Blasfemar? Hoje não, Márcio


Sempre que uma criança nasce, nós tratamos de batizá-la naquele ritual primitivo e muito menos interessante do que uma iniciação maçônica. Se alguém morre, a explicação que damos aos pequenos é que o infeliz foi ao céu e, em alguns dos casos mais “abençoados”, ele até se torna uma estrela. Quando o papai não pode comprar um brinquedo qualquer, “se deus quiser” terá as condições para tal no futuro. Se o tempo fica feio, que “deus livre” a mamãe de pegar uma chuva. E por aí se seguem os deuses, as senhoras nossas, os cristos e os santos que são evocados a torto e direito.
A tudo isso estão sujeitas as pobres crianças, que não têm nada na cabeça senão espaço para absorver tudo que lhes for imposto. Estão sujeitas a ouvir até a exaustão essas expressões cujo valor semântico já foi para o além há um longo tempo, estão sujeitas a repetir maquinalmente orações que não conseguem nem mesmo entender e, o pior de tudo, estão sujeitas a sentir a culpa criminosa e torturante do pecado obsoleto e castrador.
Está certo que sou leigo nesses assuntos de espiritualidade e me dobro de esforços para tentar entender essas e outras coisas. Mas não consigo, em absoluto, conceber um deus que prima por obediência cega e adoração incondicional e injustificada. Se eu, que já não sou mais criança, não consigo compreender como funcionam esses processos dos deuses, imagine os novinhos! Por que esse deus ia querer o amor de alguém que nem faz ideia do que ele é?
É muito fácil vir justificar tudo isso dizendo que fé não é algo que se entende, mas se sente. Mas você é praticamente marginalizado se não for capaz de sentir o “toque” de Jesus. Tenho certeza que muitos desses que se dizem sensíveis estão só tentando escapar do tal ostracismo. E aí se vê o mesmo deus que oprime e exige subserviência. Esse deus combina perfeitamente com a sociedade medieval, com todos os senhores, servos, muralhas, temores e incertezas, mas não combina com a atual sociedade; talvez ele esteja fadado ao declínio, pois então oremos.
Voltando às “expressões santas”, só fui perdê-las há menos de dois anos. Aprendi a trocar “nossa senhora!” por um compacto “nóó!”, “deus me livre” por “sai fora, cara” e “Jesus!” pelo antiquado e consagrado “putz!”. Foi um grande esforço, eu confesso, largar disso aí, mas, se deus quiser, vai valer a pena...
Mas todo mundo sabe que Jesus é mesmo maneiro:

(Créditos ao Jesus Manero)

Um comentário:

  1. Excelente post!! ahauhauha
    Quando eu era criança e minha mãe falava que tinhamos que ir à igreja para a comunhão com Deus, eu perguntava na lata:

    - Mas não falam que Deus está em todo lugar?
    - Sim, ele está, mas a igreja é a casa do senhor e temos ir visitá-la. Vamos!
    - Não, ele já ta aqui, se eu for até lá, vamos nos desencontrar!

    Ela ficava P! da vida e me fazia ir correndo ou apanhava!
    Aliás, "ou você vaia apanhar" sempre foi a forma mais eficaz, juntamente com "ou você vai pro inferno", de educação cristã da minha época! AUHAUHAU

    Eu evitava falar os "grazadeus" e "nossinhora"!

    Abraços do Elfo! `^^´

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