E a Ira desperta
O leitor sabe o que é perder um
amigo? Você, sentado ai na sua cadeira lendo estes textos mal escritos, já
sentiu a dor de perder alguém que sorriu com você, que compartilhou com você, que
chorou com você? Você já teve alguém assim que, sem mais nem menos, foi embora?
É como uma ligação que cai, só que sem chance do telefone tornar a chamar. A
dor no peito é quase dilacerante. Mas o que poucos, acho que nenhum, devem ter
visto é o amigo virar uma peneira, uma taboa de pirulitos orgânica, bem na sua
frente, alvejada incessantemente por chumbo, sons e pólvora e dor e grito e
ultimo suspiro. E Morte. E ver isso tudo sem fazer nada? Sem nem sequer dar um
passo, que você sabe ser em vão, de tentativa? Não senhor, nem os mais frios,
os mais calculistas, os mais racionais, conseguem proceder de tal forma, e não
é diferente com Camaleão.
Camaleão era a síntese, a definição inquestionável,
por assim dizer, da cólera, da dor, do rancor e do ódio, da raiva e da vendeta;
ora, se era assim tinha de fazer jus a própria definição, foi o que fez.
Camaleão era grande, sua mão pesava, e nesse momento era o verdadeiro martelo
divino dando o veredito de morte às cabeças moles e disformes dos soldados mais
próximos. O Homem admirava a fabricação fast
da tábua de pirulitos humana, os soldados que disparavam estavam tão
concentrados e surdos pelo barulho que nem se deram ao trabalho de virar e
olhar um certo indivíduo que se aproximava, “ele que viesse, temos armas”
pensaram eles, o que nos leva a uma retórica interessante: É evidente que
chances reais contra um exercito daqueles o Camaleão jamais teria, mas a de se
considerar uma certa subestima por parte dos soldados, já que, provavelmente,
eles nunca enfrentaram alguém que não tem medo da morte (que é exatamente o que
a ira, em estágio avançado, trás à nós), e olhar nos olhos de uma pessoa e não
ver ali o mínimo da dúvida, o mínimo do medo, é realmente alarmante, mas só se
percebe quando já se está cara a cara, e ai, meus amigos, já é tarde.
Os que estavam com Poeta K. se dispersaram, alguns
correram para fora, um mínimo ficou e tentou, em vão, lutar. Mortes, chumbo
escarrado sem dó nem clemência das quentes bocas das armas, que já vermelhas
estavam, em função da temperatura.
Camaleão é só sede, sede de sangue. Derruba um, dois,
três. Lembra o personagem Marv, de Sin
City, pensa Fronrel, que por uma fração de segundos ficou embasbacado com
toda aquela cena. Um soldado tenta erguer a pistola contra Camaleão, este o
desarma e pousa sua mão na cabeça do mesmo, o derruba no chão, o estalo seco e
choco da a impressão de algo se partindo, talvez um osso, e Camaleão esmurra o
rosto dele, esmurra até que só reste gemada.
_Ora de por ordem na casa – Diz o Homem
Fronrel acorda do lapso momentâneo, ergue seu
revolver, mira no Homem... Dispara... Somente um clique seco.
_Sem balas!?
Alarmado, Fronrel saca sua katana. O Homem saca uma
pistola de dentro do paletó, aponta pro Camaleão.
_Merda! – “Não vai dar tempo”, pensava Fronrel, não
ia dar tempo. Ele acelera o passo, seu coração é bomba, ele tinha de chegar lá
a tempo
O Homem vira o rosto, com uma vagarosidade digna da
arrogância, olha para Fronrel, ele sabe que tem o jogo nas mãos e que vai
ganhar, aproveita para tirar um sarrozinho de Fronrel. Ainda olhando para
Fronrel o homem dispara. Vira o rosto vagarosamente e percebe que seu alvo não
está caído, mas sim uma jovem moça.
_ALBINATI! – Grita Fronrel. “Que merda, o que é que
ela foi fazer ali?!” – mas Fronrel não pára, nem sequer fraqueja, talvez não
por não ter se sensibilizado, mas sim pois havia acelerado tanto que ficou
difícil brecar.
O Homem perdeu a concentração, olhou por meio segundo
a mais em virtude da supresa para seu alvo e, ato contínuo, perdeu. Fronrel
decepa-lhe a mão que segura a pistola, seu braço vira uma ducha groselha.
Simultaneamente, no alvoroço daqueles que ficaram
junto com Poeta K. (e que por isso serão lembrados no futuro), um deles pega
uma granada, tenta tomar distância para lançá-la naquele contingente, é
abruptamente interrompido por uma bala que lhe defasa a clavícula esquerda,
“porra nenhuma, é só uma dorzinha de nada”, a granada estava na mão direita,
ainda tinha uma chance. Outro tiro veio, dessa vez na boca do seu estomago,
“vamos, só mais um pouquinho”. Outro veio, no seu peito, lado direito, mas este
bastou, ele deu dois passos rápidos para trás com o impacto do chumbo e não
percebeu o corpo logo atrás de seus pés. Tropeçou. A granada voou da sua mão em
angulação perpendicular ao chão, e subia leve como um balão. Toca o teto e
explode. O teto desaba. Uma nuvem de poeira toma o local.
Camaleão nem se deu conta de todos estes eventos,
estava a socar todos que via. Fronrel chegou nele e tocou-lhe o braço:
_ A gente tem que sair daqui, e rápido!
_ME DEIXA! – Camaleão disse isso com um empurrão “mediano”
em Fronrel
Agora é Fronrel quem começa a perder a paciência, sua
visão já estava severamente prejudicada pela poeira que se ergueu, ele corre e
se joga em cima de Camaleão. As modestas forças físicas de Fronrel não são
páreas para aquele trator, ele é facilmente jogado a escanteio. Tenta de novo.
Quando esta pra pular novamente em camaleão, Monquei aparece, parece ter tido a
mesma ideia. Ambos conseguem, com muito esforço, parar a investida louca de
Camaleão. Fronrel pega a albinati, que estava desacordada, e a coloca nos
braços.
_ A gente tem que sair daqui, agora! – disse Fronrel
_ Porra, e pra onde a gente vai?!
_ A única saída é a porta da frente ou tentar ir
pelos corredores anexos, vamos por aquele – aponta à direita – a munição e o
armamento estão lá.
Eles se moveram, mas... Camaleão não saiu do lugar.
_Vamos! – Gritou Monquei
Camaleão não respondia, ainda tinha uma cara fechada,
parecia estar em estado de choque. Monquei correu até ele e desferiu-lhe um
soco muito forte no rosto.
_ACORDA, CARALHO! Se você quer se matar Ok! Mas diga
isso em alto e bom som pra gente não ficar com peso na conciência depois!
Monquei tem um “estalo” e para de repente, também.
_ Vão indo para lá – Disse Monquei – Eu preciso achar
a R., se eu não chegar lá em 20 minutos vocês saem!
O que Monquei provavelmente esqueceu era que ninguém
ali possuía um relógio, ou talvez ele confiasse tanto que a encontraria em
pouco tempo que talvez não precisasse nem de 10 dos 20.
Camaleão parecia ter acordado. Alguns soldados ainda
estavam vivos e continuavam atirando, não sabiam nada senão seguir ordens e seu
comandante havia morrido sem dar o cessar fogo, iriam continuar a atirar até
que tudo morresse e/ou desabasse ou até que a munição acabasse. Camaleão e
Fronrel, com Albinati desacordada, começam a andar. A poeira começava a baixar,
eles aceleram o passo. Fronrel comenta:
_Quase l....
Um tiro interrompe seu animado comentário, mas não
pelo som, disso o ambiente já estava saturado, mas sim pelo fato de ter lhe
atingido. Fronrel cai, Albinati cai. Fronrel grita. Fronrel sente uma ardência
tremenda e uma fadiga que transcende o suportável. O tiro pegou de raspão na
sua face. O tiro comprometeu seu olho esquerdo. Sua visão estava embaçada, era
puro vermelho.
_AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAACARALHOAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAMERDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAPORRAAAAAAAA.
Camaleão não sabia o que fazer, pegou a Albinati, a
jogou no ombro e, em um misto de urgência e falta de tato para com a situação,
disse:
_Levanta, cara! FOI SÓ UM ARRANHÃO DE MERDA! LARGA DE
CHORAMINGAR E ANDA!
Dito isso, estende a mão a Fronrel, este, com uma das
mãos no olho esquerdo e ainda gemendo um pouco, agarra e se levanta. Não está
acostumado a esta visão parcial, é demasiado problemática e acarreta uma série
de pormenores aos quais devera se adaptar o mais rápido possível.
Monquei encontra R., ela estava em um canto, um tanto
apavorada, mas se esforçou para não gritar e foi bem sucedida. Naquela área, a
poeira ainda formava uma cortina, então Monquei não teve grandes problemas em
passar despercebido com R.
Fronrel sentia um tremendo incômodo na sua fronte
esquerda. “Que inferno” pensava ele “por que essa merda tinha de ocorrer justo
agora?”. Albinati não era o que se pode chamar de amizade extremamente próxima,
mas Fronrel se importava com ela, tinha certo contato nos tempos, agora longínquos
na mente de Fronrel, de colégio, ele não queria que ela morresse. Chegam ao
corredor. Camaleão fala:
_Ela não parece estar muito legal, cara, é melhor
irmos logo.
_ Caralho, eu sei, só que não podemos abandonar o
Monquei e a R..
_ Não precisam esperar por nós, não mais.
Era Monquei. Fronrel se apressa, pega a flanela que
estava junto a sua guitarra e amarra cobrindo o olho esquerdo. Camaleão começa
a distribuir os armamentos, R. recusa, não por indisposição à colaborar, mas
sim por medo de não manusear corretamente e acabar atrapalhado. Fronrel
recarrega seu revolver, era um luxo perigoso, afinal revolveres são menos
práticos no quesito recarga, mas tinha duas coisas que lhe faziam optar por
essa arma: Potência e Estilo. Camaleão pega uma cartucheira. Monquei opta por
um par de uzis. Fronrel toca as costas e agora percebe algo. “MERDA”, a katana
não estava lá, de certo a perdeu quando foi baleado. Apesar da cartucheira,
Camaleão era se reservou a carregar Albinati, que estava viva, mas
impossibilitada.
_ Certo, se seguirmos por aqui, chegaremos à saída de
funcionários, a uma boa chance de estar limpa. – Disse Fronrel.
Foram. Fronrel começa a andar, mas vacila, olha para
trás, sua guitarra, sua estimada guitarra estava ficando, talvez uma das poucas
coisas a qual realmente tinha apego. Adiantou o passo.
Alcançaram a luz, o ar fresco, agora precisavam de um
veículo. Ouvia-se o caos e os tiros, vinha do portão principal. O som de alguns
carros sendo ligados sugeria que algumas pessoas estavam fugindo. Fronrel
pensava em uma maneira de avisar o Japonês e a Bibliotecária. Honestamente
falando, não morria de amores por muitos dos sobreviventes, óbvio, se
eventualmente os encontrasse, andaria lado a lado com os tais, mas ficar
queimando a cabeça para reunir todo mundo de novo? Provavelmente não agora. Era
até melhor assim, afinal, mostrava que o propósito da reunião, mesmo
interrompida, havia se concretizado.
Fizeram uma curva bastante aberta por dentre o jardim
lateral da contrução para não serem vistos. De lá tinham uma visão parcial do
que estava acontecendo, os soldados estavam confusos, não sabiam o que fazer,
atiravam com um visível ar de incerteza; haviam muitas pessoas, sobreviventes, caídas,
provavelmente mortas.
Chegaram a um carro, o mesmo que trouxe Fronrel de
volta. Abriram vagarosamente as portas e entraram. Antes de dar partida Fronrel
disse:
_Monquei, prepara essas armas, se por ventura eles
nos ouvirem, você tem que atirar, atirar com vontade.
Monquei nada disse, e nem era preciso. Todos se
abaixaram, menos Fronrel, que precisava enchergar para dirigir, mas se curvou
um pouco, por precaução. Deu partida, curiosamente eles não ouviram, e a de se
relatar o notório fato de que o carro era realmente muito barulhento. Fronrel
engata a primeira marcha, todos suspiram aliviados, Fronrel acelera
vagarosamente, o carro atropela uma latinha de alumínio. Todos os soldados
viram para eles. Por um momento fica aquele silêncio... Embora estivessem com
um capacete que lhes cobria o rosto, era visível o ar de despeito que emanavam.
Deram de ombros e ergueram as armas. Fronrel engata ré, Monquei ergue as uzis.
Eles engatilham as armas. Fronrel acelera com toda força, apesar de atrás dele
não ter uma estrada, não teria problemas, uma vez que era um tremendo campo
aberto. Eles desparam, monquei também. As armas que portavam, ambos os
combatentes, tanto Monquei quanto os soldados, eram armas projetadas para
curtas distâncias, de modo que as balas variavam muito sua trajetória ao longo
do caminho; causa e efeito, poucas balas, duas, para ser exato, atingiram o
carro, uma no farol, e outra no pneu.
O carro estava instável, fora do asfalto e com uma
das rodas comendo borracha, mas conseguiram adentrar à BR. Albinati sangrava
menos, Camaleão fez o possível para parar o sangramento.
Fronrel pensa no Poeta K., talvez ele devesse receber
alguma homenagem, alguma honraria, coisa que valha. Quando parassem o carro
iria pensar melhor no assunto, tinha que se concentrar no carro com um
pneumático a menos.
Monquei e R. entrelaçam os dedos. Fronrel, como
aspirante a cientista social que era, sempre foi da opinião de que, no
casamento, o maior laço que une é a dificuldade, uma vez que a dificuldade é
compartilhada por ambos, vivida por ambos, e por ambos superada, o laço se
torna tão forte que muito provavelmente só será quebrado quando um dos dois
vier a vestir o terno de madeira, a última vestimenta que as pessoas vestem;
quando não são cremadas, evidentemente, ou quando são vikings, nesse caso o corpo
é colocado em um barco e posto a descer o rio, às vezes queimando, às vezes
não; e nos milhares de outros casos aos quais não irei me ater.
Camaleão pensa na morte e em como ela corroe por
dentro.
Albinati começa a enxergar o túnel branco, mas
adianto-lhes que ela não morrerá, alguns podem achar que é um abuso o narrador
revelar fatos futuros, mas digo-lhes que faço por um único motivo, não queremos
ver mais mortes tão cedo, muito embora eu não possa assegurar esse desejo.
PRÓXIMA PARADA, HOSPITAL!
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Ps: Feliz dia da in-dependência. Às margens do rio Ipiranga, Dom Pedro tomou banho tcheco e nos tornou pátria.
PPs: Agradecimentos especiais, mais uma vez, ao nosso parceiro TOP EVER! o Humor Ateu!PPPs: Leiam a crônica enviada pela nossa leitora Sunrise!
Comentem!
A Albinati só aparece pra tomar um tiro! É bem a cara dela kkk
ResponderExcluirrsrsrsrs.... pow, mas que isso... ela nem morreu, vai ter um papel importante na história...XD
ResponderExcluirVoce falando do meu papel na historia, marco --'
ResponderExcluirIaan, eu ameeei mesmo *--* e to super contente porque agora vou continuar na historia. Obrigaaada :DD E eu adorei ter levado um tiro \o
Eu não tenho nada à reclamar desse blog, não mesmo ! (:
ResponderExcluirPronto. o Fronrel ficou com look de fodão com um tiro nos zoios *-----*
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