Amarelo


Dois girassóis se beijavam frenéticos e perdidos
Com seus miolos quentes e violentados
Na minha frente e dos meus lados
Surpresos por eu continuar ali, sem sentidos

Páginas velhas, amarelas, cansadas
Letras azuis esquecidas, jogadas às traças
Desejos que não dizem mais nada
E dizeres que não mais querem que eu faça

Mas girassóis não se beijam como estes na minha frente
E os dentes amarelados do esquecimento
Não devoram os fracassos na minha mente
Como a lua de mágoa onde me sento

E com a ferrugem persistente eu assisto
Às mãos que tocam chagas que não doem
Como a renúncia penitente de um cristo
Que com olhos viu as tristezas que destroem

E eu vejo, sempre que posso, o belo
Mas minha venda é um losango que guarda estrelas
Que brilham embaixo das sobrancelhas
E em cima de um pacato sorriso amarelo

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