Lumière e os lanterninhas comediantes


Cinema é uma coisa muito boa, não é? O primeiro filme que vi num cinema – pelo menos o mais distante que permanece na minha memória – foi Asterix e Obelix. Mas e daí? Bem, o primeiro filme que vi realmente não importa.
Sábado passado, resolvi ir ao cinema pra assistir ao mais recente filme do Woody Allen, o diretor norte-americano e gênio multifacetado, Meia-noite em Paris. Estrelado pelo cara de Marley e eu que, pelo que tudo indica, foi capaz de interpretar um bom noivo neurótico, e aquela mulher do Diário de uma paixão. Mas ainda não pude saber se é realmente bom o filme porque a única sessão no Goiânia Shopping era às nove horas e eu não podia ficar até essa hora.
Não é um absurdo? Tenho certeza que, quando a espetacular e já beirando a exaustão última parte de Harry Potter estrear, serão trinta sessões por dia disponíveis por, no mínimo, dois meses! Mas tudo bem, é a mais básica das leis do capitalismo: oferta e procura. As audiências nessa cidade, nesse país, ainda não estão preparadas para a grandiosidade e elegância de Allen, mas devoram e se engasgam embebedados com os enredos toscos e despropositais de uma história sobre bruxos adolescentes.
Não pude assistir ao filme que queria, mas, já que estava por lá mesmo, entrei para ver Se beber não case. E ele é realmente o que se espera de um filme assim, sem surpresas boas, sem frustrações, nada além de uma comédia meio forçada, que não exige quase nada das nossas fatigadas massas cinzentas e que vai, sim, te arrancar alguns risos se você estiver no humor apropriado.
Mas aconteceu uma coisa que eu nunca tinha visto antes e que, realmente, nunca esperava ver. A certa altura do filme, bem perto do fim, a imagem começou a tremer e vacilar até que finalmente desapareceu e a tela ficou negra (ou branca) enquanto os auto-falantes faziam sons de pancadas a esmo. Foi quando me virei pra espiar lá dentro da sala de projeção que fiquei tenso: uma fumaça tremulava lá dentro e o carinha mexia desesperadamente com seus equipamentos. Pensei: aquela loirinha linda, Shosanna, vai aparecer na tela e tocar fogo em todo mundo! (Pra quem não viu Bastardos Inglórios).
Depois de uns instantes, apareceu um lanterninha, daqueles de colete vermelho, e tentou acalmar a todos nós, pessoas sentadas nas cadeiras. Ele devia se achar muito engraçado, começou a imitar o Sílvio Santos e narrar os placares de jogos da série B, então disse que a fita tinha soltado e que o rapaz estava montando-a de volta. A projeção voltou e, dessa vez, foi até o fim, mas durante todo o tempo o som ficou oscilando de um lado para o outro.
Percebi uma coisa interessante enquanto esperava pelo carinha que colava a fita com durex e a enrolava com a manivela. Pagando um ingresso de quinze reais, trinta e oito centavos vão para os direitos autorais. Pensando nas proporções e tudo, isso dá bastante. Mas não sei, só achei que fosse mais.
Finalizando, aqui vão dicas de filmes para ver nas férias:
- Toto, the hero
- Cisne negro
- Assassinos por natureza
- O discurso do rei
- Scott Pilgrim
- Match Point
- Annie Hall
- Vicky Cristina Barcelona




            E uma curiosidade interessante: o termo veado começou a ser usado para designar homens de comportamento homossexual ao se observar os hábitos dos machos dessa espécie, que, no inverno, dormem abraçados para se aquecerem.

5 comentários:

  1. Concordo com você, mas tenhoa alguns comentários a fazer, você falou ai dos filmes "que não requerem da nossa massa cinzenta", mas é, ao menos quando eu faço esse comentário, um defensor assíduo deles e é, inclusive, consumidor, como no caso da saga Crepúsculo, que você diz ser um romance legal de ver.

    E segundo, quando eu falei do discurso do Rei você falou merda, então morra.

    Essa questão das pessoas não saberem apreciar cinema DE VERDADE é triste, infelizmente não é só no caso do Woddy Allen que isso ocorre, grandes produções nem chegam ai ir às telas, eu poderia sitar uma lista de filmes que assisti que encheriam três páginas e que não recebem o valor que deveriam.

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  2. Realmente cada dia que passa a grande massa tende a virar um bando de epsilões, e ultimamente vejo também alguns Deltas, que estão drásticamente virando epsilões, e até mesmo eu, que me considero uma pessoa com massa cinzenta, faço coisas de epsilão, mas nunca me esqueço que temos que ser Deltas, sempre (ainda estou lendo admiravel mundo novo) e foi o que caiu perfeitamente com o assunto abordado, no mais o post ficou do caralho, vc redige muito bem
    Jabá²: emperorjc.blogspot.com

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  3. Tempos que agradecer por ainda conseguir ver um filme do Allen aqui em Goiânia. Nosso circuito anda extremamente comercial. Alguns filmes que estreiam em outras regiões do brasil, muitas vezes nem chegam aqui... Como é o caso do Scott Pilgrim que você citou na lista.

    Mas a vida da sétima arte é assim... Enquanto Woody Allen é execrado pelos estúdios de hollywood e busca seus financimentos na Europa, Transformes 3 tem a terceira maior abertura mundial da história.

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  4. Mas eu não falei mal dos filmes que não exigem da minha massa cinzenta. Paguei pra assistir a um deles e ainda gostei!

    É verdade, tive um certo preconceito com Discurso do rei. Mas, como sempre, experimentei pra não ficar falando merda forever...

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