Luftballons


Noventa e nove balões vermelhos
Arrastam-se atrás de mim
Como sombras silenciosas dos meus cabelos
Que vão murchando assim como eu, enfim

E a luz do sol e dos pisca-piscas natalinos
Penetra a elástica pele dos noventa e nove
Fios de cabelo finos
Revelando a estática figura que não se move

Dentro de cada um dos balões escarlates
Um pedaço de papel rasgado
Em noventa e nove partes
Que se espalham - estáticas – no interior selado

(Quem nunca se aventurou
A colar um quebra-cabeça
De papéis que outrem rasgou
Naquela raiva que sempre passa
                        -
Não conhece o sabor de arrependimento
E certeza de acerto na boca
Que um dia beijou, pediu, deu alento
A outra boca)

Que palavra eu podia encontrar?
Que lembrança flácida e minha
Um papel rasgado podia mostrar
Senão as antigas de um poetinha?

Um alfinete no bolso, grande!
De um em um vou cutucando
Os quase cem balões de antes
E as palavras explodem, flutuando

Uma palavra é a íris; a outra é o arco
Várias terminam a semana
Outras terminam num barco
Mas quem apagou a luz da cabana?

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