Eu sei que sou repetitivo, sim,
desculpem-me os pouquíssimos que leem o que escrevo; sei que sou repetitivo e
sei também que nem o tema repetido é interessante e nem agrada a quem quer que
esteja aí do outro lado. Mas, em minha defesa, não há nada mais na minha vida
do que a falta de coisas. Não posso começar a escrever mentiras disparatadas,
falar de amores fáceis e bem resolvidos, de bocas escancaradas e cheias de
dentes donde saem risos e não gritos de desgraça, de contentamentos, enfim.
E esse é o problema mor dos
problemas existentes, se é que problemas há: a frivolidade de tudo, tudo, até dos
primordiais direitos que assistem ao homem; não sobra pedra sobre pedra dos
antigos palacetes do deleite humano. Bem, pelo menos para mim; se nada do que
leu acima chega perto da realidade do atento leitor, que me desculpe a
confidência e que passe adiante com os seus risinhos – justificadíssimos – de
escárnio causados pela minha miséria tola.
Tudo são coisas pequenas, tudo
são frivolidades. Onde é que vamos parar, posto que não já paramos, antes de
nos trazerem espelhos e virmos um mundo doente? Mas isso também é uma
frivolidade da minha parte, não sou ninguém que devia ficar a filosofar a
respeito dos rumos de todos nós; devia ocupar-me das coisas essenciais, de
estudar o bastante para poder estudar mais um pouco numa universidade, de
arrumar um diploma para ostentar num curriculum – frívolo, frívolo – e poder,
finalmente, ver-me empregado. E depois? Depois, com os salários devidos de
alguém estudado, comprar tudo aquilo que me disseram ser o meu próprio sonho.
E, quem sabe, ter um filho. Cena mais linda entre todas as cenas é essa: a
natureza, primórdio de tudo, que se multiplica! Mas o que mais se multiplica
senão as frivolidades? Não, não estou certo de que quero ser o vil
responsabilizado por colocar mais uma pessoa dentro da ilusão do tudo e na
crueza mascarada do nada.
Também não quero viver a vida dos
outros, quero viver a minha. E aí mesmo está mais uma das babaquices do mundo:
visto que todos vêm do nada e para o nada retornam (do pó vieste e ao pó
retornarás!), não há uma singela existência para cada ser miserável, há só uma,
e ela é tão chata. Não pedi para nascer, nasci; não pedi para morrer, morrerei.
Que sorte, não, que fortuna é essa, meus companheiros do nascer e morrer sem
ser perguntado?
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