Ser-se rico... vontade de... não sei, nove entre dez
viventes? Talvez de dez entre dez... não digo que é errado querer ser rico,
muito menos que é errado sê-lo, seja por herança ou por conquista, embora a
segunda opção traga mais prestígio aos espólios... não, ser rico deve ser bom
mesmo, e que argumentem nos comentários aqueles que discordam... mas o duro são
aqueles fantasiosos, aqueles que só se contentam se estiverem a viver a
realidade da “minoria branca católica”, como diria o Marco Aurélio, que hoje
nem é mais tão católica assim, ouso dizer; aqueles que constroem castelos no ar
esperando que a loteria os premie... beira o esdrúxulo, o caricato, o jocoso, o
obtuso... estas pessoas que acham que a vida só pode ser feliz de fato se
tiverem piscinas de néctar e colares de ouro... casas com mais vidro que
reboco; estas que, qualquer arquiteto franco dirá, no Brasil, são absolutamente
pouco eficazes por não armazenarem calor no frio nem isolarem no calor; não,
estas pessoas beiram os mais baixos níveis de escrúpulos sociais para
alcançarem o objetivo fútil de suas vidas, viverem de compras em shopping e
encontros sociais pífios, onde a pergunta mais profunda de que se tem registro nos
extensos volumes da história das convenções sociais é: “nossa, este vestido é
feito sob medida ou comprado em lojas?”
Pessoas que são lembradas por quanto dinheiro têm na
carteira, e não por quantas pessoas ajudaram, ou por quantas vezes se
preocuparam com os problemas do mundo. Não, isso é chato, divertido é o frívolo
deleite de pagar dez reais em uma xícara de café, ou quinhentos reais em uma
indumentária que custou trinta para ser produzida... isso é valorizado. Alguns,
destes que não são ricos, mas querem sê-lo, destes que estouram limites de
cartões de crédito, destes que têm vergonha se dissermos, “ei, talvez o
dinheiro não dê e a necessidade não seja tanta, não acha que é melhor poupar?”,
estas pessoas são as que afundarão, e com certa satisfação minha, devo dizer.
Temos de admitir que talvez a culpa não seja inteiramente delas, que a
alienação deste mundo lhas tenha tragado como um leviatã, mas ainda tenho certa
consternação ao presenciar tais cenas; estas pessoas são talvez piores, porque
fingem ser aquilo que não são, se rebaixam ao extremo do escambo da dignidade
humana para manterem um estilo de vida que não é feliz, um estilo que só me
causa uma emoção, pena, talvez com uma pontada de ojeriza.
Destas que se envolvem em relações visando apenas
finanças, destas que antes de olharem o que o sujeito(a) fala, olham o carro
que ele(a) dirige, destes(as) que antes de olharem o que este(a) cara fez para ser o que é, consultam sorrateiramente o extrato bancário olhando para a
marca dos calçados e das vestes. Se há podridão no mundo, vejo ela ai em grande
medida.
E os ídolos? As pessoas hoje não querem saber dos
intelectuais, não querem aqueles que pensaram e solveram dilemas ou interviram
na história, querem admirar aqueles que moram em mansões e que têm piscinas em
casa, que pilotam carros do ano, e importados; que nunca se deram ao desprazer
de repetir uma roupa; estes é que são as bolas da vez. E é nisso que afundamos.
E o pior é a ingenuidade, pois este texto não é
destinado aos ricos, mas àqueles que querem viver como ricos e não o são, pois
legitimamos um sistema que nos corrompe, que nos entristece e que nos escraviza
na esperança de, um dia, talvez, sermos como estes ídolos de merda que
preenchem as páginas das revistas e dos web sites, mas a ironia é que nunca,
isso nunca vai acontecer, pois há uma gigante petrificação no sistema
financeiro; quem tem dinheiro permanecerá tendo dinheiro, e um dentre um sem fim
conseguirá emergir das classes (ou da classe, como diria Marx) inferiores para
ascender ao status de pessoas financeiramente bem providas.
E é disto que estas pessoas vivem, de ilusões fúteis
de consumo desregrado e sem sentido, de isolamento quanto aos problemas do
mundo e de isenção de culpa neles...
E se alguém discorda, que comente. Mas que seja
franco, que não concorde com o que eu disse por ser um discurso tido como politicamente
correto (que sabemos, muita gente acha que é um conto de fadas) pois, como eu disse
no texto de ontem, a hipocrisia é um mal, senão O mal...
SEJA A MUDANÇA QUE VOCÊ QUER NO MUNDO.
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