A Morte

Há também quem diga que, para nós, é uma grande sorte que Deus não queira aparecer-nos por aí, porque o pavor que temos da morte seria como uma brincadeira de crianças, ao lado do susto que apanharíamos se tal acontecesse. Enfim de Deus e da morte não se têm contado senão histórias...”

(José Saramago – As Intermitências da Morte)

               

                Não é nem um pouco justo, de certo ponto de vida, condenar a morte como cruel. Poxa vida, imagine só se deixássemos de morrer? Ficaríamos cada vez mais velhos, se adoecêssemos com uma doença extremamente infernal (o câncer, por exemplo) iríamos ficar agonizando forever, se fossemos vilanovenses iríamos ser obrigados a aguentar o desgosto eterno. O Sarney nunca iria largar o osso público!

                Para pra pensar. Sem a morte, você não teria acesso ao paraíso. Eu nunca entendi direito por que famílias católicas choram o enterro de seus mortos. O CARA FOI PRO PARAÍSO! Se bem que ele pode ter ido pro Inferno. É, nunca se sabe.

                Acho que muito do misticismo que gira em torno da morte deve-se ao mundo que temos a nossa frente, É TANTA MERDA! TANTA MERDA! Que as pessoas são levadas a crer que não existe só isso, tem que haver alguma outra coisa. Eu, particularmente, vou processar Deus, ou quem quer que seja, se essa for sua única criação. Acho que isso explica o choro nos velórios.

                Sério, você aguentaria a eternidade nesse mundo que você tem bem diante dos seus olhos? E ainda tem coragem de blasfemar contra a morte? Não que eu queira morrer, não é isso. Só acho exagerada e contraditória a imagem que temos da morte.

                Arrisco a dizer, fugindo um pouco do assunto, que muito da literatura(ficção) só existe em virtude da insatisfação com a vida. Já parou pra pensar, a vida se resume a que? Nascer, estudar para ganhar dinheiro ( aprendizado é segundo plano), fazer uma faculdade, ser um bom profissional, tomar remédios para estresse, constituir família, viajar com ela para algum lugar absurdamente caro nas férias e morrer depois de velho. Se não tivéssemos ficção e Machado de Eugênio, acho que seria difícil de aguentar.

                Voltando ao tema original, só tenho uma crítica a fazer em relação a morte. Ela bem que poderia ser um pouco mais seletiva nas pessoas que vai levar, poxa! Olha só: Airton Senna, Betinho, Raul Seixas, Renato Russo, Keith Richards (Sim, ela já levou esse, só que o corpo, devido as drogas, recusa-se a cair), entre uma série de outros, quando na verdade deveria ter levado: Sarney, os produtores de música do século XXI, o Faustão e uma série de outros caras. Mas, como disse Saramago, “da morte não se têm contado senão histórias”.

               

“A morte... A morte é como... Antes estava, agora não está mais...” (José Saramago)

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