Seriam eles os novos Datenas???


                Os ilustríssimos vlogers... estes que são as novas celebridades, as bolas da vez, os formadores de opinião honestos, estes que, por não serem da Globo ou da Record, você vê como francos e imparciais, mas calma lá...
                Um fato recorrente – e o Marco Aurélio e o Kaito Campos, que estão estudando Jornalismo, podem falar bastante sobre isso – é que o fato pouco interessa às pessoas. O fato puro e cru, este muito raramente é tido como interessante na contemporaneidade da massa. Baudrillard já disse eu seus escritos: “só lhes interessa o espetáculo”, e desconfio cada vez mais, apesar de não concordar com tudo que ele pensou, que ele realmente estava certo. Apontar a gênese deste problema ainda é demais para meu parco intelecto, tentar aqui dizer se isto é inerente ao homem ou se é fruto de uma alienação social ou se é culpa de um deus louco só serviria para me embaraçar os dizeres e os respaldos; de modo que me limito a evidenciar o fato, e faço-o como se verá adiante, apenas para corroborar a minha humilde opinião fecal de que estes vlogers de hoje nada mais são do que Datenas e Batistas Pereiras da nova geração.
                Eu te pergunto, para apreciação do fato e sua consequente corroboração: O que dá mais audiência? Expor um caso de pedofilia e citá-lo, com os já desbotados respaldos médicos, como um problema mental de uma pessoa que não teve a doença reconhecida e tratada, ou esbravejar no microfone do colarinho “que isto é FALTA de vergonha, é um verme que deveria estar no paredão, que deveria ser fuzilado; o senhor, pai de família, proteja sua prole, pois os demônios da nossa sociedade estão soltos!!!”. O que dá maiores índices de audiência claramente nem sempre retrata fielmente a verdade; a hipérbole perversa serve ao deleite público nesse prazer masoquista de se viciar em ver a desgraça sendo escalpelada.
                Dizer que um dos maiores problemas quanto ao crime é a desigualdade social não tem o impacto que os anunciantes querem... é mais fácil você dizer que “CADA VEZ MAIS! A FAMÍLIA BRASILEIRA CORRE O RISCO DE NÃO PODER MAIS LEVAR SEUS FILHOS AO PARQUE NOS DOMINGOS DA NOSSA CIDADE! O BRASIL NÃO VIRA UM PAÍS DESCENTE PORQUE FALTA PENA DE MORTE!” Claro que isto tem muito mais impacto.
                O leitor percebeu que retratei nos exemplos supracitados típicas e defasadas equações dos jornais policiais sensacionalistas, como Datena e Batista Pereira, por exemplo. Mas agora vamos então aos vlogs...
                A classe média brasileira, esta que absorve a cultura pop, os clichês estereotipados do “estilo” e coisas afins... esta é a grande consumidora do conteúdo produzido pelos vlogers. Esta que quase tem um orgasmo ao ouvir o Cauê Moura ou o Felipe Neto ou qualquer um destes falando que: “A TELEVISÃO BRASILEIRA É UMA DESGRAÇA! QUE NADA PRESTA!” Ou que “ESSE FUNK DE BOSTA! ESSE SERTANEJO CU!”... enfim, vemos o engodo nos olhos da massa adolescente ao ouvir tais frases histéricas.
                É como o Marco Aurélio disse eu seu texto de ontem, a moda agora é criticar a cultura de massa, quando a verdade é que esta cultura pop, neohipster, neonerd e neotelefóbica é a nova cultura de massa. Agora a moda é raspar a lateral da cabeça, usar visual pseudo-nerd, xingar muito tudo que é de massa, ser bi, não ver TV e coisas assim. Quando o fato é que, tanto o jornalista da TV que diz que o usuário de drogas tem que morrer, quanto o vloger que diz que na TV nada presta estão errados. Sabe porque, porque na Tv têm coisas boas, acha que não? Pegue o controle e troque de canal, vá ver a TV cultura: Provocações, Metrópolis, Roda Viva, o Jornal da Cultura, os Filmes cults que passam por lá. Mas não, tudo isso é muito chato... e porque é chato? Porque talvez estes se interessem menos em fazer arruaça televisiva para ganhar audiência e tenham mais empenho em tratar dos fatos com maior imparcialidade e criticidade. Não é xingando o Funkeiro de ignorante idiota que você vai mudar as coisas, primeiro porque muitas vezes nem se sabe do que está falando, nem se sabe como o funk é visto por eles, o que ele representa e coisas assim. Ou você realmente acha que virando para um ouvinte de Luan Santana e dizendo para ele “você é um débil mental, um idiota acéfalo sem tamanho!” ele realmente vai por a mão no queixo, vai parar, refletir e depois dirá “putz, é verdade, como é que eu sou tão estúpido?” Isso não resolve o problema, só serve para uma coisa, espetáculo.
                Mas é sempre isso, o que interessa nunca é o fato, mas o espetáculo, a única diferença entre o Datena e o Cauê Moura, por exemplo, é que um fala para o público Jovem e o outro para a geração passada. Dê uma olhada no estilo: Ambos se “estressam” nos programas, falam mal do mundo e do homem e da civilização como se a terra estivesse a arder no espeto do inferno, gostam de pagar sapo para o telespectador... enfim, gostaria que me dissessem a diferença, por favor, a diferença... Pois eu nunca vi, NENHUMA VEZ, algum deles tratar com propriedade empírica ou científica qualquer fato que fosse, ou mesmo com algum gesto que não fosse intencionalmente afetado para gerar impressão naqueles que assistem. São sempre os palavrões usuais, as frases hiperbólicas de efeito mediano, e uma pseudo-opinião supostamente embasada e sofisticada, alguns olhares de cólera, a voz alta e a necessidade de fazer o circo continuar, e nenhum deles tem interesse em mudar porra nenhuma, ou se têm, não é com os programas que fazem que manifestam esta intenção.
                A única diferença que vejo neles está no ponto de vista da relação com a plateia, talvez pelo pedestal em que a TV se encontra em nossa cultura e pela face democrática da Internet; me parece que as pessoas veem os vlogers como pessoas amigas, como irmãos do churrasco de sábado, como pessoas que são iguais a “nós” e que não fazem os vídeos com um engravatado atrás dizendo o que eles podem ou não dizer, o que inclui, por exemplo, poder falar palavrão na Internet a qualquer hora do dia. Mas enfim, este parágrafo em nada contribui para minha explanação, é apenas uma constatação.
E é isso.
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Um comentário:

  1. realmente, hoje tudo se é uma cultura em massa, mas a unica forma de não ser criticado é ser morto, porque depois de mortos é que viramos "santos", ou pelo menos a maioria vira... e mesmo depois de mortos ainda somos criticados, mas como dizia o ditado japonês "o prego que se destaca é o primeiro a ser martelado" então olhando pelo lado deles, nada está bom, são como gatos, comem e miam, ao mesmo tempo...
    o que podemos fazer é lutar pelos nossos ideais, porque apesar de ver o caos brasileiro, ainda existe uma luz no fim do túnel... e não é o trem kkkk
    Continuem escrevendo, não comento sempre... mas leio Sempre... rs

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