Minha pequena bolha

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Dias atrás, quebrei um copo, juntei os cacos, criei um mundo...
Os prédios são impossíveis. Poesia dá em fábricas, que não a produz em massa. Os postes dão luz, dão sua música dileta quando passa ao lado deles, dão balas de coco. Os mendigos dão dinheiro pra gente toda. Árvores têm abscisão nos outonos, têm flores nas primaveras, são verdinhas nos invernos e dão conchinhas nos verões, para combinar com as praias. Em dia de praia, há feriado: os moços fazem nado sincronizado e as moças se entretêm em pescarias. Cinema é gratuito e ao ar livre. Há postos de saúde, postos de gasolina, postos de abastecimento de felicidade. A cada esquina, vê-se dessas máquinas em paralelepípedos: você passa seu cartão de identidade no laser vermelho, faz seu pedido e o ganha numa caixa, cuspida pela máquina em duas vezes a velocidade da metamorfose da borboleta imperial. Sonhos são projetados antes do sono. Zoológicos não têm cercas; há exposição de casais de humanos pré-históricos, nus e inocentes. Assistimos televisão aberta, fechada, insaturada, ramificada, com transmissão alienígena também. Você escolhe a cor que quer ver o céu: se quiser cinza, vai de carro, se quiser azul, vai de skate, e se quiser verde, aperta a opção “aurora boreal” no seu controle remoto. Quando estiver triste e ninguém o quiser ouvir, quando suas coisas ficarem ruins, seus amigos manterem distância, sua bolsa lacrimosa parecer estourar em partos, suas mãos não acharem apoio, suas meninas estiverem longe dali, então você tem direito a uma bolha. A bolha o levará aos céus num voo frio, de limpar as falhas do coração. O frio o abraça apertado neste mundo sempre que não tem ninguém nem para olhar. 

Um comentário:

  1. E bom retornar a ver o Machado Eugênio amei o nova cara daqui e bom saber que existe outros talentos escrevendo aqui ,viajei agora quero viver nesse mundo.

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