Com o tempo o contemporâneo virou retrô


                Desde que fizeram revolução na França, vivemos no que os estudiosos chamam Idade Contemporânea. Já tivemos duas guerras europeias que de mundiais só tinham a capacidade de matar; revolucionários ditadores e ditadores revolucionários; mulheres que morreram pela liberdade e algumas que se tornaram adeptas da prática de liberar estranhamente demasiado. Inventamos tecnologias que nos permitem tanto, mas permitimos que façam patentes das nossas cabeças.

                Na minha leiga mente provinciana ainda não compreendi se este período em que vivemos só será contemporâneo até que decidam seu fim e a ele deem novo nome.  A Idade Moderna é a que já passou. Já deixamos de ser modernos e aonde vamos? O que será feito de nós quando os prefixos que procrastinam as mudanças – pós ultra neo super – acabarem? Estaremos perdidos, pois o que deixa de ser moderno, deixa de ser desejado.

                “Tudo é descartável”. Essa é máxima do século. Se você for cria da internet (gente que mal tem duas décadas), estranhará, assim como eu, hábitos de pessoas mais velhas. Costumes abandonados, como levar um sapato para o conserto, uma roupa ou até uma panela. Hoje em dia não consertamos nem televisões ou computadores: o frenético avanço tecnológico nos compele a comprar o novo, porque tudo tem seu prazo de validade e ele é curto e ele é fatal.

                A música é um dos aspectos mais interessantes para evidenciar esse fenômeno previsto em qualquer uma das duas clássicas distopias da literatura (1984 e Admirável mundo novo). Todas as canções são breves; não só em duração, apesar de também nela; perduram por períodos curtíssimos, que nem aquelas que só vivem durante um carnaval. Descartáveis. São quase todas tão vazias, falam de estar solteiro e não mais estar, de beber e fazer festa, de sexo e mulheres promíscuas. Perdoem o meu discurso se ele parecer puritano demais, mas há de se convir que a promiscuidade por aí é intensa!

                Não estou me isentando de culpa e colocando tudo na conta do “sistema” ou da “sociedade”, essa lorota já morreu de velha. Como eu já disse alguma vez antes, a culpa é nossa, é minha. Se é mais vantajoso comprar um novo produto descartável do que fazer uma visita ao “misterioso lugar onde se fazem consertos”, por que alguém faria essa escolha de forma diferente?

Um comentário:

  1. Cara, muito bom esse texto! Na área do ser humano descartável e do sexo com todos, daqui uns tempos o livro "admirável mundo novo" vai ficar antiquado!

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