Música — mais um texto clichê?


       É incrível como a música, de um tempo pra cá, vem perdendo sua letra. Isso pode passar por alguns de forma despercebida e por outros apenas como um fato (bom ou ruim), porém não acho que podemos dar tão pouca atenção a isso, tanto porque, a música é um reflexo da sociedade (!), e será que a sociedade também está perdendo sua letra?
       Em outrora tínhamos um número mais limitado de músicas, porém com mais lirismo, simbolismo e conteúdo em si (filosofia em versos ritmados); era se feito música para ser apreciada, sentida e interpretada.
       Não falo que a música de hoje seja ruim, e nem que não temos bandas que ainda fazem músicas no formato de como citado no parágrafo anterior, tanto porque temos uma maldita mania de enaltecer aquilo que é passado, já que esse não se altera e deles só sobraram memórias, mas a música de hoje, indiscutivelmente, vem perdendo sua arte original.
       O propósito atual da música é satisfazer as pessoas com ritmos e dingos, de forma que se tenha algo legal para cantar e dançar, para somente extravasar e esquecer momentaneamente, de forma simples, do resto (de seu cotidiano). Não importando nem o idioma ou o significado, soando legal... ta valendo!
       Não que não seja interessante este tipo de música, mas porque este tipo está se sobrepondo? Eu, na minha análise de guardanapo, já vou logo culpando todo este capitalismo selvagem!
       Hoje, com o capitalismo e consumismo em seu ápice, a música não passa agora de mais um mero produto, em que a música tem que ser vendível e atingir as mais variadas classes e o maior número de gente possível, para gerar lucro e fama.
       Essa penúltima palavra em si, a qual temos que tê-la em mente (até involuntariamente) 25h por dia, é a grande vilã disto tudo, em que com essa carga-horária que o trabalhador brasileiro tem que cumprir, com suas jornadas duplas e triplas, quando é que este vai ter tempo pra apreciar uma música? Analisar e refletir seu conteúdo então...
       O estresse é a segunda palavra que você convive diariamente, e quando você tem um tempinho só pra si, lógico que a maioria vai tentar esquecer de seus problemas (e extravasar), não importando com o que (como), fazendo esquecer desta vida soada de cada dia, até um reboletion vai. Melhor ainda se eu pesar que Sou foda!.
       Mas mesmo que uma pessoa hoje tenha tempo e queira ouvir algo melhor, onde achar? Além de que, mesmo que ache, a pessoa, às vezes, nem entende a real crítica de uma música, pois não teve chance nem a escolaridade (apesar de que hoje, num faz muita diferença este quesito, pois as escolas só estão aí hoje pra massificar mais o povo, e o vestibular é só mais uma prova pra saber se você já tá massificado o suficiente, em que agora não é mais um ser que pensar, apenas recebe informações inúteis para decorar e propagar...).
       Sei que nada vou concluir (!), se é bom ou ruim você quem vai dizer, mas será que nossas músicas estão perdendo a letra (e o sentido) por não termos conteúdos relevantes ou por não mais atender o sistema e não interessar mais a maioria?

       Que bom que não vivemos uma regra geral!
       Viva as exceções!  \õ/

      Eu costumo, mentalmente, comparar os acontecimentos da música com a postura humana: a música começou inicialmente com batidas e sons aos acasos e foi evoluindo incorporando os poemas e instrumentos matematicamente projetados até chegar a seu ápice e desde o final do séc. XX começou a regredir. Já o homem, era curvado quase como um macaco e foi evoluindo até adquirir seu ápice como um ser ereto que caminha sobre duas patas, e agora no séc. XXI começa a aparecer sua involução com pessoas sem mais apresentar uma postura reta e sim curvada, aderindo-se ao mundo das cadeiras, em que as pessoas passam mais tempo sentadas do que em pé. Viva a era tecnológica! \õ/ Cada vez mais precisamos estar situados com a bunda acomodada bem a frente de um computador... Que bom! Assim é mais fácil de ouvir meu sertanejo de cada dia.

Um comentário:

  1. Muito bom o texto, concordo com o que foi dito e acrescento que é muito mais fácil gostar do que todo mundo gosta, ao invés de abrir a mente e começar a pensar naquilo que se ouve.
    É bem mais interessante colocar para tocar uma música cheia de repetições para ficar marcada, literalmente, na mente de todo mundo e ignorar que muitas vezes aquela música além de não ter conteúdo transforma a mulher num objeto sexual.

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