, will you still let me join in with
the game?
-
Eu sinto muita falta – ele disse, desviando o olhar na tentativa de disfarçar a
torrente de sentimentos que dele emanava. – Sinto mesmo.
- Eu também – o que saiu daquela
boca parecia uma resposta maquinal, quase impensada, uma reação instintiva
àquela necessidade de corresponder ao outro.
Não trocaram mais palavra por alguns
minutos, tampouco olhares. Sentavam-se de costas, mas com todo o cuidado para
que uma não tocasse a outra: o toque era insuportável, era a lembrança de algo
bom de um passado que morrera de velho e esquecido. Um alarme soou por perto. Uma
porta bateu, compelida pelo vento. Uma bomba nuclear, na verdade, duas bombas
nucleares caíram sobre as cabeças deixadas pendentes, Little Boy and Fat Man, hello!
Tudo isso se passou enquanto as respirações pesadas marcavam o compasso da
desilusão e a distância entre corações.
Ele tinha vergonha de ter de
falar daquele jeito, de se entregar para alguém que o humilhava, apesar de não
o repelir. A falta que sentia era realmente muita, uma chaga verminolenta por
todo o corpo. Memórias eram tudo o que o mantinha de pé, mas nem mesmo essas
seriam capazes de vencer esse repentino - mas não inesperado - desprezo. O
cogumelo da explosão nuclear cobria o céu e era tudo escuridão.
- Por que nunca mais ouvi de
você? – ele não sabia o que doía mais, se era o silêncio ou as palavras
desajeitadas e venenosas.
- Vai ver seus ouvidos não
queriam ouvir mais nada disso.
Ele tomou aquela justificativa
como válida, visto que a audição não era o seu forte desde que aquela bala
perdida alojara-se no lado esquerdo do seu crânio. Mas não ouvir não era o
mesmo que morrer de velho e esquecido. Os sons dos sorrisos de outrora se
misturavam às passadas pesadas do animal e aos soluços da primavera. Mil
novecentos e noventa e quatro quilômetros separavam as suas costas, e mais
alguns meses e dias, os corações.
Quando recobrou a consciência
que perdera enquanto o silêncio penetrava sorrateiro pelas suas concavidades,
percebeu que estavam confinados num cômodo pequeno, com uma lampadazinha
incandescente e bruxuleante no centro do teto e uma porta em cada parede das
extremidades. Mantinham-se sentados e mantinham-se de costas. Uma porta
encarava um, outra porta encarava outro. Foi então que ele se impacientou e
resolveu juntar os cacos da sua integridade que jaziam espalhados pelo chão de
azulejos rosa. Levantou-se, tentou alinhar as peças da roupa e empunhou a
maçaneta à sua frente com força. Ao abrir a porta, um negrume gelatinoso
abraçou seu corpo e a porta fechou com um baque atrás de si. Estranho foi que a
porta transmutou-se para a sua frente mais uma vez. Não havia melhor remédio do
que abri-la. Abriu. Um alarme soava por perto.
me lembra o fim da torre negra e mais tantas, tantas coisas...
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