É sempre essa lenga-lenga de vir e choramingar sobre
como o mundo é isso, sobre como o mundo é aquilo. Mas a verdade é que estamos
todos confortáveis alimentando isso tudo. A prova disso é que, mesmo vendo as
incontáveis vezes em que o caminho trilhado até agora deu em nada, lho seguimos
mesmo assim. Somos against the society (\õ/), mas estamos ai sedentos para
entrar no mercado de trabalho, de cursarmos uma faculdade, de ganharmos
dinheiro... a diferença é que uns tem melhores argumentos que outros. Quando
falo desta diferença estou claramente sendo hiperbólico, admito que uns
contribuem mais à merda do que outros, alguns são mais culpados, e naturalmente
merecem olhares mais severos. Mas não nos enganemos, é muito difícil ocorrer d’as
razões egoístas estarem a frente das coletivas.
Eu digo, por exemplo; e ai há até um paradoxo se
considerarmos as aspirações humanas, mas a humanidade tem uma incoerência
inerente, lha perdoemos; tudo cai, tudo está em um constante estado de
decadência, mas o não finito é a maior das aspirações humanas. A humanidade
alimenta e amaldiçoa constantemente este ciclo, mas ai estamos nós, fazendo a
roda girar. Cada vez mais buscamos a vida indeterminadamente longínqua, cada vez
queremos mais que a ruga seja um substantivo abstrato, cada vez mais queremos a
felicidade eterna. Mal nos lembramos de que sem o amargo, você nunca saberia
que o doce é de fato doce. Acho que é por isso que cada vez mais os risos
ouvidos em todos os cantos parecem-se mais com o riso de desespero do que com o
de franca alegria.
E tudo pode, desde que seja pela aquisição de
dinheiro. E aceitamos que a mídia faça sua parte conosco. Basta pensar que a
grande maioria foi a favor, por exemplo, da invasão americana ao oriente, ou do
enforcamento do ditador Saddan Hussein. A maioria achou normal um país invadir
outro sem provas concretas que corroboravam suas ações e saírem de lá com um
político nas costas para depois virem enforcá-lo além mar. Eu não me lembro de
terem achado as tais armas químicas, a minha mostarda ainda é só tempero.
Engraçado a gente não aceitar, por exemplo, o martírio das mulheres no Irã, mas ver com a maior naturalidade a situação em que certas mulheres no
próprio nordeste brasileiro são postas, ou mesmo em favelas do rio. E são
histórias escabrosas. Não digo que as do oriente não são, mas somos tão cegos
que não enxergamos a merda do nosso lado. “Nossa, porque no oriente as coisas
são tão feias, né?”, do seu lado também, basta buscar nos jornais ou
documentários. Mas não, como há um interesse financeiro muito grande naquelas
partes, nos compelem a achar que seria muito bom se o exercito de Deus, também
conhecido como Força Militar Norte-Americana, invadisse aquelas bandas, então civilizaríamos
aqueles povos, lhes daríamos burger king e mc donald’s e eles seriam felizes
enquanto extraímos o seu petróleo. Me parece bastante lógico. “Mas e o fato dos
americanos não providenciarem aposentadoria para seus velhos?”, “e o fato do
número de mendigos lá ser cada vez maior?”, “e os movimentos de ultra-direita
que crescem na Europa?”, “e o fato de que os votos em partidos de ultra direita
na França, na Alemanha e em outros países vem subindo muito?”, “e o fato de,
nos Estados Unidos, cada vez mais a polícia estar repreendendo movimentos de
protesto, algo que fere a democracia?”. Não seja estúpido, meu caro. Eles são
os mártires da democracia, da liberdade, da igualdade e da justiça; são
civilizados, foram eles que nos deram o benefício da civilidade e do pensamento
racional.
É... somos realmente atentos e civilizados.
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