Tem um
gosto amargo sentir-se velho. Eu não me sinto assim, mas deve ser ruim saber
que logo, logo cada átomo de carbono, aminoácidos, água e todos os outros
pedacinhos ínfimos do seu corpo vão se juntar à terra. E o gosto amargo deve
ser de mofo, de saliva seca e de articulações maltratadas.
O medo de estar velho vem quando
você não encontra nada, mas nada no mundo inteiro que te perturbe mais do que
uma lembrança, mais do que palavras gentis vindas de alguém querido pra te
fazer se sentir importante. Esse sentir-se velho não é ruim, de jeito nenhum,
por mais que bata à porta aquela imagem do corpo se desfazendo e escorrendo e
flutuando que nem areia; esse sentir-se velho é como coroar-se, finalmente, por
cativar.
Então fica de lado o prazo de
validade da carcaça orgânica que você levanta, banha, escova, veste, machuca e
carrega até a clareira no fim do caminho, porque existe algo por que sorrir
quando te deitarem com as mãos cruzadas sobre o peito e espalharem um monte de
flores que costumavam te dar alergias
sobre todo o resto. E aí não serão problema as alergias, os gostos
amargos ou as frustrações: dorme.
Porque os homens esqueceram a
verdade. Mas eu não a devo esquecer. Tornei-me eternamente responsável por
aquilo que cativei.
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