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Uma coceira no pescoço deu num pouco de sangue. Cocei e cocei o pescoço, sangrou mais um bocadinho. Enquanto ria, coçava. Enquanto lia, coçava. Ia ao mercado, ia ao prédio do Estado, ao estádio, à estrada curva, mas estável, à sala de estar, de status, e continuava coçando o pescoço. Um traço de sangue por vezes escorria pelos degraus de minhas costas que era a coluna vertebral. E tinha também vestígio vermelho em minhas unhas. Perguntaram-me, certa vez:
“O que é isso?”
Disse que era machucado qualquer, coisa de pernilongo faminto, de esbarrão, torcicolo.
“O que é isso, moleque? Responde duma vez!”
“Parece cocaína, mas é só tristeza.”
“Falo do que tens no pescoço, não desta cara triste que carregas.”
“É molho de tomate. É pasta avermelhada. Estamos no dia das bruxas, sabia?”
“Tu não me enganas, isto aí é amor. Só amor é assim sangrento, moleque, e desce ao coração nesta nódoa que mancha tua camisa.”
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