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E agora?
Estavam na mata.
Sentados no leito de um pequeno córrego que por ali passava.
Linda tomava um pouco de água, camaleão advertia-a sobre os riscos de se
contrair um verme, R. estava aflita, estressada, queria saber onde Monquei
estava, Albinati checava se Fronrel estava ok, Fronrel estava sentado escorado
no tronco de uma árvore.
_ Precisamos saber o que ocorreu ao Monquei. – diz R.,
aflita
_ Não sabemos nem por onde começar. – diz Linda.
_ Talvez devêssemos voltar àquela base e ver se há
algo lá que possa nos dizer o que ouve. – retruca R.
_ MADNESS! – grita Fronrel, erguendo um braço e, logo
em seguida, caindo no chão. Albinati escora-o novamente na arvore.
Todos ficam em silêncio após essa cena.
Escorre uma discreta lágrima dos olhos de Albinati.
O que ocorre, caros leitores, é que essa cena
desencadeou o esfriamento sanguíneo geral, que, por consequência, lembrou-lhes
que, além do desaparecimento de Monquei, um amigo havia morrido, e um outro não
tinha, mas estava em um estado deplorável. Escorre uma lágrima dos olhos de
Albinati. Albinati começa.
_ É... é isso, acabou, estão todos morrendo...
MORRENDO! E...e...e nós estamos tão pressionados que nem tivemos o real impacto
disso...
Ela começa a desesperar-se, começa balançar os braços
aleatoriamente; leva-os ao rosto de vez em quando, limpa as lágrimas, torna a
chorar, grita; então desaba. Cai de joelhos no chão amaldiçoando Deus e a
existência, o Universo e a vida, o dia e a noite; tudo. Linda percebe que a
cena está contaminando os restantes, “isso não é bom” pensa ela. Eles não
podiam ficar descrentes agora, ela não poderia seguir sozinha, eles tinham de
se manter “aqui”. Ela intenta ir até Albinati, mas é supreendida, pois Camaleão
toma a frente. Camaleão agacha-se de frente a Albinati, que levanta debilmente
o rosto para Camaleão; um tapa acerta-a em cheio.
_ Não é hora para lamúrias. – diz Camaleão, com a voz
mais gélida do mundo. – Sim, nós vamos sobreviver. Você acha que não somos bons
o bastantes para seguir em frente? Perdemos alguns, mas e daí? Controle seu
choro, levante-se e vamos, ainda é dia. Agora, vamos dar um jeito de sair
daqui. Se você desistir agora, só está tornando a morte dos que ficaram para
trás inútil.
_ E onde exatamente... é aqui? – Pergunta Linda.
_ Bem... – começa camaleão, mas a verdade é que não
sabia, ninguém sabia. – é melhor seguirmos em frente. – diz ele, tentando mudar
de tema.
_ Isso pode ser uma floresta fechada, não temos ideia
do que seja. – argumenta R.
_ Voltar é um risco muito grande. – retruca camaleão.
– vejamos, vimos que na saída da base havia uma estrada, como seguimos à quase
exata direita, se seguirmos reto naquela direção. – diz ele apontando para onde
seria uma suposta reta paralela à saída da base. – podemos encontrar alguma rodovia
ou coisa parecida.
Na ausência de plano, qualquer plano valia.
Começaram a marchar; Fronrel ia sobre as costas de
Camaleão. Iam, motivados apenas pela necessidade de provarem que podiam seguir
em frente, pois tudo, tudo havia dado errado. Haviam se gabado tanto, se
enaltecido tanto. E foram pegos em um simples “dia de compras”.
Após muito andarem, saíram em uma rua e viram algo
que lhes surpreendeu.
“CANDANGOLÂNDIA”
--AQUI
NASCEU BRASÍLIA—
_ Puta merda, estamos em Brasília. – diz Linda.
_ Em candangolândia, para ser mais precisa. – diz Albinati.
Estavam mais próximos do que imaginavam.
_ E agora? – pergunta R.
_ Agora – diz Camaleão – nos abrigamos. Precisamos de
uma condução.
_ E onde iremos “nos abrigar”? – pergunta Linda.
_ Bem, existem uns conjuntos habitacionais em Taguatinga,
não deve ser difícil arrumar um por uma noite. – diz R.
R. residiu um tempo em Brasília.
A verdade é que nossos heróis tentariam achar um
cômodo inabitado em um desses conjuntos e o invadiria até que alguém os
descobrisse. R. estava aflita, não tinha notícias sobre Monquei e nem haveria como
consegui-las. O que preocupava Camaleão, além de tudo que estavam passando até
então, era a ideia de que seus carcereiros já deviam ter conhecimento da fuga
e, por consequência, já deviam estar acionando os meios para recapturá-los.
Seguiram até a cidade, o que não foi um trajeto
pequeno. Lá, estando todos já em frangalhos, encontraram uma Brasília, o carro,
velha, parada em um ponto onde travestis se prostituiam, e com um senhor idoso
e bêbado dentro. Camaleão chegou lá, retirou o velho de dentro do carro e só
depois percebeu que o pobre homem estava morto. Havia muito sangue nas suas
partes baixas, o que levava a crer que em dado momento de alguma acrobacia
sexual ousada ele tenha se dado mal.
O narrador sabe a história e conta-a rapidamente: O
velho homem estava sentado com as pernas para fora do carro recebendo sexo oral,
e enquanto a (ou “o”) travesti fazia o “trabalho” estendeu a mão, exigindo recebimento
pela devida prestação de serviços, o homem, embriagado, simplesmente riu e
disse não ter o dinheiro. Foi o bastante para a travesti morder profundamente o
seu “membro” fazendo assim com que ele se irritasse e desferisse um tapa na
face dela (dele). Assim, a travesti sacou um pequeno canivete e perfurou, acidentalmente,
a artéria femoral do velho e, assustada pela colossal vazão de sangue,
vasculhou rapidamente os bolsos do velho e, pegando os trocados ali velados,
foi embora.
Camaleão não tinha tempo para lamuriar a morte
alheia, já tinha os próprios problemas e mortes para lamentar. Jogou o velho
para fora do carro, deu partida no carro, que já estava com chave na ignição, e
saíram rumo à Taguatinga. Conjecturou que, se fossem pegos com aquele carro, a
morte do velho recairia sobre seus ombros, mas lembrou também que esse seria o
menor dos problemas deles nesse novo mundo.
Chegaram à Taguatinga, já era por volta de seis da tarde, não foi difícil achar um bloco
habitacional, tão pouco achar um “apê”. Camaleão teve o cuidado de deixar o
carro em um local discreto.
Entram no cômodo. Evitam alardes, tinham de ser
discretos. O cômodo estava vazio, tinha apenas dois sofás de três lugares, um
fogão de quatro bocas, mas que não tinha gás; e um chuveiro elétrico, mas não
havia energia. O que impedia o local de estar totalmente escuro era a luz do
poste de rua que entrava pela janela. Camaleão descarrega Fronrel no sofá menos
empoeirado. Fronrel não cai, como era o esperado, fica apenas estático, com as
mãos pousadas nos joelhos, ereto como aquelas revistas de fisioterapia dizem
ser o indicado, com os dois pés firmes no chão e com um olhar vidrado. Os
quatro que estão ali além dele se assustam com a cena, têm medo de algum eventual
descontrole, passam a considerar que talvez, embora até agora não tenha feito
nada demais, ele seja um risco, que sua imprevisibilidade pode por fim a vida
de todos. Todos pensam, mas nenhum diz.
De repente ele ergue a mão direita, com o indicador
para o alto, como se estivesse em uma sala de aula e pedisse a palavra.
_ É...é...é... – ele dá uma piscada forte e uma pigarreada,
como se as palavras custassem lhe sair da boca. – é... um absurdo não... – diz ele,
tremendo. – é um absurdo, eles vêm, vêm, desmatam e dizem que reflorestam, mas eles
tiram uma mangueira e plantam um pinheiro, é sempre um pinheiro, um maldito
pinheiro; vocês sabem não sabem? Esses pinheiros são transgênicos, eles crescem
duas vezes mais rápido... é absurdo demais, dema...
Então Fronrel começa a chorar, não um choro
escandaloso, mas aquele choro engolido, como uma criança que é repreendida
pelos pais. Todos estão incrédulos com a cena, R. vai até ele, agacha-se na sua
frente e pergunta:
_ Porquê você está chorando?
Depois de um tempo considerável ele reponde.
_ Eu não sei... – levando lentamente as mãos ao
rosto.
Então ele levanta e vai até a janela e fica olhando
por um bom tempo.
_ Esse… esse lugar cheira a lavanda... alguém deve
ter preparado o quarto para nós antes de chegarmos aqui, deve ter sido a
camareira... eu… eu odeio lavanda, porque ela borrifou bom ar de lavanda? Eu
prefiro um incenso, ela sabe disso, ela sabe disso e mesmo assim borrifou
lavanda... Porque tudo tem que ser tão difícil. – volta a chorar e tremer. –
porque as pessoas não escutam umas as outras.
Agora ele coloca as mãos nas orelhas, como se sua
cabeça doesse.
_ vamos embora, por favor pessoal, eu não vou pagar
por um quarto com cheiro de lavanda, nem vou dar gorjeta para essa camareira...
– sua voz era trêmula, ele levava a mão como se mostrasse o quarto para os
companheiros, ele chorava.
_ Fronrel, não estamos em um hotel, esse cheiro não é
de lavanda, é mofo. – tenta Linda.
Fronrel arregala os olhos e olha incrédulo para
Linda.
_ A não... mofo. Mofo não, mofo é o pior… eu vou me
intoxicar, o mofo atrofia os brônquios, os brônquios... a não, não posso perder
meus brônquios. – ele falava baixo, mas andava para lá e para cá, visivelmente
desesperado. – e as fossas nasais, o mofo obstroi... obstroi as fossas
na...sa...is. A não, vamos morrer por falta de ar, vocês sabem que essa é uma
daquelas mortes que ninguém que...
Albinati, que até então estava no canto dela, chorava
ao ver aquela cena. A fala de Fronrel foi interrompida porque ela foi até ele e
deu-lhe um grande tapa na cara. Ele fica chocado com aquilo, leva a mão à cara
e lá a deixa por um longo tempo.
_ Fronrel... – diz ela entre soluços. – para...
volta... por favor... volta.
Fronrel não respondia, ela ergue o rosto para ver se
havia alguma reação.
Ele havia dormido, havida cochilado enquanto ela o
abraçava.
Parabéns, é isso ai Ian :).
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