Pós-Zumbis 3ª temporada PREMIERE


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Dia após dia, o mundo se torna mais cinza, como a pele de um homem morto.

                Fronrel desce do carro. Estavam emboscados, havia muitos zumbis em volta do veículo sem gasolina. Empunha o revolver.
                _ Filhos-da-puta.
                Ele sabe que não tem mais jeito, vão morrer, mas ele não quer aceitar. Se fosse para morrer seria com estilo, iria cravar seu nome na história, as pessoas se lembrariam dele como um herói, como um visionário, um líder, um lutador, um estrategista... De repente se dá conta de que todos irão morrer com ele e ninguém, em um eventual futuro, terá conhecimento de suas façanhas. Desespera-se. Entra em looping e começa a disparar contra os zumbis, tem certeza de estar atochando bala em cada cabeça que cruza o seu caminho, mas do seu revolver só saem pequenos doces, que batem na cabeça dos zumbis em slow-motion e não lhe infligem nenhum dano.
                Os zumbis estão próximos, muito próximos, um lhe agarra o braço, Fronrel desespera-se, clama por ajuda, ninguém responde, seus amigos estão na mesma situação, porém parecem já haver se conformado com o fim, estão com olhares apáticos e vazios que vislumbram a imensidão do nada. De repente Fronrel olha para o zumbi que lhe desfere uma mordida e vê Sefode, seu falecido irmão mais novo. Apavora-se.
                _ DESGRAÇADO! EU JÁ TE MATEI.
                De repente sua mão transmuta-se e se mostra dotada de boca e cordas vocais, e jorram acusações sob a cabeça de Fronrel:
                _ A CULPA É TODA SUA, NÃO PENSASTE NO QUE PODERIA SUCEDER, ÉS UM ANIMAL!
                O céu mostra-se rosa, de repente um vórtice se abre e o céu é povoado por “discos” voadores hexagonais. Eles formam, coreograficamente, a palavra ETROM.
                Fronrel pensa estar ficando louco, mas agora não importa, já foi mordido. Antes de se entregar totalmente, percebe a ausência de Linda. Eis que ouve uma voz onipresente, pensa ser a voz de Deus, mas pensa também que não pode ser, uma vez que é uma voz de mulher, e mesmo Deus sendo tudo, Fronrel acredita que não se mostraria na figura de uma voz de mulher.
                _FRONREL! – Diz a voz.
                _ FRONREL! – Repete.
                Fronrel não sabe o que fazer.
                _FRONREL!!!!!
               
                ...

                Fronrel acorda. Era um pesadelo. Está empapado em suor e com as mãos tremulas. Quem lhe acorda é Linda.
                É noite, o céu está inundado em nuvens. Linda conta que Fronrel estava visivelmente perturbado e que ela achou melhor acordá-lo. Ele agradece. Ela volta a dormir. Ele tenta fazer o mesmo, não consegue.
                Fronrel não tem mais sono. Ainda é madrugada alta. Vai para fora. Antes, passa pela cozinha e pega a garrafa com o bom & velho Jack. Surpreende-se ao encontrar Albinati do lado de fora.
                _ Posso me sentar?
                _ Claro que pode, que pergunta é essa... – responde ela com um leve sorriso.
                _ É que talvez você quisesse ficar sozinha...
                Fronrel se senta. Faz frio. Silêncio. Resolve tomar um trago. Para quebrar o gelo faz uma graça:
                _ O whiskey é feito do malte, o malte é o braço do satanás, oitenta capetas juntos, não faz o que o whiskey faz. – da um longo trago. Seu rosto permanesse imóvel, impávido. Albinati esboça novamente o leve sorriso.
                _ O verso original é feito para Cachaça – explica Fronrel – mas como estou bebendo whiskey...
                Fronrel pondera se deve ou não oferecer um trago à Albinati, faz uma matemática rápida: “Idade... O fim do mundo eminente... As experiências que ela anda tendo...” Por fim decide não oferecer, mas ai se lembra que ela já atirou em um cara. Daí estende a garrafa.
                _ Aceita um gole?
                _ Não tenho idade – ela responde.
                _ Também não tinha para atirar naquele cara com uma arma, mas o fez mesmo assim – argumenta Fronrel, lembrando-se de quando ela lhe salvou a vida.
                Ela reflete por um instante, dá de ombros e pega a garrafa. Dá um pequeno gole, tosse um pouco. Natural para a primeira experiência. Ela sorri e entrega timidamente a garrafa para Fronrel.
                _ Bom começo – encoraja Fronrel – nem tossiu tanto.
                Os dois ficam em silêncio, contemplam a ausência de estrelas no céu. Albinati pergunta:
                _ Fronrel, como você acha que isso tudo vai acabar?
                Fronrel já se imaginou sendo questionado a esse respeito, ensaiou diversos discursos pomposos e sofisticados, com palavras difíceis e cunho visionário. Mas agora, na sequidão da pergunta, titubeia em responder. Resolve portar-se menos fantasioso.
                _ Bem... não sei, honestamente. Mas o mais provável é que continuemos seguindo dia após dia, até que envelheçamos e morramos ou, nesse meio tempo, levemos uma mordida.
                Ela entende a franqueza.
                _ Será que seremos felizes?
                _ Há a possibilidade.
                Ele resolve explicar-se:
                _ Eu poderia afirmar que vamos mudar as coisas, que essa situação é reversível, ou até mesmo que nós seremos os estandartes na nova era, mas a verdade é que só estamos vendo sob nova óptica um mundo que sempre foi assim.
                Ela abaixa a cabeça, parece cabisbaixa, ele arrepende-se por ter sido tão pragmático, dá um leve tapinha nos ombros dela, como um consolo. Ficam assim, contemplando o vazio da chácara até que amanhece. E o amanhecer é acompanhado por música, pois Monquei estaciona o carro próximo à área da casa e liga o som, que explode em Echoes, do Pink Floyd.
                _Hoje é dia de projetos – diz Monquei.
                Fronrel raciocina vagamente, percebe que Monquei tem razão, como poderiam continuar daquela forma?
                _ E que faremos? – pergunta Fronrel, em um súbito ato de não autoridade.
                _ Bem, talvez devêssemos ir em busca de suprimentos, o alimento que trouxemos está na eminência do fim junto com o que já havia aqui.
                De fato, já não tinham quase nada.
                _ E precisamos repor o estoque de Jack. – diz Chorei largado.
                _ Certo, temos que pegar muita coisa, mas como faremos? Uma vez que somos inimigos públicos agora? – pergunta Fronrel.
                _ Da maneira de sempre, chegaremos de forma abrupta e imprevisível, saqueamos o que tiver de ser saqueado, então saímos à francesa. – completa, com atípico otimismo, Monquei.
                _Concordo – diz Camaleão que acaba de acordar e não pegara nada da conversa, apena exercita seu habitual manifesto positivo.
                _ E quem vai? – Pergunta Albinati.
                Silêncio.
                _ Eu gostaria de ir – anuncia Fronrel.
                _ Eu também. – diz Choreilargado.
                _ Eu vou com vocês, alguém que sabe o que precisa ser saqueado tem de ir. – Diz Linda.
                Monquei ia se manifestar a respeito; gostaria de ir, mas, se fosse, o contingente ficaria grande demais; é cortado por Fronrel.
                _ Podemos ir? – pergunta, subitamente impaciente, Fronrel?
                Os três entram no carro. Fronrel opta por uma música suave, Janis Joplin – Summertime, mas linda tem um acesso de chiliques e todos concordam em ouvir um AC/DC. Os auto-falantes bombeiam Let there be rock.
UMA HORA DEPOIS.
                Adentram a cidade no seu habitual, e ascendente em proporção geométrica, caos. Agora existem ciclistas que andam com sirenes na cabeça que vomitam anúncios e propagandas. Pessoas usando blusas com logomarcas cada vez maiores. Frases de deboche para com o consumidor estão espalhadas como uma grande piada, uma grade trollagem do próprio sistema, algo como: Vocês são o que queremos que vocês sejam e gostam do que queremos que vocês gostem. Algumas pessoas estão nas portas das lojas, hipnotizadas pelas vitrines abarrotadas e pelas promessas de que, com tal produto, a pessoa se tornará mais singular, mais bela, mais desejada, mais ela.
                Seguem de forma discreta, é sempre ao Centro, ao torpe e odioso Centro, que em outrora parecia tão agradável aos olhos de Fronrel.
                Chegam a uma loja, um mercado.
                _ Esperem no carro – diz Linda.
                Eles aguardam. Quinze minutos após sua entrada, ela já pode ser avistada no caixa. Fronrel aguarda sossegado, não enxerga nenhum eminente perigo. Há poucos zumbis na rua, a maioria encontra-se trabalhando. Alguns poucos andam pela rua, mas estão muito ocupados prestando atenção nas vitrines.
                Eis que ocorre o barulho. Percebendo estranheza na cliente, a atendente do caixa do mercado parte pra cima de Linda, que afasta-se dois passos, saca uma desert eagle e explode transforma a cabeça da atendente em história.
                Outros zumbis começam a intimidá-la. Choreilargado, que depois do disparo já tinha uma arma na mão e um cigarro na boca, dispara três tiros certeiros ainda do lado do banco do carona, por cima do teto do carro, e leva três deles a óbito. Fronrel, que quer mostrar serviço a cobiçada musa, empunha seu revólver e acaba com dois deles. Ela não era uma moça indefesa, aliás, achou detestável a intervenção dos dois. Poderia ter resolvido sozinha.
                Enfim silêncio. Que dura pouco, aliás. Pois vêm sirenes, e audivelmente são várias.
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Ps: É isso ai. A série voltou, hoje, sábado, mas a partir do próximo episódio ela será postada no seu dia usual: quarta-feira.

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