relação à corrupção, pensem: a identidade está tão perdida que o político não pensa, estou roubando meu povo, o povo brasileiro, ele simplesmente está dando uma de esperto porque qualquer um o faria no seu lugar (o exemplo é fraco, mas serve ao propósito). Ou mesmo isso, a nossa falta de identidade pátria nos desmotiva frente a qualquer manifestação em prol de uma melhoria geral, pois não enxergamos uma melhoria nacional como uma melhoria pessoal, uma vez que não nos vemos inseridos em uma comunidade pátria.
                O que para mim só piora quando, já tendo um histórico de desvalorização da língua, a impregnamos com estrangeirismos diversos, principalmente do inglês, algo que advém da hegemonia norte-americana, e ai pode até se justificar em uma certa medida, mas não nos sujeitemos a isso! Se espanhóis, portugueses, argentinos e diversas outras nações não o fazem, porque nós o fazemos? E o pior é que, fosse apenas para palavras para as quais ainda não há correspondente em nossa língua, seria até compreensível, mas agora enveredamos em uma onda de trocar tudo. Já não bastavam os termos da tecnologia (como mouse no lugar de rato; e se acha a troca absurda, saiba que espanhóis e portugueses lha fazem), agora vemos OPEN na porta de comércios, OFF ao invés de desconto, WELCOME... por deus, na avenida Anhanguera, na faixa exclusiva para ônibus temos um enorme BUS, como disse meu antigo professor de história, ilustre Marcelino: "poderiam ter colocado BUSU, mas não BUS!"... mas enfim... este texto dificilmente mudará alguma coisa, escrevê-lo serve para nada senão desabafo, mas assim ficamos, no desabafo... 

8 comentários:

  1. Temo que tenho que discordar em dois aspectos fundamentais da sua argumentação.

    Primeiro: estrangeirismos não são os bad guys. Eles enriquecem a língua de várias maneiras. E o ponto principal nessa discussão é que não existem escolhas erradas quando se trata da língua falada por um povo; quando escolhemos (sim, todos nós falantes) falar de uma determinada forma, é porque ela é a mais conveniente e expressiva.

    Segundo: não acho que exista uma ligação entre nossa atitude em relação à língua e nossos hábitos cívicos-políticos-corruptos (como queira). Imagino que todos nós concordamos que os EUA são patrióticos e grandes e desenvolvidos e politicamente evoluídos. Certo? Pois então. A língua inglesa (mais precisamente a norte americana) tem um dos maiores, senão o maior léxico do mundo e foi e continua sendo bombardeada de estrangeirismos (o que lá chamam loan words).

    http://oxforddictionaries.com/words/is-it-true-that-english-has-the-most-words-of-any-language

    http://www.feedback.nildram.co.uk/richardebbs/essays/loanword.htm

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pode até ser verdade, mas ai já é um aspecto, falo de seu segundo ponto, próprio deles, não algo advindo de submissão à realidade neocolonialista da globalização. Foi como eu disse, países com grande senso patriótico conservam a língua que tem, seja ela "dada" por colonos, seja ela própria. E lha conservam justamente por isso, a língua é a base estrutural de toda a cultura, isso não sou eu que digo, são os já mais consagrados estudos científicos feitos pela antropologia.
      E um povo não escolhe determinadas formas por serem mais convenientes ou expressivas, simplesmente. Podem muito bem lhes ser embutidas, simplesmente embutidas, estas novas expressões. A prova disso é a dificuldade com que muitas pessoas, principalmente os mais velhos, têm de falar certos termos importados; e não só isso, quando você diz opção, é como se ignorasse a força desigual com que certos países recebem o neocolonialismo, a prova disso é que a mesma língua, o português, sofre aqui diversas alterações, enquanto no outro lado do atlântico, muta-se muito menos. Dessa forma, como argumentei no texto, podemos entender que a falta de identidade com a nossa nação, ou o desapreço pela nossa língua, ou mesmo uma falta de identidade nacional, podem ser fundamentais para o entendimento deste fenômeno, que, volto a dizer, não vejo de forma tão livre como você vê, Sr. Marco.

      Excluir
  2. Cara, quando escrever um livro me avisa que ficarei muito interessado em ler.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. : ) ficará sabendo... que bom que gostou do texto... vlw!

      Excluir
  3. Mas há aí uma visão simplista. As decisões tomadas pelos falantes são, sim, as mais convenientes para a comunicação. E isso não é um sujeito com uma gramática na mão sentado sobre sua bunda grande e com uma caneta marcando "esta passa" e "esta não". Porque são tomadas pela maioria essas decisões, aquele povo que vive na língua, da língua e através do seu uso constante a modela, como um artesão faz com o barro. Pode ser que algumas estruturas e léxico desagradem alguns, como você, que se põe consternado com os "empréstimos" (e talvez com o cê, o vamo e o tamo); mas a maioria as aprova e é isso o que conta.

    Leve em consideração quão mestiços nós somos e verá que não há nada mais natural do que abraçar o que vem de fora. O que também se percebe em quase todo o resto da américa.

    Mas sei a que ponto quer chegar. Que nós devemos ser patriotas (a ponto de quase sermos xenofóbicos, mas sem ser) e que devemos desenvolver bombas atômicas. Sei que é isso. Admite. Tudo advém da bomba.

    Learn to stop worrying and love the bomb? Pois digo que não!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. não disse que era um sujeito, mas dizer que é uma escolha pura e simples... acho que isso é simplificar demais... estamos todos sujeitos a forças exógenas, somos todos, em maior ou menor medida, influenciados por determinadas manobras... a prova disso, se tanto a quer, é sermos latinos, mas nos identificarmos muito mais com a cultura americana, ou isso também é uma escolha?

      Excluir
    2. na verdade vejo como uma escolha sim, mas é mais uma opinião do que um argumento
      meu argumento é: proporcionalidade!

      desta vejo eu compartilho uma visão mais próxima da do Marco
      e não sou contra o NAUM (apesar de não usá-lo e não achá-lo bonito)

      Excluir
    3. É uma opção a nível pessoal, mas não a nível social... individualmente pode-se escolher entre off e desconto, pode-se escolher falar open ou aberto, mas não estou falando de escolhas pessoais, estou falando de tendências sociais. O ilustríssimo Durkheim, clássico indispensável da sociologia, já nos falava em seus estudos: "o fato social é EXTERIOR AO INDIVÍDUO, é também GERAL, e COERCITIVO" desta forma, podemos entender estas metamorfoses da expressão vocabular sim como fato social, uma vez que se dão socialmente.

      Excluir