O último dia do tempo


não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
                (Drummond de Andrade)



                Um ano inteiro passou, só mais um além dos dois mil e poucos desde que Jesus nasceu.  Mas esse não foi exatamente só mais um; ele foi o fim de muita coisa, coisas boas e ruins, coisas importantes. O fim, uma palavra que carrega tanto ânimo, decepção, vitória, saudade, alívio, e não importa o quanto digam que esse é na verdade o começo de algo melhor, nunca vai deixar de ser o fim.
                Nesse ano, eu e o resto dos membros do Machado de Eugênio (em peso) terminamos o ensino médio. Foi uma jornada gigante. Foi como carregar O anel de Bolsão até a Montanha da Perdição. Foi difícil e, acima de tudo, acho que foi cheio de sensações conflituosas para cada um de nós: nunca senti tanta preguiça e ao mesmo tempo ânimo de ir a algum lugar como a escola.
                Fiz bons amigos durante esse tempo, a maioria deles está aqui mesmo no blog, e espero que esses posts semanais que criam teias de aranha no esquecimento sirvam como conexão entre esse passado e o que vem aí. Mas quem pode saber se o tempo, aquele vermezinho que se arrasta incansavelmente, não vai jogar cada um para um canto, como se fosse uma daquelas ondas bidimensionais que aparecem quando uma pedrinha mergulha na água?
                Eu não faço a mínima ideia. Mas a única coisa que se pode fazer repetidamente é tentar não esquecer. E o primeiro passo para isso é lembrar. E lembrar é tão mais fácil com estímulos: imagens, cheiros, sons, algo como urina que sai das glândulas sudoríparas dos olhos...
                Vou sentir muita falta. Talvez só até o momento em que minha cabeça se encha com coisas novas, mas isso não quer dizer que tudo foi irrelevante. Só que o mundo seguiu adiante, e, se não seguisse, só haveria um monte de velhinhos fumando e contando as suas memórias. Vou sentir falta de almoçar quase todos os dias com ignóbeis e indesejáveis sujeitos e até de ser assaltado com eles. Vou sentir falta das histórias e das frustradas brincadeiras de falar sem parar do Kaito; dos solilóquios do André; das conversas fiadas do Pamonhão; dos destemperos do Gnu; da companhia do Assunção; dos beiços do Filete; das piadas do Giu; e até dos outros, em outros níveis.
                Mas, enfim, nós crescemos e estamos cada vez mais prontos para morrer.
                Eu espero que todos tenhamos sucesso e que também encontremos razões e ocasiões para nos reunirmos de vez em quando. Porque nós sonhamos fugir, sonhamos aterrorizar Caldas Novas na Hilux do Assunção, sonhamos ser músicos e escritores, sonhamos morrer a obrigação e nunca nascer a distância. Sonhamos: verbo que nunca deixa de estar no presente, mesmo quando está no passado.

2 comentários:

  1. Eu também vou sentir saudades de muita coisa, dos colegas, dos professores. Espero que mantenhamos contado, pelo menos nós do Machado de Eugênio \o/
    E uma observação, eu sou burro, então não me descreva com palavras difíceis -.-
    "SOLILÓQUIO: Acto de falar consigo próprio."
    Eu falo sozinho?? O.o
    por favor explique-se

    ResponderExcluir
  2. Você é um cara comunicativo. isso que eu quis dizer kkk

    ResponderExcluir