O Colóquio


Primeiro aperte play, depois comece a ler, fikdik

                Dir-se-á, e com justificada compreensão se entendemos um mínimo que seja dos tempos de hoje, que a cabeça baixa, que o silêncio, que a tristeza, são faltas de decoro, abominações de uma psique humana disforme e desviada.
Sorrir, o fardo dos atuais tempos. Sorrir até que seus lábios se congelem nesta posição arqueada e você passe a se parecer um manequim. E concordar também, concordar com a miséria e decrepitude dos tempos que vivemos por serem estes o ápice da nossa civilização, não haveria como ser de outra maneira, chegamos aonde chegamos e não seria de outra forma mesmo que voltássemos atrás cem mil milhões de vezes; sofrer é burrice, lutar é burrice maior ainda, disparate; para que esta atitude estúpida? Senta cá, pegue uma cerveja, esqueça isso, dá muito trabalho; de quê vale a luta se você pode simplesmente se juntar à nossa turma de patetas? A ignorância é uma benção, “mas isso pode trazer consequências às pessoas vindouras...”, ora, não seja estúpido, que temos nós a ver com isso? Que eles cuidem dos problemas deles quando nascerem e crescerem, ponha nas mãos de deus, ele está ai para isso, nós também vivemos as consequências dos atos de pessoas do passado. “Mas isso não lhe dá vontade de querer mudar as coisas?”, não tenho tempo para isso, a vida é curta, se eu ficar perdendo meu tempo pensando no que fazer do outro, vou envelhecer e não vou ter transado o número de vezes que eu gostaria, nem terei visitado o número de lugares que gostaria, nem terei adquirido todos os bens que quero ter; eles que se emendem. “Mas e esse deus no qual você tanto fala? Que vai ele pensar disso tudo?” Deus nos entende, é pai benevolente, sabe que nada posso, e mais, ele irá nos salvar, está na bíblia, está escrito, os tempos de dor e de caos, do armegeddon e do apocalipse virão de qualquer forma, se já não estivermos neles, caberá a deus a salvação derradeira dos povos, não a um pé rapado como eu, que nada mais sou que um fiasco de bosta que o fenômeno da vida deixou na terra. “Falar assim é fácil, e os que nesse momento sofrem sem culpa, sofrem por terem vindo da porta materna para um mundo que é sinônimo de desigualdade e de egoísmo e nada mais?” Eles têm chance. “Igual?”, não igual em termos, mas em capacidade, “como consegues pensar assim se encara uma mansão com posses e finanças e possibilidades e depois passa os olhos por uma favela?”, veja quantos filhos dos ricos não fazem nada que valha com a oportunidade que têm e verá onde reside minha capacidade, “mas isso é apenas um desdobramento do frenesi louco em que vivemos, desta abusiva necessidade pelo consumo, da alienação inerente a qualquer profissão hoje”. Então de nada adianta nada que façamos, “quando você diz isso você atribui toda a culpa ao espírito do homem e nem se lembra do leviatã que é este sistema social, econômico e político em que vivemos, este que nada mais é que um degolador de cabeças humanas, e você não toca nisso, deixa lá parado como um pedestal intocável, por ser este o único ponto de referência que temos hoje, já que tudo se diluiu, tudo se tornou abstrato, fluido, disforme, inconstante.
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PS: Pequena inversão, a Lily postará amanhã, não se enfezem!

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