Um grande amigo meu, uma vez, pintou uma imagem do tipo que só ele sabe fazer; com uma paisagem caótica e pessoas de expressões melancólicas, como aquelas no altar de cabeças de Lampião e companhia. É bem complexa e até agressiva. Traz tanta coisa à mente que me fez escrever uma poesia homônima. Será mesmo, ali, o único ser inocente o gato?
Kaito Campos.
A inocência do gato
É nas fúteis mesuras desmedidas
Que reside o cansaço escarlate da vida
E se vê no mormaço e na vista caída
A intumescência do ato
O clima é frio, mas também quente
O rosto é vivo, e indiferente
Num canto funesto o que resta à gente é
A consciência no prato
Tudo desfigura, nada é ameno
Ele é caolho, e o que vê é pleno
O outro é riso, engano, veneno, é
A indecência do trato
O horizonte reflete a imagem travestida de vergonha
Do amor putativo e da raiva medonha
E está nos olhos baços, de tenra peçonha,
A quintessência do chato
Mentiras prosperam nas rachaduras da terra
Mãos procuram a esmo o coração que erra
A enorme pequenez de homens encerra
A suficiência do exato
E eles se sentem maiores, mais poderosos até
E repudiam de um, mas não de um qualquer
Então veem as bolhas, que evidenciam, nos pés
A deficiência do sapato
Se entreolham, abatidos, os cancerosos
Não querem cura, querem motivos rancorosos
Mas somos crédulos e aceitamos, gozosos
A inocência do gato
Marco Faleiro.
Hoje é dia dezenove... Hail to the Gunslinger!
relamente, o kaito pinta coisas maravilhosas! essas coisas caóticas são bem a cara dele,e, o mais incrível de tudo, ele faz isso com tinta guache !
ResponderExcluire marco, a sua poesia parece parte do desenho : )
Perfeito o poema cara...
ResponderExcluirNa minha opinião o melhor até agora!
Tive que lê-lo várias vezes para entender por completo, toda a mensagem.
"crédulos (...) aceitamos, gozosos
A inocência do gato"
Apesar de sabermos que o gato não é inocente !
...Ou não queremos ver que ele não é inocente?