Pós-Zumbis 3ª temporada (4)


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Um dia propício para ligar o foda-se

_-+PRIMEIRO DIA+-_

                Tudo estava nebuloso na cabeça de Monquei, principalmente suas vistas; e não porque lhe drogaram ou bateram, mas porque tiraram-lhe o benefício dos óculos.
                Monquei estava em uma sala úmida e escura, com uma turva luz que saia das paredes para refletir no teto. Estava com as mãos amarradas acima da cabeça. Não sabia por quanto tempo estava assim. Estava quase pegando no sono quando a luz, que era algo que tendia ao amarelo, tornou-se azul, então um jato de água muito gelada caiu diretamente sobre ele. Monquei tinha razões para odiar os filhos-da-puta, mas agora sentia uma vontade real de matar. Monquei detestava mudanças bruscas de temperatura, era extremamente sensível a elas, era como se trilhões de bilhões de micro-agulhas penetrassem sua pele e fizessem um movimento de vai-e-vem; e pior era depois, os espasmos decorrentes do frio, a perda de sensibilidade nas mãos e nos pés... Monquei tinha razões para desejar sangue neste momento.
                _Olá, Sr. Monquei. – diz uma voz por um alto-falante anexo em algum lugar que Monquei não conseguia enxergar.
                _ Chupe meus bagos. – Responde Monquei, Cortesmente. Como os odiava nesse momento, estava tremendo de frio.
                _ Isso não foi muito educado, Sr. Monquei. – responde a voz, com tom de censura.
                _ Pare de me chamar de Senhor. Onde estão meus amigos? Onde está R.!? – Pergunta Monquei.
                _ Não precisa se preocupar com eles agora. Tem fome? – pergunta a voz.
                _ Vá pro inferno, bastardo. – responde Monquei. – Eu quero saber onde eles estão! ONDE ELES ESTÃO! ONDE ELA ESTÁ!
                A voz já havia desligado a conexão.
* É importante fazer uma breve pausa na narrativa para explicar que nem mesmo o vosso humilde narrador sabe explicar esta abrupta mudança de tom nos xingamentos de Monquei, que passam de “chupe meus bagos” para “bastardo”, mas prossigamos, pois se fossemos explicar todas estas peculiaridades ainda não teríamos decorrido nem o primeiro dia de jornada. *
***
Camaleão estava a ter um pesadelo onde Poeta K. vinha lhe visitar, estava com as órbitas oculares vazias, e lhe dizia coisas em mandarim, idioma que Camaleão nunca aprenderia. Camaleão acorda.
Está em uma sala, ele e R. e Albinati.
*É importante dizer que estes três não foram postos juntos por serem considerados mais inofensivos ou coisa do gênero, foi simplesmente a ausência de mais salas medonhas.*
                Camaleão estava sentado e algemado a uma cadeira; Albinati estava deitada e presa a uma mesa; R. estava de pé, algemada a uma tubulação que passava pouco abaixo do teto.
                _ Imagino que estejam com fome. – diz uma voz vinda do canto mais escuro da sala.
                _ Concordo. – diz camaleão, em um estado de parcial consciência.
                A voz deixa comida pra eles e sai. De nada adiantou, uma vez que estavam imobilizados e a Voz não os soltou.
***
                Linda acorda com uma goteira em sua cabeça. Olha ao redor, enxerga pouco ou quase nada. Uma chama se acende, era Choreilargado:
                _ Esse lugar cheira a merda. – diz ele enquanto acende um cigarro.
                _ Esse lugar não tem janelas, você vai mesmo acender um cigarro aqui? – pergunta ela.
                _ Temos saídas de ar. – diz ele apontando para o teto e levando a chama do isqueiro para que Linda pudesse enxergar.
                _ Não podemos sair por lá? – pergunta Linda.
                _ Além de ser uma saída muito estreita para mim, eles estão nos vigiando. – diz ele apontando para uma câmera discretamente posta no encontro do teto com a parede.
                Surpreendida por todas aquelas informações, Linda pergunta:
                _ Há quanto tempo você está acordado?
                _ Eu nem cheguei a dormir, aquele gás do carro não me apagou, quando chegamos a este lugar eles me colocaram um capuz na cabeça e nos jogaram aqui.
                _ E “onde” exatamente fica isso?
                _ O gás não me apagou, mas me deixou pra lá de grogue, não consegui ver.
                Neste primeiro dia Ninguém visitou a sala de Linda e Choreilargado.
_-+SEGUNDO DIA+-_
Ninguém visita a sala de Monquei.
***
A voz adentra novamente o recinto onde se encontram Camaleão, R. e Albinati.
_ Não comeram?
_ Por razões óbvias... NÃO. – diz R., chacoalhando as correntes.
_ Perdão, não tenho autorização para tirar-lhes as algemas.
_ Então como espera que comamos? – Pergunta R.
_ Bem...
A voz não responde a pergunta, sai da sala e fecha a porta atrás de si, ignorando os protestos verbais de R.           
***
                _ Certo, então vamos lá, esta você não deve ter ouvido. O que é um pontinho verde que sobe e desc... – Choreilargado é interrompido pelo repentino barulho da porta da sala onde se encontrava se abrindo.
                Alguém entra. Choreilargado arqueia as sobrancelhas, banca o irônico:
                _ Olá, visitante mal educado que não bate antes de entrar, a que devemos a visita?
                _ Bem, serei breve.
Quem estava ali era um Engravatado. Ele retira lentamente os óculos escuros, agacha-se de frente a Choreilargado, que estava sentado em um canto da sala. Linda permanece imóvel.
_ Por obséquio. – diz Choreilargado – você interrompeu minha piada.
_ Você precisa convencer Fronrel. – diz o Engravatado.
_ Convencê-lo de que? – pergunta Choreilargado.
_ Convencê-lo a cooperar.
_ Por quê? Ele já mandou vocês se fuderem pelo menos mil vezes?
_ Ainda não falamos com ele. – diz o Engravatado.
_ Então porque vem aqui?
_ Seria melhor se você fizesse isso, sabemos que ele não irá cooperar, e o faremos sofrer.
_ Mesmo que eu vá, ele não vai cooperar, ele tem um ódio mortal por tudo que vocês fizeram: A cidade, as pessoas, tudo. Antes ele já tinha o que podemos chamar de predisposição à sociopatia, agora detesta aquilo tudo com todas as forças.
_ Essa é sua resposta final? – pergunta o Engravatado.
_ Vá se fuder, nem sei por que estou te tratando com tanto respeito.
Enquanto este solilóquio se desenvolvia, vagarosamente, Linda se posicionava atrás do Engravatado.
_ Nem pense nisso, mocinha. – diz o Engravatado. – quando você moveu o primeiro centímetro eu já sabia seu intuito, já sabia seus planos. É melhor nem tentar.
Linda solta uma bufada e marcha de volta à parede lateral.
_ Se Fronrel não cooperar irá sofrer as consequências. – diz o Engravatado, colocando os óculos e dirigindo-se para a porta da cela.
Choreilargado mostra o dedo.
***

_-+TERCEIRO DIA+-_

Monquei acorda com um grito abafado vindo de algum lugar do prédio. Ainda está amarrado pelas mãos, mas desceram as correntes, de modo que podia sentar.
_ HEY! QUE GRITO FOI ESSE!...
Silêncio.
_ H-E-Y!
Silêncio.
_?
***
                Albinati, R. e Camaleão acordam com o mesmo grito abafado, porém, por estarem mais próximos da fronte, foi mais audível que o que Monquei pode ouvir.
                _ Parece que era algo como “não me estressa o que você tem pra parar. Quero lamber onde está meu pica-pau” – disse Albinati, com fronte intrigada.
                _ Talvez – diz R. – ficou muito abafado, não da pra ter certeza.
                _ Sou só eu ou essa voz é muito parecida com a do Fronrel? – pergunta Camaleão.
                Silêncio.
***
                Choreilargado ouve o grito abafado com certa preocupação. “Seria o começo das ‘consequências’?”
                Linda, que dormia, não acordou com o grito.

_-+ QUARTO DIA +-_

Choreilargado acorda. Há uma movimentação estranha do lado de fora da sala. Muito som de passos, ar de movimento. Choreilargado encosta o ouvido na porta, chama Linda.
_ Linda... Linda... LINDA! ACORDA.
Linda levanta-se de um pulo, sobressaltada.
_ Alguma coisa aconteceu. – diz Choreilargado.
_ Como assim?
_ Ouve só, há muito movimento lá fora.
_ E?
_ Bem, alguma coisa ocorreu. E se Fronrel cooperou com eles?
_ Cooperou com o que? Não há nada com o que cooperar, não somos um grupo organizado, uma sociedade secreta, nada; somos só desalojados sociais.
_ Não é bem assim... e se o Fronrel tiver se “rendido” ao lado deles?
_ Pouco prováv...
A fechadura se desarma e a porta é rapidamente aberta, a pessoa que a abre esboça visível surpresa, não esperava seus dois presos assim tão próximos da saída, este indivíduo portava uma arma.
Choreilargado liga o piloto automático no seu cérebro, era agora ou nunca. Aproveita-se da surpresa do indivíduo e puxa o colarinho dele. Linda entra no jogo e da um soco bem forte na cara do sujeito, que apaga.
Choreilargado checa o pente, oito balas. O alvoroço do lado de fora era tamanho que pareciam não ter percebido a pequena revolta.
_ Ok, hora de ferrar tudo.

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