Pós-zumbis 4ª Temporada - PREMIERE

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O Fracasso
                E lá estava Fronrel, apático, triste, derrotado. Ele está de joelhos, algemado, no meio da corte. A tribuna se erguia de forma muito íngreme verticalmente, causando o inevitável desconforto da associação com um ser vivo. Era um mostro gigante que engolia os réus, sendo eles culpados ou não. Há quem jurará que aquele não era Fronrel, que era só uma paisagem, um esboço, um boneco, um travestido se fazendo passar por ele.
                Na corte faziam-se presentes toda a escória pensável e inimaginável: Os corruptos, os imorais, os maquiavélicos, os que jogavam consoante o ganho, os que burocratizavam, os que tripudiavam, os nauseabundos, os jactanciosos, os preconceituosos, os infiéis, os pretendentes a detentores da verdade, os ditadores, os tiranos, os malignos, os maculados e tudo relativo a sinônimas categorias e classes. Fronrel estava calado, uma única e gélida lágrima descia por sua fronte, não era uma lágrima de tristeza, embora ele estivesse triste, era uma lágrima de vergonha, de derrota, de embaraço pela própria ingenuidade.
                O Juiz entra em cena, é gordo, por deus, como é gordo; há quem diga que os tecidos de suas vestes poderiam facilmente circundar o globo terrestre. Suas pernas são finas e diminutas, usa sapatilhas. Tem um sotaque peculiar, algo como o sotaque angolano, mas com um quê de quem não é nascido em terras que fazem uso do português.
                _ Comecemos agora o julgamento do réu que se apresenta diante da corte, Fronrel.
                De modo a me fazer entender, chegando então aos motivos e meios que fizeram Fronrel aparecer nesta parte da história em um tribunal e algemado, volto a bastante tempo antes, e nessa volta conto-lhes o princípio de como a história termina, de como a saga se finda, de como tudo que foi lido até agora “caput”. Mas para entendermos com clareza como tudo discorre, como o evento a gera o b e este, ato contínuo, gera o c, devo regressar ainda antes à captura de nossos heróis, que ocorre no final da temporada anterior, e a síntese desse regresso é um personagem chamado Monquei.
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O TRISTE FIM DE UM HOMEM CHAMADO MONQUEI
                Monquei está dentro do carro, dois engravatados o escoltam. Era o derradeiro momento, aquele em que verdades são postas à prova, sem romantismo. Monquei não pensou conscientemente quando deixou os óculos naquela sala, mas se perguntassem-lhe, diria que o fez porque não queria enxergar o que de agora em diante se sucederia. Monquei não era um ordinário, ele enxergava alguns passos à frente da maioria, ele sabia que o que vinha pela frente seria, primeiro, dificilmente bom, segundo, dificilmente reversível. Pensa em R., sente falta dela, queria-a por perto, queria poder novamente dizer que amava-a e que lhe queria bem, queria muito poder amá-la, no sentido carnal conferido à palavra, mais uma vez. Pensa também em Fronrel, que agora estava em um estado de debilidade, sente pena dele. Monquei pensa em como tudo era antes desta catástrofe, pensa no blog que tinha com Fronrel e Japonês antes de tudo começar, pensa, pela primeira vez em muito tempo, no Capitaldoparaguay, que com ele e Fronrel dividiu bons momentos, pensa também na vida como era, como nada acontecia, em como era apática, em como era monótona, mas pensa nisso de forma saudosista. Vê uma paisagem mental de todos os tempos bons colocados em um único instante e, depois, vê o agora: um carro em movimento e sob custódia de dois engravatados. Ele sente uma profunda tristeza, mas não vai chorar, não pode chorar, não quer chorar, não eram tempos de choro, lágrimas são para quem as merece, e a estas duas coisas ele não daria o sabor salobro das suas.
                Eles andam por muito tempo, de modo que Monquei até se perde entre a paisagem visual e a abstração memorial. Andam por certo tempo e chegam a um lugar conhecido por Monquei, também por já tê-lo visitado, mas antes disso pela sua importância, chegam ao Plano Piloto. Aos menos ligados às questões político-administrativas, ou à arquitetura, o Plano Piloto é a sede administrativa do Governo Federal Nacional, onde se concentram os Ministérios, o poder executivo, o legislativo e outras funções igualmente burocráticas (e há quem diga que até sem sentido).  É também um local planejado, dotado de uma belíssima arquitetura, trabalho artístico da mais alta estirpe, o que causa ainda mais estranheza, pela associação de obra tão magnânima a serviço de um trabalho que existe em tão baixa conta com os Homens em geral.
                O curioso é que não adentram, como esperava Monquei, nenhum prédio administrativo; seguem para o Banco Central. No Banco Central está todo o espólio nacional, a palavra pode não se adequar, em raiz, ao exato propósito, mas, a julgar pelo contexto, me vali de seu uso por achá-la mais que adequada.
                Adentram o prédio, agora os três engravatados escoltam Monquei. Levam-no até o último dos andares, o que conferia uma vista apoteótica do Plano Piloto. Lá encontram-se alguns senhores, homens muito bem vestidos, de colunas eretas e de cabelos engomalidanados; fumam charutos e bebem whiskey dos mais refinados. Encontravam-se sentados a uma mesa extremamente comprida, planifundeada por uma parede inteira composta de apenas vidro.
                _ Bonjour, Mr. Monquei. – diz um deles, o que estava sentado ao centro; seu sotaque era tipicamente francês, mas ele não o era. – O que pensas que faz aqui?
                _ Fui trazido, diga-me você, o que querem de mim?
                Ele dá uma risada muito extravagante, contrastando com sua postura sofisticada.
                _ Naturalmente, Mr. Monquei, você não teve escolha, mas pergunto-lhe o que ACHA estar fazendo aqui, qual o propósito de sua requisição. Porque, com o experimento de Fronrel tendo dado errado, chamamos-lhe até aqui?
                _ Meu palpite é que querem alguém que, estando do nosso lado, passe para o lado de vocês; como nada conseguiram com Fronrel, vieram até mim.
                _ Eu não conseguiria ter explicado de melhor forma. Você sabe também que não há hipótese de recusa, correto?
                _ Já tendo uma expectativa da resposta ainda sim pergunto, o que acontecerá se eu me recusar?
                _ Recusando-se a cooperar, seus amigos morrem, todos ligados a você de forma afetiva morrem. Se não aceitar o que lhe for designado, ou mesmo se aceitar, mas me for informado que você está protelando, de forma a beneficiar os perseguidos, seus companheiros morrem.
                _ E que garantia terei de que estão vivos?
                _ Posso mostrar-lhe fotos e vídeos, mas você sabe que estes podem facilmente serem criados, logo, garantia real não terá nenhuma, mas asseguro-lhe que, não cumprindo as diretrizes, saberá que eles expiraram, capiche?
                Silêncio. Continua o sujeito.
                _ Bem, tendo resolvido os pormenores imediatos e feitas as metas, digo-lhe mais uma coisa Mr. Monquei, sua escolha, embora compelida, foi sábia. Benevolente que sou, digo-lhe que sua opção não será de todo miserável, mostrar-lhe-ei o quão bom é esse mundo que vocês, ditos imunes da praga, isentos do vírus, e todos os nomes que dão, são preconceituosos e maldosos, exibir-te-ei a verdade sobre este novo mundo. Você terá a mulher que quiser, e na ordem quantitativa que quiser, terá um salário gordo, será respeitado como autoridade, terá um aposento com o mais alto requinte, basta escolher. Com o tempo você verá o quanto perde negando esta sociedade.
                Dito isso, o senhor saca uma carteira, dela retira um Cartão Magnético, conhecido ordinariamente pela alcunha de De Crédito, e lança-o a Monquei, que o apanha no ar e lê-o. Havia seu nome no cartão.
                _ É por meio deste que terá acesso aos seus benefícios. – completa o senhor. Ele abre agora uma gaveta e tira de lá uma pasta. – Você começa a trabalhar imediatamente, eis aqui nosso primeiro inimigo público, ache-o e leve a julgamento, vivo ou morto, não há tanta importância. Os cavalheiros que te trouxeram lhe apresentarão seu fato, a vestimenta que usará para as missões.
                Para alguns leitores mais dialéticos um pensamento pode ter ocorrido: “Mas é um fardo muito grande, e o Monquei saberia que seus amigos prefeririam morrer a colocá-lo nessa situação e ainda por cima fazê-lo matar inocentes” e esse pensamento tem fundamento, mas outros leitores, de opinião ligeiramente diferente usariam da réplica: “Mas ele ama R., talvez a presença dela tenha pesado na escolha” e estes também não estarão errados, mas a réplica do Narrador, que pode não ser a verdade, mas sim apenas uma opinião, é a de que: Por mais convicto que você seja, a miséria contínua e a desgraça lhe transformam, e ao ouvir os benefícios, talvez não conscientemente, o sofrido personagem tenha omitido nas profundezas da mente esse primeiro pensamento que ocorreu aos leitores; Volto a dizer que esta é só uma opinião, mas se eventualmente ela for a verdade, não julguemos o Monquei, que atire a primeira pedra aquele que tem uma certeza absolutamente divida de que não faria o mesmo.

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Ps: E começa a última temporada, espero que todos aproveitem.
PPs: Peço desculpas pela ausência de post meu na quarta e do marco na quinta, problemas pontuais decorrentes de mudanças para o "1 ANO" de blog... aguardem...

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