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Ele já teve a vaidade de
achar que sabia escrever uma teoria sobre tudo, mas quando a simplicidade bateu
na frente e limpou da sua cara superpoderes falsos e demasiada erudição, só lhe
restaram as velhas flores de beirada de rua para desenhar, as que ninguém mais
nota de tanto notar pelo canto da visão.
E sua mente entrou em
colapso, porque tinha medo de alcançar a extravagância dos compositores do
modernismo de 22: fazer o simples virar vulgar, esquisito e maltratado. Duplo
colapso, porque teve medo de julgar as tais obras modernas do século passado por
vulgares, esquisitas e maltratadas, das palavras às tintas usadas, caindo num
limbo de anacronismo. Não sabia se escrevendo os grunhidos da fala de sua avó,
mesmo reconhecendo os significados deles, estaria sendo certo além de natural,
já que alguém ainda teria a postura de verificar seus erros. Não sabia se
repetindo as pétalas já desenhadas de todos os ângulos possíveis, estaria aprisionando
o mito banal dentro de sua própria definição de pintura.
Só sabia pôr o pronome
indefinido todo antes de tudo, para destacar a generalização e novamente
desenhar em letras outra teoria equivocada, vaidosa, sobre tudo. Sabia também
que autocrítica nunca foi ideia de simplicidade, principalmente se ela viesse dizer
sobre uma terceira pessoa significando a primeira. Sabia apontar o que sabia e
o que também não sabia, assim facilmente. Só olhava para si mesmo, por isso
muita coisa se referia a mesma coisa de sempre, e o que ia passando pelos lados
da rua não era percebido, à exceção das flores então.
Pois parou de fazer,
emudeceu-se, entorpeceram-se as mãos, endureceram-se as cerdas do pincel, assim
como a bolinha da ponta da caneta e o grafite do lápis, entrou em profunda
meditação: o que fazer, o que fazer, a quem perguntar. Ser bom bastante para
que época? Ser suficientemente bom para quem?
Fez de conta que não
existia mais ninguém no mundo, do mesmo jeito que o mundo agora faz de conta
que ele não existe, o mundo não aplaude, o mundo não sentencia o que a
sonoridade do seu nome assina embaixo. Ignorou o medo de cair na ilusão de
grandeza, de miudeza, de beatice, de chatice, de equívoco, de orgulho e de réu
prejudicado. Desenhou o que estava acostumado a fazer, mais flores, cheias de
vermelho desta vez.
Ótimo texto Eugênio. Abç
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