“Ah... o amor... o amor é... falta-me
vocabulário para definir... o amor...” são reações químicas, cara.
Amor, leitmotiv para infinitas músicas, poemas,
dilemas, imagens, gravuras, pinturas, fotografias, filmes, postagens em blog
(acredito até já ter escrito sobre isso aqui mesmo) e diversos outros veículos
da expressão. E seria impressionante se não o fosse; quem já amou, ou acha que
amou, ou ama, ou acha que ama, ou tem uma imaginação muito fértil sabe do que
falo. É avassalador, nos tira a concentração, nos dá asas, nos tira juízo e até
prejudica, em alguns casos, destes mais sensíveis, a flora intestinal. E mesmo
que te mutilassem as vísceras em mil, todas espalhadas pelo chão, ainda sim
você, ciente do êxtase que este sentimento traz, diria que não se enfezaria
pelo escambo, que valeria a pena. Mesmo em sua capacidade de fazer sofrer, de
tirar o sossego, de gerar a fatiga... ainda sim gostaríamos de tê-lo, este é o
amor. Claro, existem aqueles que dele não sentem falta, ainda não sei dizer se
são assim por de fato não precisarem, ou por nunca dele terem tomado
conhecimento – claro deixo que falo do amor entre duas pessoas, pois existem
outras formas de amor – mas fato é que existem pessoas que nunca se envolveram
emocionalmente com outras e não morreram por causa disso, enfim.
Amor... é sustentado um poético discurso de que este
é predestinado e único... fico imaginando então, de um ponto de vista puramente
ignorante da minha parte, pois alguns podem acusar-me de não ser
suficientemente subjetivo para avaliar o amor em termos metafísicos; mas ou
deus é deveras bondoso com a humanidade, pois a grande maioria de nós encontra
o amor sem ter de sair do estado em que vive ou coisas assim, ou estamos, a
grande parte, mentindo, pois estamos a “tantos” anos com alguém a quem dizemos
eu te amo diversas vezes ao dia e isso não é verdade ou, e sou convencido por
esta última, isso tudo é balela das maiores; afinal, contra-argumentando a primeira alternativa, é absolutamente improvável, do ponto de vista da probabilidade, que dentre tantos lugares e com sete bilhões de habitantes neste planeta, justo o seu vizinho seja o amor da sua vida...
Amor não se encontra, não se prospecta, não se
rastreia; amor se faz, se constrói, se edifica, modela. E não é muito mais
bonito assim? Você pensar que, ao invés de um ultimato inerente a você desde o
nascimento, ao invés de algo que não lhe era passível de escolher, você poder
encontrar uma pessoa com quem se identificava em certos pontos, por quem sentia
uma grande empatia, com quem sorria, com quem tinha amizade (e não, isso não é
amor, se você crê que amor seja isso e só... tenho certa pena de ti), e juntos
puderam edificar tal sentimento, me parece mais belo.
Amor vem
com os anos. Não é que você não deva dizer para sua namorada recente que não tem
certeza se a ama, mas apenas, e simples assim, saiba que, se amanhã tal coisa
acabar, sofrer é natural, mas não é o fim do mundo, primeiro porque muito
provavelmente não era Amor, este com maiúscula, mas segundo, e principal,
porque mesmo que fosse, acha-se alguém novo, diferente, ou mesmo similar,
alguém com quem se pode, perfeitamente e sem déficits, construir o mesmo
sentimento, reproduzi-lo da mesma maneira. Senão como ficariam aqueles que
precocemente enfrentam a viuvez? Não me diga que alguém que perde o(a)
companheiro(a) na altura dos 35, 40 anos não é capaz de amar de novo, desafio-o
veementemente.
Amor,
preocupemo-no menos com achá-lo, ocupemo-nos mais em fazê-lo. A esta altura
alguns já fecharam o texto, ou pularam para outro; alguns podem até estar
balançando virulentamente a cabeça em total negação de meus argumentos, mas no
fim quero que a experiência de nossos pais, de nossos avós, diga algo de
diferente. E se você olha para eles, e alguns deles corroborarão minha ladainha
– e alguns negarão não por descordarem, mas por crerem que à juventude é
saudável este tipo de fantasia – e crê que não viram tudo, que com você é
diferente, que são coisas novas, que você estudou mais, que você pode mais, que
tem mais faro para discernir estas coisas; só dê tempo ao tempo, este dirá;
eles não sabem tudo, eu mesmo sustento esta opinião muitas vezes do meu dia,
mas se tem algo em que tenho grande confiança, é no viver sentimental daqueles
que há mais tempo enfrentam o leão diário que é viver.
E sim,
pode até haver um certo “impulso” para se ficar com alguém, mas garanto, se não
fosse esta, seria outra; não há exclusividade, não existem almas gêmeas, a inerente
vontade da vida de se reproduzir e lançar seus códigos um tanto adiante no
tempo é grande demais para ficar a cargo de tais devaneios humanos. O que há é
a constante vontade corpórea de se reproduzir; o que há são complexas reações
químicas, estas que abrem ou fecham certos filtros do nosso pensar, o composto “paixão”,
“amor”, como queira, está ai, mas nem de longe é o amor de fato – este que
supraelucidei, este que se constrói – e nem de longe acontece por que dois
querubins estão ai a lançar flechas nas bundas dos transeuntes, tão pouco
porque, ao nascer, uma alma foi cortada ao meio por uma faca celestial para
depois, nesta saturada Terra, virem a se unir novamente. E torno a repetir,
fanático pelos debates que sou: Se percebe minha visão como demasiado
cientificista, demasiado moldada pelos parâmetros exatos, carente de metafísica
ou pouco ciente dos assuntos das almas e dos corações, que façamos da ala de
comentários a nossa mesa redonda. Só não me venham dizer que libido e algumas
conversas bobas juntas são amor.
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amor estranho amor, uma referência à rainha dos baixinhos, maciiiia
ResponderExcluirsabia que esse título era familiar! kkkk
ResponderExcluirSinceramente, após alguns anos de convivência, me espanto de certos pensamentos seus serem tão similares ao meus, sendo que nunca trocamos uma palavra a respeito de tais assuntos e tivemos experiências bem distintas de vida ^^
ResponderExcluirEsse foi um pensamento que circulou muito em minha mente no último Clube do Livro, já que o tema da conversa se repetiu aqui, veio a tona novamente.
Mas vamos ao que nos interessa: ao debate! Já que a pergunta destes que nos elucida.
Tirando as questões de certo ou errado, já que não cabe a nós jugarmos religiões, o que você acha sobre os casamento arranjados na Índia para crianças de 5 anos, pelo pais? Já que estes dizem que quanto mais cedo começa a se construir o amor, mais forte ele se torna (relevando, é claro, o interesse pelo dote que os pais têm). As crianças são privadas de seu direito de escolha, mas você acha isso irrelevante, já que este mesmo amor pode se construir com qualquer um? Ainda mais crianças, já que não possuem personalidades bem definidas ainda e esta se estruturará através da influência daqueles que convivem ao seu redor (e de uma forma ou de outra terão coisas em comum)...
Não digo que acho certo o que lá é feito, mas é uma questão cultural, eles também não devem achar certo o aborto, eu acho... não é que o amor deles seja maior por ter começado mais cedo, mas certamente existem casais que, mesmo arranjados, são genuinamente felizes... Estamos falando de valores ocidentais contemporâneos. Mesmo aqui, certo tempo atrás, se arranjavam casamentos... não estou falando que quaisquer valores culturais devem ser aceitos em conformismo e sem críticas, estou apenas dizendo que eles podem até ter um meio "brusco", mas alguns são felizes assim, outros não... como nós, que mesmo podendo "escolher" com quem ficar, as vezes não somos felizes em nossas escolhas...
ExcluirE lembre-se de uma coisa: pais nunca erram, se eles escolheram, vai dar certo (ironia ON)