Ele era solitário, não gostava de
humanos por perto, não que não se considerasse humano, mas achava que suportar
um humano, ele mesmo, já era o bastante.
Os humanos eram problemáticos, estavam sempre
competindo por coisas sem a mínima importância, tipo, quem tem o carro maior e
outras tolices. Quanto às fêmeas humanas, era sempre sobre o tamanho do salto,
e as que não eram fúteis a esse ponto também tinham inúmeros defeitos, ou eram
feministas demais, revolucionárias demais, “do contra” demais; será que não
havia ninguém equilibrado?
Ele imaginava que não, por isso queria ir pra
longe. Decidira trabalhar muito e economizar cada centavo para comprar uma
pequena propriedade próxima a qualquer vilarejo do Wyoming, com aquelas vastas
planícies em que ele poderia andar sozinho, sossegado; contanto que ficasse
longe dos parques não veria nenhum dos turistas imbecis que cada vez mais
enchiam o estado.
Era uma pena ter que morar perto
de uma cidade para comprar seus alimentos e demais artigos de que precisava
para se manter vivo, agora era muito tarde para aprender a plantar e fabricar
as próprias roupas...ele também não queria viver como um selvagem, queria
apenas um pouco de paz, nada de chefe perguntando quando o relatório estará
pronto, nem de colegas de trabalho querendo competir pelas graças do chefe
babaca.
Ele não era um velho ranzinza com
filhos e uma ex-mulher brigando pela pensão. Nada disso, era jovem e recém
formado, e tampouco um jovem indeciso e com medo do futuro, sabia exatamente o
que queria, queria poder ficar calado, refletir, se quisesse falar com alguém,
teria um gato, coelho, ou outro bichinho qualquer, ele falaria e ainda não teria
que ouvir respostas estúpidas... ahhh, como sonhava com aquela paz.
E durante toda a vida foi assim,
pouca tolerância, fazia todo o seu trabalho sem curtir a profissão que
escolheu, pensando no seu objetivo, conversava com os colegas no bar depois do
trabalho superficialmente, olhando pra eles e antevendo uma felicidade futura
longe daquelas conversas, nem sabia o que acabara de dizer...ele passava pela
vida apenas sonhando com o futuro que planejara.
Aos cinquenta anos já acumulara o
suficiente para o tão sonhado descanso, arrumou as malas e foi...a primeira
semana foi maravilhosa, ele havia comprado o gato, chamava-se Jack, a companhia
perfeita, só dormia e ronronava. Conversava com Jack a respeito do que seus
colegas estariam fazendo neste momento e como o que quer que fosse, deveria ser
chato e maçante ou falso e cheio de risadas exageradas, não partilhavam de sua
tranquilidade.
Ele não precisava falar nada, e
se falasse, Jack lhe responderia com um ronronar e nada mais, ele não faria
piada, não riria... enquanto seus amigos receberiam ligações das esposas no
bar, lhes controlando, ele estaria bem, ninguém se lembraria dele, nem esposa,
nem mesmo uma ex para reclamar que educava o filho sozinha...os poucos amigos
receberam instruções para não entrarem em contato...
Ele ficava mais desgostoso a cada
dia que passava, queria uma companhia mais animada que Jack, alguém que
falasse, reclamasse de alguma coisa, tomasse uma cerveja com ele, e maldissesse
a vida, alguém que comentasse que ele deveria trocar de carro porque o seu já
estava muito velho. Alguém que fizesse uma crítica construtiva ao seu trabalho,
para que pudesse melhorar, agora nem trabalho ele tinha mais. As caminhadas na
planície pareciam tão sem propósito, e refletir, ele só refletia sobre como
estava entediado. Ele sentia falta de humanos à sua volta.
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