Pós-Zumbis 3ª temporada (7)


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E agora?

                Estavam na mata.
                Sentados no leito de um pequeno córrego que por ali passava. Linda tomava um pouco de água, camaleão advertia-a sobre os riscos de se contrair um verme, R. estava aflita, estressada, queria saber onde Monquei estava, Albinati checava se Fronrel estava ok, Fronrel estava sentado escorado no tronco de uma árvore.
                _ Precisamos saber o que ocorreu ao Monquei. – diz R., aflita
                _ Não sabemos nem por onde começar. – diz Linda.
                _ Talvez devêssemos voltar àquela base e ver se há algo lá que possa nos dizer o que ouve. – retruca R.
                _ MADNESS! – grita Fronrel, erguendo um braço e, logo em seguida, caindo no chão. Albinati escora-o novamente na arvore.
                Todos ficam em silêncio após essa cena.
                Escorre uma discreta lágrima dos olhos de Albinati.
                O que ocorre, caros leitores, é que essa cena desencadeou o esfriamento sanguíneo geral, que, por consequência, lembrou-lhes que, além do desaparecimento de Monquei, um amigo havia morrido, e um outro não tinha, mas estava em um estado deplorável. Escorre uma lágrima dos olhos de Albinati. Albinati começa.
                _ É... é isso, acabou, estão todos morrendo... MORRENDO! E...e...e nós estamos tão pressionados que nem tivemos o real impacto disso...
                Ela começa a desesperar-se, começa balançar os braços aleatoriamente; leva-os ao rosto de vez em quando, limpa as lágrimas, torna a chorar, grita; então desaba. Cai de joelhos no chão amaldiçoando Deus e a existência, o Universo e a vida, o dia e a noite; tudo. Linda percebe que a cena está contaminando os restantes, “isso não é bom” pensa ela. Eles não podiam ficar descrentes agora, ela não poderia seguir sozinha, eles tinham de se manter “aqui”. Ela intenta ir até Albinati, mas é supreendida, pois Camaleão toma a frente. Camaleão agacha-se de frente a Albinati, que levanta debilmente o rosto para Camaleão; um tapa acerta-a em cheio.
                _ Não é hora para lamúrias. – diz Camaleão, com a voz mais gélida do mundo. – Sim, nós vamos sobreviver. Você acha que não somos bons o bastantes para seguir em frente? Perdemos alguns, mas e daí? Controle seu choro, levante-se e vamos, ainda é dia. Agora, vamos dar um jeito de sair daqui. Se você desistir agora, só está tornando a morte dos que ficaram para trás inútil.
                _ E onde exatamente... é aqui? – Pergunta Linda.
                _ Bem... – começa camaleão, mas a verdade é que não sabia, ninguém sabia. – é melhor seguirmos em frente. – diz ele, tentando mudar de tema.
                _ Isso pode ser uma floresta fechada, não temos ideia do que seja. – argumenta R.
                _ Voltar é um risco muito grande. – retruca camaleão. – vejamos, vimos que na saída da base havia uma estrada, como seguimos à quase exata direita, se seguirmos reto naquela direção. – diz ele apontando para onde seria uma suposta reta paralela à saída da base. – podemos encontrar alguma rodovia ou coisa parecida.
                Na ausência de plano, qualquer plano valia.
                Começaram a marchar; Fronrel ia sobre as costas de Camaleão. Iam, motivados apenas pela necessidade de provarem que podiam seguir em frente, pois tudo, tudo havia dado errado. Haviam se gabado tanto, se enaltecido tanto. E foram pegos em um simples “dia de compras”.
                Após muito andarem, saíram em uma rua e viram algo que lhes surpreendeu.
“CANDANGOLÂNDIA”
--AQUI NASCEU BRASÍLIA—
                _ Puta merda, estamos em Brasília. – diz Linda.
                _ Em candangolândia, para ser mais precisa. – diz Albinati.
                Estavam mais próximos do que imaginavam.
                _ E agora? – pergunta R.
                _ Agora – diz Camaleão – nos abrigamos. Precisamos de uma condução.
                _ E onde iremos “nos abrigar”? – pergunta Linda.
                _ Bem, existem uns conjuntos habitacionais em Taguatinga, não deve ser difícil arrumar um por uma noite. – diz R.
                R. residiu um tempo em Brasília.
                A verdade é que nossos heróis tentariam achar um cômodo inabitado em um desses conjuntos e o invadiria até que alguém os descobrisse. R. estava aflita, não tinha notícias sobre Monquei e nem haveria como consegui-las. O que preocupava Camaleão, além de tudo que estavam passando até então, era a ideia de que seus carcereiros já deviam ter conhecimento da fuga e, por consequência, já deviam estar acionando os meios para recapturá-los.
                Seguiram até a cidade, o que não foi um trajeto pequeno. Lá, estando todos já em frangalhos, encontraram uma Brasília, o carro, velha, parada em um ponto onde travestis se prostituiam, e com um senhor idoso e bêbado dentro. Camaleão chegou lá, retirou o velho de dentro do carro e só depois percebeu que o pobre homem estava morto. Havia muito sangue nas suas partes baixas, o que levava a crer que em dado momento de alguma acrobacia sexual ousada ele tenha se dado mal.
                O narrador sabe a história e conta-a rapidamente: O velho homem estava sentado com as pernas para fora do carro recebendo sexo oral, e enquanto a (ou “o”) travesti fazia o “trabalho” estendeu a mão, exigindo recebimento pela devida prestação de serviços, o homem, embriagado, simplesmente riu e disse não ter o dinheiro. Foi o bastante para a travesti morder profundamente o seu “membro” fazendo assim com que ele se irritasse e desferisse um tapa na face dela (dele). Assim, a travesti sacou um pequeno canivete e perfurou, acidentalmente, a artéria femoral do velho e, assustada pela colossal vazão de sangue, vasculhou rapidamente os bolsos do velho e, pegando os trocados ali velados, foi embora.
                Camaleão não tinha tempo para lamuriar a morte alheia, já tinha os próprios problemas e mortes para lamentar. Jogou o velho para fora do carro, deu partida no carro, que já estava com chave na ignição, e saíram rumo à Taguatinga. Conjecturou que, se fossem pegos com aquele carro, a morte do velho recairia sobre seus ombros, mas lembrou também que esse seria o menor dos problemas deles nesse novo mundo.
                Chegaram à Taguatinga, já era por volta de seis da tarde, não foi difícil achar um bloco habitacional, tão pouco achar um “apê”. Camaleão teve o cuidado de deixar o carro em um local discreto.
                Entram no cômodo. Evitam alardes, tinham de ser discretos. O cômodo estava vazio, tinha apenas dois sofás de três lugares, um fogão de quatro bocas, mas que não tinha gás; e um chuveiro elétrico, mas não havia energia. O que impedia o local de estar totalmente escuro era a luz do poste de rua que entrava pela janela. Camaleão descarrega Fronrel no sofá menos empoeirado. Fronrel não cai, como era o esperado, fica apenas estático, com as mãos pousadas nos joelhos, ereto como aquelas revistas de fisioterapia dizem ser o indicado, com os dois pés firmes no chão e com um olhar vidrado. Os quatro que estão ali além dele se assustam com a cena, têm medo de algum eventual descontrole, passam a considerar que talvez, embora até agora não tenha feito nada demais, ele seja um risco, que sua imprevisibilidade pode por fim a vida de todos. Todos pensam, mas nenhum diz.
                De repente ele ergue a mão direita, com o indicador para o alto, como se estivesse em uma sala de aula e pedisse a palavra.
                _ É...é...é... – ele dá uma piscada forte e uma pigarreada, como se as palavras custassem lhe sair da boca. – é... um absurdo não... – diz ele, tremendo. – é um absurdo, eles vêm, vêm, desmatam e dizem que reflorestam, mas eles tiram uma mangueira e plantam um pinheiro, é sempre um pinheiro, um maldito pinheiro; vocês sabem não sabem? Esses pinheiros são transgênicos, eles crescem duas vezes mais rápido... é absurdo demais, dema...
                Então Fronrel começa a chorar, não um choro escandaloso, mas aquele choro engolido, como uma criança que é repreendida pelos pais. Todos estão incrédulos com a cena, R. vai até ele, agacha-se na sua frente e pergunta:
                _ Porquê você está chorando?
                Depois de um tempo considerável ele reponde.
                _ Eu não sei... – levando lentamente as mãos ao rosto.
                Então ele levanta e vai até a janela e fica olhando por um bom tempo.
                _ Esse… esse lugar cheira a lavanda... alguém deve ter preparado o quarto para nós antes de chegarmos aqui, deve ter sido a camareira... eu… eu odeio lavanda, porque ela borrifou bom ar de lavanda? Eu prefiro um incenso, ela sabe disso, ela sabe disso e mesmo assim borrifou lavanda... Porque tudo tem que ser tão difícil. – volta a chorar e tremer. – porque as pessoas não escutam umas as outras.
                Agora ele coloca as mãos nas orelhas, como se sua cabeça doesse.
                _ vamos embora, por favor pessoal, eu não vou pagar por um quarto com cheiro de lavanda, nem vou dar gorjeta para essa camareira... – sua voz era trêmula, ele levava a mão como se mostrasse o quarto para os companheiros, ele chorava.
                _ Fronrel, não estamos em um hotel, esse cheiro não é de lavanda, é mofo. – tenta Linda.
                Fronrel arregala os olhos e olha incrédulo para Linda.
                _ A não... mofo. Mofo não, mofo é o pior… eu vou me intoxicar, o mofo atrofia os brônquios, os brônquios... a não, não posso perder meus brônquios. – ele falava baixo, mas andava para lá e para cá, visivelmente desesperado. – e as fossas nasais, o mofo obstroi... obstroi as fossas na...sa...is. A não, vamos morrer por falta de ar, vocês sabem que essa é uma daquelas mortes que ninguém que...
                Albinati, que até então estava no canto dela, chorava ao ver aquela cena. A fala de Fronrel foi interrompida porque ela foi até ele e deu-lhe um grande tapa na cara. Ele fica chocado com aquilo, leva a mão à cara e lá a deixa por um longo tempo.
                _ Fronrel... – diz ela entre soluços. – para... volta... por favor... volta.
                Fronrel não respondia, ela ergue o rosto para ver se havia alguma reação.
                Ele havia dormido, havida cochilado enquanto ela o abraçava.

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