Lost for words


                Às vezes não é simplesmente estranho olhar diretamente nos olhos de alguém durante uma conversa? É difícil e, por isso, seus olhos buscam refúgio em qualquer coisa ao redor. Não sei o que Freud disse ou teria a dizer a respeito, mas acho que ele diria que isso é só mais um complexo com um potencial nome grego e uma manifestação das nossas inibições sexuais. Talvez Marx dissesse que nós somos, desde pequenos, condicionados a evitar o contato visual porque, dessa forma, a intimidade seria erradicada e com ela a conspiração. Nietzsche diria, com toda a certeza, que prefere acreditar em globos oculares que dançam tango do que em contato visual.
                Mas já tentou encarar um cachorro? Ele não desviaria os olhos dos seus. Ele não tem complexas expressões faciais para esconder. Um cachorro vai olhar nos seus olhos e deixar que veja tudo o que tem ali dentro até que você se canse. Mas por quê? Porque cachorros não sabem falar. E, portanto, não abandonaram as mais primitivas formas de comunicação: a visão, o tato e o olfato.
                É muito mais fácil falar e falar do que ver. É mais fácil ouvir dando as costas do que dar asilo ao olhar de alguém dentro do seu próprio.
                Por isso o olhar de um cachorro é tão sincero, porque isso é tudo o que ele tem. Ele não sabe da mentira ou das figuras de linguagem. Ele vê e sente, vê e sente. E depois nós é que somos o que há de mais sofisticado e bem sucedido na natureza?
                E isso tudo é só uma confissão. Eu não sou bom em falar, nem verdade nem mentira. E uma das minhas resoluções de ano novo foi só ganhar na próxima mega-sena acumulada.

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