Estar à beira
do abismo, mas não cair, nem ter coragem para pular de uma vez. Ficar à espera
de um vento inexistente, uma brisa que seja para te empurrar pra dentro e
acabar de vez com essa indecisão... Algo que tome as rédeas da situação e cuide
do seu fim, para te eximir um pouco a culpa.
Culpa essa que
lhe foi incutida logo na infância, quando lhe tiraram até mesmo o direito de
controlar sua própria vida , afinal acabar assim, colocar um ponto final na
droga da existência que Ele te deu com tanto amor não passa de uma covardia, um
ato que o levará direto para as masmorras flamejantes do inferno, caindo
diretinho no colo do nosso amiguinho lá de baixo.
Então você
fica nessa, se achando ao mesmo tempo corajoso; corajoso porque resiste, um
verdadeiro sobrevivente. Sobrevivente, era para ser uma bela palavra, mas indica
nesse contexto a condição lamentável em que você se encontra. Você honrosamente
escolheu, em vez de morrer e dar sossego a quem o cerca, SOBREVIVER. Apenas aguentar
enquanto tiver forças. Você não terá assim que arcar com uma possível punição
pelo único ato digno que poderia vir a ter em toda essa sua maldita vida, e
anula assim, pelo preço da escolha, ou melhor, de não escolher, de deixar que
escolham para você, qualquer chance de redenção perante a si mesmo, e seu
próprio julgamento de caráter, na esperança de uma redenção maior. Essa
redenção, o perdão, o suposto reconhecimento por ter feito tudo que pode,
quando na verdade, você não fez exatamente nada, apenas se sentou, parou no
tempo e esperou, e isso irá te atormentar para sempre. Se o sempre existir...
Mas o sempre
não existe, não existe para você; ou pelo menos é disso que você tenta se
convencer. Afinal, se passar por tudo isso agora para ter que viver eternamente
insistindo mais um pouco, batendo sem parar na mesma droga de tecla seria muito
castigo, literalmente alguém muito sádico estaria controlando tudo isso, e você
não consegue acreditar que o ser superior que te ensinaram a amar e respeitar
fosse capaz de tamanha brincadeira de mau gosto. Mas ao mesmo tempo, para ter
alguma confiança nesse ser e em sua capacidade de querer o bem você teria de
acreditar nele, o que o levaria diretamente a acreditar nas propostas de vida
eterna e perfeita ao lado d’ Ele. E se é esse exatamente o ponto em que nada
faz sentido e você espera sinceramente que nada disso exista realmente, não há,
então, o que temer. Pode pular sossegado e acabar com tudo. Supondo sempre que
seus desejos estejam certos e você não vá pra porra de lugar nenhum e tudo
acabe mesmo no exato instante que seu corpo tocar o fundo do abismo. Nesse
momento você para e começa a reconsiderar as possibilidades todas novamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário