Canibalismo sutil

Aproveitando o tema do último post do Ian, gente comendo gente, resolvi postar minha analogia antropofágica das relações humanas. É um poema. E não venha me encher o saco por isso, from hell.

Zumbis são legais. É um dos cenários apocalípticos mais interessantes. Dá pra arrumar pistoleiros, saquear shoppings e, mais importante, promover um controle populacional. Pena que nosso canibalismo é sutil, e mata bem devagarinho.

Canibalismo sutil

As notícias lia, em sua moradia,

Mas não as entendia.

Não sabia se ria ou se conferia,

Mas, se tal ideia havia,

Sem qualquer fobia ou pederastia,

Teria sim e assim seria,

Antropofagia em plena luz do dia.

E toda a liturgia da aristocracia

Jamais impediria.

Não poderia, nem tão pouco nos serviria,

Nossa pia democracia.

Só nos mostraria dentes de tirania,

E a artilharia que, doentia,

Adormece e acaricia a nossa filosofia.

Enquanto macia a calúnia corria,

Seu açoite mordia

Aquela tranquila expressão vazia.

E a verdade veria,

Nos seus findos instantes de agonia.

Cairia de dor, ferveria,

Morreria do horror, mas jamais saberia.

Vermelho vestiria seu lábio que tremia.

Sem ter a própria anistia,

Mas a do corpo que no chão jazia.

Marco Faleiro, eu.