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Um dia propício para ligar o foda-se
_-+PRIMEIRO DIA+-_
Tudo estava nebuloso na cabeça de Monquei,
principalmente suas vistas; e não porque lhe drogaram ou bateram, mas porque
tiraram-lhe o benefício dos óculos.
Monquei estava em uma sala úmida e escura, com uma
turva luz que saia das paredes para refletir no teto. Estava com as mãos
amarradas acima da cabeça. Não sabia por quanto tempo estava assim. Estava
quase pegando no sono quando a luz, que era algo que tendia ao amarelo,
tornou-se azul, então um jato de água muito gelada caiu diretamente sobre ele.
Monquei tinha razões para odiar os filhos-da-puta, mas agora sentia uma vontade
real de matar. Monquei detestava mudanças bruscas de temperatura, era extremamente
sensível a elas, era como se trilhões de bilhões de micro-agulhas penetrassem
sua pele e fizessem um movimento de vai-e-vem; e pior era depois, os espasmos
decorrentes do frio, a perda de sensibilidade nas mãos e nos pés... Monquei
tinha razões para desejar sangue neste momento.
_Olá, Sr. Monquei. – diz uma voz por um alto-falante
anexo em algum lugar que Monquei não conseguia enxergar.
_ Chupe meus bagos. – Responde Monquei, Cortesmente.
Como os odiava nesse momento, estava tremendo de frio.
_ Isso não foi muito educado, Sr. Monquei. – responde
a voz, com tom de censura.
_ Pare de me chamar de Senhor. Onde estão meus
amigos? Onde está R.!? – Pergunta Monquei.
_ Não precisa se preocupar com eles agora. Tem fome?
– pergunta a voz.
_ Vá pro inferno, bastardo. – responde Monquei. – Eu
quero saber onde eles estão! ONDE ELES ESTÃO! ONDE ELA ESTÁ!
* É importante fazer uma breve
pausa na narrativa para explicar que nem mesmo o vosso humilde narrador sabe
explicar esta abrupta mudança de tom nos xingamentos de Monquei, que passam de
“chupe meus bagos” para “bastardo”, mas prossigamos, pois se fossemos explicar
todas estas peculiaridades ainda não teríamos decorrido nem o primeiro dia de
jornada. *
***
Camaleão
estava a ter um pesadelo onde Poeta K. vinha lhe visitar, estava com as órbitas
oculares vazias, e lhe dizia coisas em mandarim, idioma que Camaleão nunca
aprenderia. Camaleão acorda.
Está em
uma sala, ele e R. e Albinati.
*É importante dizer que estes
três não foram postos juntos por serem considerados mais inofensivos ou coisa
do gênero, foi simplesmente a ausência de mais salas medonhas.*
Camaleão estava sentado e algemado a uma cadeira;
Albinati estava deitada e presa a uma mesa; R. estava de pé, algemada a uma
tubulação que passava pouco abaixo do teto.
_ Imagino que estejam com fome. – diz uma voz vinda
do canto mais escuro da sala.
_ Concordo. – diz camaleão, em um estado de parcial
consciência.
A voz
deixa comida pra eles e sai. De nada adiantou, uma vez que estavam imobilizados
e a Voz não os soltou.
***
Linda acorda com uma goteira em sua cabeça. Olha ao
redor, enxerga pouco ou quase nada. Uma chama se acende, era Choreilargado:
_ Esse lugar cheira a merda. – diz ele enquanto
acende um cigarro.
_ Esse lugar não tem janelas, você vai mesmo acender
um cigarro aqui? – pergunta ela.
_ Temos saídas de ar. – diz ele apontando para o teto
e levando a chama do isqueiro para que Linda pudesse enxergar.
_ Não podemos sair por lá? – pergunta Linda.
_ Além de ser uma saída muito estreita para mim, eles
estão nos vigiando. – diz ele apontando para uma câmera discretamente posta no
encontro do teto com a parede.
Surpreendida por todas aquelas informações, Linda
pergunta:
_ Há quanto tempo você está acordado?
_ Eu nem cheguei a dormir, aquele gás do carro não me
apagou, quando chegamos a este lugar eles me colocaram um capuz na cabeça e nos
jogaram aqui.
_ E “onde” exatamente fica isso?
_ O gás não me apagou, mas me deixou pra lá de
grogue, não consegui ver.
Neste primeiro dia Ninguém visitou a sala de Linda e
Choreilargado.
_-+SEGUNDO
DIA+-_
Ninguém
visita a sala de Monquei.
***
A voz
adentra novamente o recinto onde se encontram Camaleão, R. e Albinati.
_ Não
comeram?
_ Por
razões óbvias... NÃO. – diz R., chacoalhando as correntes.
_
Perdão, não tenho autorização para tirar-lhes as algemas.
_ Então
como espera que comamos? – Pergunta R.
_ Bem...
A voz
não responde a pergunta, sai da sala e fecha a porta atrás de si, ignorando os
protestos verbais de R.
***
_ Certo, então vamos lá, esta você não deve ter
ouvido. O que é um pontinho verde que sobe e desc... – Choreilargado é
interrompido pelo repentino barulho da porta da sala onde se encontrava se
abrindo.
Alguém entra. Choreilargado arqueia as sobrancelhas,
banca o irônico:
_ Olá, visitante mal educado que não bate antes de
entrar, a que devemos a visita?
_ Bem, serei breve.
Quem estava
ali era um Engravatado. Ele retira lentamente os óculos escuros, agacha-se de
frente a Choreilargado, que estava sentado em um canto da sala. Linda permanece
imóvel.
_ Por
obséquio. – diz Choreilargado – você interrompeu minha piada.
_ Você
precisa convencer Fronrel. – diz o Engravatado.
_ Convencê-lo
de que? – pergunta Choreilargado.
_
Convencê-lo a cooperar.
_ Por
quê? Ele já mandou vocês se fuderem pelo menos mil vezes?
_ Ainda
não falamos com ele. – diz o Engravatado.
_ Então
porque vem aqui?
_ Seria
melhor se você fizesse isso, sabemos que ele não irá cooperar, e o faremos
sofrer.
_ Mesmo
que eu vá, ele não vai cooperar, ele tem um ódio mortal por tudo que vocês
fizeram: A cidade, as pessoas, tudo. Antes ele já tinha o que podemos chamar de
predisposição à sociopatia, agora detesta aquilo tudo com todas as forças.
_ Essa é
sua resposta final? – pergunta o Engravatado.
_ Vá se
fuder, nem sei por que estou te tratando com tanto respeito.
Enquanto
este solilóquio se desenvolvia, vagarosamente, Linda se posicionava atrás do
Engravatado.
_ Nem
pense nisso, mocinha. – diz o Engravatado. – quando você moveu o primeiro
centímetro eu já sabia seu intuito, já sabia seus planos. É melhor nem tentar.
Linda
solta uma bufada e marcha de volta à parede lateral.
_ Se
Fronrel não cooperar irá sofrer as consequências. – diz o Engravatado,
colocando os óculos e dirigindo-se para a porta da cela.
Choreilargado
mostra o dedo.
***
_-+TERCEIRO
DIA+-_
Monquei
acorda com um grito abafado vindo de algum lugar do prédio. Ainda está amarrado
pelas mãos, mas desceram as correntes, de modo que podia sentar.
_ HEY!
QUE GRITO FOI ESSE!...
Silêncio.
_ H-E-Y!
Silêncio.
_?
***
Albinati, R. e Camaleão acordam com o mesmo grito
abafado, porém, por estarem mais próximos da fronte, foi mais audível que o que
Monquei pode ouvir.
_ Parece que era algo como “não me estressa o que
você tem pra parar. Quero lamber onde está meu pica-pau” – disse Albinati, com fronte
intrigada.
_ Talvez – diz R. – ficou muito abafado, não da pra
ter certeza.
_ Sou só eu ou essa voz é muito parecida com a do
Fronrel? – pergunta Camaleão.
Silêncio.
***
Choreilargado ouve o grito abafado com certa
preocupação. “Seria o começo das ‘consequências’?”
Linda, que dormia, não acordou com o grito.
_-+
QUARTO DIA +-_
Choreilargado
acorda. Há uma movimentação estranha do lado de fora da sala. Muito som de
passos, ar de movimento. Choreilargado encosta o ouvido na porta, chama Linda.
_
Linda... Linda... LINDA! ACORDA.
Linda
levanta-se de um pulo, sobressaltada.
_ Alguma
coisa aconteceu. – diz Choreilargado.
_ Como
assim?
_ Ouve
só, há muito movimento lá fora.
_ E?
_ Bem,
alguma coisa ocorreu. E se Fronrel cooperou com eles?
_ Cooperou
com o que? Não há nada com o que cooperar, não somos um grupo organizado, uma
sociedade secreta, nada; somos só desalojados sociais.
_ Não é
bem assim... e se o Fronrel tiver se “rendido” ao lado deles?
_ Pouco
prováv...
A
fechadura se desarma e a porta é rapidamente aberta, a pessoa que a abre esboça
visível surpresa, não esperava seus dois presos assim tão próximos da saída,
este indivíduo portava uma arma.
Choreilargado
liga o piloto automático no seu cérebro, era agora ou nunca. Aproveita-se da
surpresa do indivíduo e puxa o colarinho dele. Linda entra no jogo e da um soco
bem forte na cara do sujeito, que apaga.
Choreilargado
checa o pente, oito balas. O alvoroço do lado de fora era tamanho que pareciam
não ter percebido a pequena revolta.
_ Ok,
hora de ferrar tudo.
ow, muito muito massa! o/
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