Solilóquio


                O frio está roendo-me a inspiração, está roendo-me a capacidade de unir palavras e, com elas e outras, formar frases e, a partir destas, estabelecer uma comunicação que faça sentido, muito embora deva dizer que o que faz sentido ou o deixa de fazer parte simplesmente de uma questão de perspectiva, é uma mera questão de análise. Meus pés estão congelados, mal os sinto, o que não é de todo verdade, uma vez que, justamente por senti-los, sei que estão frios, e estão frios ao ponto da dor. Eu gosto do frio, é verdade que tem seus contratempos, como a chuva que lhe encharca a blusa e o tênis, como os relâmpagos que queimam circuitos elétricos de difícil reparo, como o alagamento de ruas mal infraestruturadas, como a obstrução da liberdade daqueles que se locomovem sem carro... claro, há aqueles que saem de motocicleta ou bicicleta mesmo com o dilúvio condenando tudo lá fora, mas esses são os que devemos condecorar como exceção; mesmo com tudo isso, o frio me apetece.
                O frio é... Une os corpos em sua desesperada busca pelo calor, acalenta o sono, propicia um bom prato de sopa, encoraja uma boa chávena de chá, aprova uma boa sessão de filmes no aconchego do colchão, entoa uma boa leitura, liga o “treme-queixos”... O frio é reconfortante.
                Desventurados aqueles que dizem “O Frio é triste”, mentira das mais absurdas, das mais ofensivas, até. Temos nós, em função das quatro cavidades cardiovasculares, a possibilidade quase singular no reino animal  de apreciar tal fenômeno. Pergunte ao pobre anfíbio se pode fazer o mesmo, não, senhor.
                O frio encoraja também os tímidos. Por exemplo: Você que almeja aquela oportunidade com a garota sonhada pode lha oferecer o casaco ou moletom e passar frio enquanto vê na fronte dela um belo sorriso ou, se for mais ousado, passar o braço em volta dos frágeis e trêmulos ombros da donzela oferecendo um carinhoso afago que promete aquecê-la o corpo e talvez enrijecer outras coisas.
                O frio abre o apetite. Quem não come além quando está perdendo calor para o ambiente? Sem dúvida o frio é tempero dos melhores, tudo parece ter um sabor especial quando temos esse refinado adicional.
                Essa frase “perder calor para o ambiente” me lembra a triste verdade, o frio não existe, maldita física, preconceituosa que é, foi capaz de dizer que o Frio nada mais é do que a ausência do calor. Eu digo o contrário, o calor é a ausência do frio. Mas não posso discordar da física, é quase um pecado, então sou obrigado a conviver com esta triste verdade, que é uma daquelas que vai me acompanhar até o caixão, como eu disse no meu último texto.
                Duro é aguentar este clima em que vivo: Durmo a uma temperatura que requer quatro edredons e meias e acordo sob o Sol escaldante e impiedoso transformando meu quarto em um verdadeiro fogão solar. Vou estudar o processo, talvez consiga vender a ideia a algum ambientalista. Goiânia já é atípica. Firma, das quatro, apenas duas estações em seu calendário: Deserto e Dilúvio. E ainda há um agravante, mesmo na estação de dilúvio, não se está garantida a temporada de frio, uma vez que temos chuvas a temperaturas altas também. No final ficamos mais ou menos como no desenho animado South Park, lá eles vivem em um local que tem apenas um dia de sol ao ano, aqui temos uma semana de frio no mesmo período, no máximo.
                Mas não coloquemos os prantos e desesperos à mesa, não ainda, pois ainda é frio e posso apreciar meus pés ficando dormentes e minha chávena de chá. Que eu chore amanhã, quando o frio se for. Ou não, pode ser que amanheça com um belo horizonte nublado, quase negro. Seria um dia próspero, glorioso, até.
                É duro tentar entreter-lhes quando as ideias se esvaem da cabeça. Sim, caros leitores, não me apetece escrever este solilóquio, mas fazer o que, são alguns males da vida, ossos do ofício, como diriam alguns.
                Querem que eu tente um pouco mais?
                Posso tentar...
                Não? Não querem?
                Ok, despeço-me. Lavo minhas mãos desta imundície.
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APÊNDICE:
Bem, A gente gravou o nosso único vlog... e nele a gente comentou sobre uma certa previsão do FIM DO MUNDO que estava errada, de um certo cidadão chamado Harold Camping. Bem, esse mesmo cidadão, vendo que o mundo não acabou na data que ele afirma ter "previsto", disse que houve um erro de cálculo e que a data certa era precisamente ONTEM! 21 DE OUTUBRO... e adivinha só, estou postando HOJE! dia 22 de OUTUBRO! Ou o inferno é muito parecido com a Terra (isso porque eu nem devo ter passado pelo Julgamento final) Ou então... advinha só... MAIS UMA VEZ ELE ERROU!
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Ps: Gostei muito da pequena discução que se formou nos comentários do meu último texto, gostaria que isso ocorresse mais vezes. Obrigado, leitores.
PPs: Wanessa, você é uma pessoa detestável.

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