Boneca quebrada esquecida embaixo da cama

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Charlie tem o destino nas mãos. Ele costumava se entupir de drogas, pintar as unhas de preto e cantar numa banda de rock n’ roll, mas a ilha privou-o do passado.
 Charlie tem cara de hobbit, mas seu pé é normal. Quando a ilha o testava, a tentação sempre era mordida. Ele finge que tem um pote de pasta de amendoim e come do que não há lá dentro com o dedo mesmo, a boca não sentindo aquela doçura que está ótima, se houvesse. Charlie tem a tatuagem mais legal do mundo. É uma frase, que diz, que canta: Living is easy with eyes closed. Isso é Beatles.
Você pode ter duas certezas na sua vida: quando o Charlie morrer, você vai chorar; quando o Charlie morrer de novo, definitivamente e ainda assim não definitivamente, você vai chorar outra vez.
 É. O Charlie e a boneca quebrada embaixo da cama não se relacionam. O Charlie vai ser lembrado para sempre e ela está esquecida embaixo da cama, no escuro colorido onde se abrem os vórtices que ligam nosso onde ao onde sem pétala na rosa dos ventos. Ao onde dos fantasmas dos objetos perdidos misteriosamente, como um poema que perdi, mas que deixou um souvenir: uma xerox mal tirada por não sei quem, a qual omite o título do poema e o começo dos dez primeiros versos.
Por baixo da porcelana da boneca, não sabia sua dona nem pensara jamais, mas há ossos e músculos e nervuras de gente. Seus cabelos são de barbante na realidade e no desenho também, preguei-os ali. Usei um balde de cola para endurecer tanta linha e pregá-las juntinhas. A cola espirrou no papel, por isso vê-se manchas brancas que lápis de cor algum pode passar por cima. Vendo de outro ângulo nem são defeitos essas manchinhas... São sombras de outros objetos perdidos nas profundezas desse embaixo de cama.   





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